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Ex-premiê é eleito Presidente da Argélia, mas protestos de massa devem continuar

13 de dezembro de 2019, às 12h16

Votos são contados após fechamento das urnas para as eleições presidenciais na Argélia, em 12 de dezembro de 2019 [Farouk Batiche/Agência Anadolu]

Abdelmadjid Tebboune, ex-Primeiro-Ministro da Argélia, foi eleito novo presidente do país nesta quinta-feira (12). As autoridades argelinas tinham esperanças de que as eleições pudessem dar fim aos meses de levantes populares no país; entretanto, manifestantes que depuseram o predecessor Abdelaziz Bouteflika prometeram manter as manifestações. As informações são da agência Reuters.Tebboune, que serviu como Ministro da Habitação e, brevemente, como Primeiro-Ministro sob o governo de Bouteflika, rompeu com o ex-presidente após desentendimentos com magnatas da elite político-econômica que apoiavam o então governo.

Nesta sexta-feira (13), o ex-premiê foi anunciado como vencedor das eleições presidenciais no primeiro turno, pois obteve mais da metade dos votos (58,15%).

Autoridades afirmaram que 40% dos eleitores registrados na Argélia participaram das eleições desta quinta-feira. Segundo a mídia estatal, este número é suficiente para que os representantes eleitos reivindiquem os resultados e preservem o pleito, apesar de um grande boicote popular.

Manifestantes enxergam a disputa entre apenas cinco candidatos oficialmente sancionados como um esquema ilegítimo para manter a velha elite governante no poder. Espera-se que milhares de manifestantes tomem as ruas em protesto contra o resultado.

As autoridades – incluindo o poderoso exército argelino – argumentam que a única maneira de levar o país adiante após protestos derrubarem os vinte anos de governo de Abdelaziz Bouteflika, em abril de 2019, é eleger um sucessor.

Protestos semanais que depuseram Bouteflika não pararam desde então. Manifestantes exigem a deposição de toda a elite política, para dar espaço a uma nova geração, embora não pareçam ter um líder evidente que seja capaz de representá-los. Os manifestantes referem-se a si mesmos simplesmente como “hirak”, isto é, “o movimento”.

Entre os adversários de Tebboune estavam outro ex-primeiro-ministro, dois ex-ministros e um ex-membro do comitê central do partido do governo.

Manifestantes tomaram as ruas por toda a Argélia também no dia das eleições, nesta quinta-feira. Em alguns locais, houve confrontos com a polícia, que tentou dispersá-los com cassetetes.

Mais tarde, ainda nesta quinta-feira, o órgão responsável pelas eleições na Argélia declarou que nove milhões de argelinos participaram das eleições.

“A participação é satisfatória e dará ao novo presidente apoio suficiente para implementar suas reformas,” alegou Ahmed Mizab, comentarista na televisão estatal. Mizab elogiou a decisão de realizar eleições nacionais na atual conjuntura argelina como algo “propício e correto”.

Por outro lado, Riad Mekersi, de 24 anos, que participa dos protestos “hirak” desde 22 de fevereiro deste ano, na capital Argel, afirmou que movimento continuará a crescer não importa quem vença. “Depusemos Bouteflika e derrubaremos todos homens do sistema. Não iremos desistir,” afirmou Mekersi.

Mesmo se não houvesse controvérsias ou dúvidas sobre a legitimidade da sua eleição, Tebboune enfrentaria tempos difíceis para governar.

Quase todos os recursos do estado argelino são provenientes de exportações de petróleo e gás, as quais declinaram tanto em preço quanto em volume nos últimos anos. O governo já aprovou um orçamento para 2020 com um corte de 9% nas despesas públicas, embora subsídios de caráter político particularmente delicados permaneçam intactos.