Em um comunicado divulgado na quarta-feira desta semana, a Anistia Internacional abordou as consequências do genocídio israelense em Gaza e da Tempestade Byron, que expôs ainda mais a destruição do enclave, com o desabamento de moradias já bombardeadas, inundações em tendas e a morte de mais palestinos.
Guevara Rosas observou que tanto o genocídio em curso de Israel quanto a recusa em permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza agravaram as consequências das inundações.
“A devastação e as mortes causadas pela tempestade em Gaza representam mais um alerta para a comunidade internacional, pago com as vidas de pessoas que conseguiram sobreviver a dois anos do genocídio israelense”, afirmou Erika Guevara Rosas, diretora sênior de pesquisa, defesa, políticas e campanhas da Anistia Internacional.
Mas será que é mesmo um alerta? Há um certo egoísmo em permitir que os palestinos em Gaza sofram apenas para que o mundo acorde e nunca desperte de seu sono perpétuo autoimposto. A Anistia Internacional está certa em apontar o contexto, mas a organização também demorou a denunciar formalmente o genocídio israelense em Gaza em dezembro de 2024. Embora investigações e pesquisas devam de fato acontecer, as organizações de direitos humanos estão espelhando demais o engajamento diplomático ao não denunciarem o óbvio antes, para só emitirem uma declaração mais de um ano depois. Isso levanta a questão: onde está centrada a narrativa de Gaza? Nos palestinos ou nas organizações e instituições que se manifestam tarde demais para os palestinos? O atual desastre humanitário em Gaza poderia ter sido evitado. Mas, por outro lado, até mesmo o genocídio de Israel em Gaza poderia ter sido evitado. A comunidade internacional trabalhou para permitir o genocídio em vez de impedi-lo. Agora, enquanto palestinos morrem em decorrência do genocídio e das inundações, o foco na reconstrução de Gaza de acordo com o plano de Trump – colonização e apropriação de terras – tem precedência sobre o mínimo de assistência humanitária. Este também não é um incidente isolado. Padrões semelhantes ocorrem todos os invernos em Gaza, e todos eram evitáveis. Então, quando mais um alerta se tornará o alerta que motivará ações políticas e humanitárias? Desastres humanitários anteriores não poderiam ter servido de alerta para a comunidade internacional agir e prevenir o genocídio?
Podemos voltar à ONU e perguntar por que ela nunca levou a sério a previsão de que “Gaza se tornaria inabitável até 2020”, supostamente porque os palestinos em Gaza ainda viviam em condições insuportáveis? Não seria a maior hipocrisia omitir repentinamente o termo “inabitável” da retórica sobre Gaza num momento em que Israel destruiu completamente sua infraestrutura? Ou será que Gaza passou a ser associada à “reconstrução” e, portanto, inabitável significa ressurgir das ruínas para a organização internacional que favorece o colonialismo e se disfarça de protetora dos direitos humanos?
Um alerta pressupõe uma novidade que suscitaria alguma forma de introspecção e ação. O nível de destruição em Gaza como resultado do genocídio israelense em curso pode ser inédito, mas não é sem precedentes, portanto não existe o conceito de “outro alerta” da forma como normalmente é percebido e compreendido. Não podemos esquecer que a ONU permitiu que Israel cometesse genocídio em Gaza. Uma decisão consciente de permitir o genocídio não é desfeita por um alerta. E, enquanto palestinos são mortos em Gaza, falar em alertas apenas atesta o crescente sentimento de alienação, cultivado em diferentes graus de conforto. Se as organizações de direitos humanos pretendem fazer a diferença, o jargão generalizado deve ser evitado.
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