A ONU está expondo como seu paradigma humanitário, sempre fadado ao fracasso, falhou. A Avaliação Global de Ajuda Humanitária observa que 239 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária e a necessidade financeira é de US$ 33 bilhões. No entanto, apenas 135 milhões de pessoas receberão assistência coletiva, com 87 milhões de pessoas sendo priorizadas. A ONU está lançando seu orçamento de ajuda para 2026 com um valor inicial de US$ 23 bilhões. O apelo de 2025 atingiu apenas US$ 12 bilhões, o que indica não só que os principais doadores estão cansados de gastar com ajuda humanitária, mas também que aqueles que fomentam a guerra e contribuem para o paradigma humanitário preferem investir em mais guerras.
O relatório afirma: “Embora esses valores possam parecer assustadores, eles são insignificantes em comparação com outros gastos globais — representam cerca de 1% dos gastos militares globais”. Observa ainda: “O apelo global total poderia ser totalmente financiado se os 10% mais ricos do mundo (aqueles que ganham aproximadamente US$ 100.000 ou mais por ano) doassem apenas 20 centavos por dia durante um ano”.
Outra forma de contornar isso seria argumentar que o paradigma humanitário seria viável se os gastos militares globais, a intervenção estrangeira, a violência colonial, a violência política e, claro, o genocídio, fossem interrompidos permanentemente. Mas, neste momento, a ONU está perseguindo as sombras que criou, alimentando ainda mais o desastre global enquanto finge reparar os danos por meio de ações coletivas, como o financiamento de doadores globais.
De acordo com os planos humanitários para 2026, US$ 4,1 bilhões serão destinados aos Territórios Palestinos Ocupados, com o objetivo de alcançar três milhões de pessoas.
Enquanto isso, em Gaza, com a contínua apropriação de terras sob o pretexto de preocupações militares e de segurança, nenhuma quantia de ajuda humanitária será suficiente para deter as repercussões do genocídio colonial israelense.
Os EUA têm sido historicamente o maior doador da ONU. Também são o maior aliado de Israel. Essa é a contradição perpétua que o paradigma humanitário da ONU enfrenta: os opressores também são doadores. E como o genocídio é mais lucrativo, o paradigma humanitário permanece limitado, enquanto os países calculam os custos, principalmente os maiores doadores. Como a ONU pode realmente fornecer assistência humanitária quando sua principal preocupação, por exemplo, é proteger a narrativa de segurança de Israel? Se a ONU realmente quisesse impedir o genocídio, teria desmantelado a narrativa de segurança de Israel desde o início. Mas a ONU é composta por representantes de países que estão inseridos na narrativa imperialista; Países que foram potências coloniais e outros cuja independência ainda está manchada pela dependência e interferência.
Pedir menos do que o total necessário de bilhões em ajuda humanitária apenas demonstra que a ONU está mais interessada em deixar que os países e o colonialismo sigam suas agendas individuais no cenário global. A expectativa de que as violações do direito internacional continuem, enquanto se exige menos responsabilidade financeira dos doadores, também indica para onde o mundo está caminhando, assim como a ONU e seu conceito ocidental de direitos humanos. Através do genocídio israelense em Gaza, a ONU expôs completamente essa dinâmica – a instituição abandonou seu paradigma falho de apoio à guerra e à destruição, relegando os direitos à retórica simbólica, compensada por um financiamento irrisório.
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