A cerimônia de posse dos membros recém-eleitos do Congresso argentino se transformou em controvérsia na semana passada, quando vários parlamentares de esquerda romperam com o juramento padrão de posse para proferir declarações políticas jurando lealdade a uma “Palestina livre”, transformando um evento normalmente processual em um confronto político público.
Durante a sessão formal no Congresso Nacional, vários deputados de partidos de extrema esquerda substituíram o tradicional juramento de lealdade à Constituição por declarações fazendo referência a Gaza, Palestina e ao “genocídio sionista”. Entre eles, figuras proeminentes da Frente de Esquerda dos Trabalhadores, incluindo Nicolás del Caño, Myriam Bregman, Romina Del Plá e Néstor Pitrola.
O deputado Néstor Pitrola subiu ao pódio usando um keffiyeh palestino no pescoço e declarou que jurava “pelo fim do genocídio sionista e por uma Palestina livre”. O deputado de esquerda Nicolás del Caño fez seu juramento “pelos meninos e meninas massacrados em Gaza”.
Romina Del Plá, vestindo uma camiseta com uma melancia estampada, afirmou que jurava “pelo direito da Palestina de existir do rio ao mar”, uma frase amplamente interpretada por organizações judaicas na Argentina como um apelo à “eliminação de Israel”.
Myriam Bregman, uma parlamentar socialista judia, jurou “contra o genocídio na Palestina” e acrescentou um protesto não relacionado contra a política dos EUA em relação à Venezuela, declarando: “Ianques fora da Venezuela”.
“Vamos acabar com esse circo”, disse Sabrina Ajmechet, parlamentar judia de um partido de direita. “Que haja parlamentares que assumiram o cargo jurando lealdade a outro território… é mais do que apenas repugnante, é problemático.”
O incidente interrompeu os trabalhos, provocou gritos no plenário e atraiu críticas imediatas das figuras da oposição. A principal organização guarda-chuva judaica da Argentina, a DAIA, emitiu uma queixa formal, afirmando que frases como “do rio ao mar” e referências ao “genocídio sionista” ultrapassam a crítica política e se tornam retórica percebida como excludente ou incitadora. A organização alertou que tal linguagem mina a coesão social e coloca a Argentina em desacordo com seus próprios compromissos com o pluralismo.
Parlamentares da coligação libertária de direita do presidente Javier Milei interromperam a sessão com vaias e protestos, argumentando que o juramento é uma obrigação constitucional, não uma plataforma para defesa de política externa. Lila Lemoine, membro do partido de Milei, repreendeu diretamente Bregman, afirmando: “Você deve jurar pelo seu país”.
De acordo com as normas parlamentares vigentes, essas declarações, embora legalmente permitidas pelos procedimentos flexíveis de juramento da Argentina, romperam com “normas parlamentares de longa data que priorizam a lealdade institucional em detrimento da mensagem política internacional”.
O juramento é válido desde que o parlamentar aceite claramente o mandato do cargo. No entanto, a controvérsia acelerou as discussões internas sobre o endurecimento dos padrões processuais para a próxima sessão.
O confronto no Congresso ocorreu em um contexto de mudança drástica na postura da política externa argentina sob o governo do presidente Javier Milei, que posicionou sua administração como inequivocamente alinhada a Israel. Milei classificou publicamente o genocídio em Gaza como uma “luta contra o terrorismo”, condenando repetidamente o Hamas e enfatizando o direito de Israel à autodefesa. Ele fortaleceu os laços diplomáticos e simbólicos com Israel, incluindo o anúncio de planos para transferir a embaixada da Argentina para Jerusalém e priorizar a cooperação bilateral.
Enquanto o presidente Milei pressiona por uma política externa definida e pró-Israel, alguns parlamentares estão aproveitando momentos oficiais para expressar apoio à Palestina e a causas ativistas mais amplas.
Em vez de ser um caso isolado, a controvérsia do juramento reforça as preocupações dentro do governo Milei de que mensagens abertamente pró-Palestina no Congresso estejam minando a coesão diplomática da Argentina em um momento em que o presidente está ativamente reposicionando as alianças internacionais do país.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.









