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Hezbollah exige fechamento do inquérito sobre a explosão em Beirute

17 de outubro de 2021, às 09h18

Protesto exige justiça pela explosão no porto de Beirute, em frente ao Palácio da Justiça, na capital libanesa, em 13 de outubro de 2021 [Mahmut Geldi/Agência Anadolu]

Redes de imprensa filiadas ao grupo xiita Hezbollah — por sua vez, ligado a Teerã — ecoaram demandas do movimento pelo fechamento absoluto do inquérito independente sobre a enorme explosão que devastou Beirute, em agosto de 2020.

Nas últimas semanas, a investigação em curso e o eventual julgamento incitou tensões sectárias e mesmo violência nas ruas da capital libanesa.

Em artigo publicado no website Al-Akhbar, na sexta-feira (15), seu editor-chefe Ibrahim al-Amin foi um passo além de sua oposição contumaz ao juiz Tarek Bitar, responsável pelo caso, ao reivindicar o encerramento total da investigação.

Notório por seus editoriais controversos, al-Amin mencionou os violentos confrontos que ocorreram nesta semana, nas ruas de Beirute, durante um protesto organizado por apoiadores do Hezbollah e do movimento xiita Amal.

Segundo o relato do Al-Akhbar, ao chegar no bairro cristão de Tayouneh, a marcha foi recebida por franco-atiradores, o que resultou em retaliação por parte do Hezbollah.

Sete pessoas morreram na troca de tiros, mais de 30 ficaram feridas.

Al-Amin então escreveu: “Após tudo que aconteceu … após os crimes cometidos ontem, a liderança da resistência [Hezbollah] … deseja o seguinte: primeiro e mais importante, o fechamento do processo insano liderado por Tarek Bitar”.

Segundo o artigo, o movimento xiita demandou ainda “o julgamento daqueles que planejaram, distribuíram ordens e executaram os assassinatos de Tayouneh”, além de “responsabilizar aqueles que negaram proteção aos manifestantes desarmados”.

Bitar é o segundo juiz a assumir o inquérito sobre a explosão no porto de Beirute, após seu antecessor ser exonerado em fevereiro, sob forte pressão de grupos e ministros xiitas e sunitas, possivelmente investigados pela comissão judicial.

Bitar, não obstante, reuniu em particular a oposição do Hezbollah, que o acusa de enviesamento por convocar políticos aliados ou filiados ao grupo.

Em meio às diversas crises que assolaram o país no último ano — incluindo colapso da moeda nacional, escassez de bens essenciais e blecautes —, muitos libaneses consideram o movimento xiita como um dos catalisadores dos problemas em questão.

Além disso, o evidente repúdio do grupo ao inquérito independente renovou suspeitas de seu envolvimento na catástrofe, ao menos na corrupção pública e sistêmica que permitiu o armazenamento indevido de toneladas de nitrato de amônio no porto.

Neste contexto, portanto, as demandas do Hezbollah e entidades aliadas, como o Al-Akhbar, para desmantelar a investigação por completo, devem agravar tamanha desconfiança e a subsequente crise na sociedade libanesa.

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