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Falhas e paralisia da ONU alimentaram atrocidades em Gaza, afirma ex-ministra das Relações Exteriores do Brasil

26 de novembro de 2025, às 04h16

Sessão na Assembleia Legislativa do Paraná sobre as violações em Gaza e a falha do sistema das Nações Unidas, novembro de 2025. [Assembleia Legislativa do Paraná]

A América Latina está avançando em uma mobilização coordenada para elevar as demandas de responsabilização contra Israel dentro do sistema da ONU. No Chile, grupos da sociedade civil estão se preparando para lançar uma campanha internacional invocando o Artigo 6º da Carta da ONU para exigir a expulsão de Israel, citando o que descrevem como violações sistemáticas do direito internacional e das resoluções da ONU. No Brasil, as instituições legislativas reforçaram esse movimento por meio de uma sessão pública no Paraná intitulada “Vozes Silenciosas”, destacando a crise humanitária em Gaza e na Cisjordânia e a falha da ONU em deter as violações em curso.

A sessão contou com a participação de importantes figuras políticas e de direitos humanos, que examinaram o agravamento do cenário nos territórios palestinos, com foco particular em Gaza e na Cisjordânia. André Salmazo Bupel, advogado e chefe do Comitê de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados, afirmou que os territórios palestinos precisam de ações urgentes em relação às violações de Israel. Ele enquadrou a questão palestina como uma das crises de direitos humanos mais duradouras e graves do mundo, apontando para a violência persistente e as duras condições de vida que continuam a moldar o cotidiano dos palestinos.

O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Francisco Rezek, declarou que o sistema de governança global apresenta falhas estruturais na gestão de crises humanitárias. Rezek, que atuou como membro da Corte Internacional de Justiça, citou a situação em Gaza como prova e afirmou que a ONU tem apresentado um desempenho consistentemente abaixo do esperado na gestão de conflitos. Segundo Rezek, a responsabilidade pelas violações de direitos humanos em Gaza recai sobre a comunidade internacional e as grandes potências. Ele enfatizou que o direito internacional dos direitos humanos deve ser aplicado de forma imparcial, observando que resultados políticos duradouros são impossíveis sem mecanismos de aplicação confiáveis.

Rezek argumentou que a liderança da ONU, do Secretário-Geral António Guterres à Relatora Especial Francesca Albanese, tentou defender o mandato central da instituição: a verdade, a dignidade e os direitos humanos. No entanto, ele descreveu a incapacidade da ONU de impedir o que chamou de “genocídio a céu aberto” como consequência de falhas estruturais na Carta da ONU, especificamente o poder de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança.

“A ONU falhou em impedir o genocídio a céu aberto que inundou o território palestino com sangue. Essa falha não se deveu à própria instituição, mas a falhas estruturais na Carta da ONU, que ainda permitem que a autoridade do Conselho de Segurança seja bloqueada pelo uso do veto”, disse Rezek à MEMO.

Ele ainda afirmou que a paralisia institucional foi agravada pelo alinhamento passivo das democracias europeias e pelas decisões estratégicas dos Estados Unidos, que ele caracterizou como criminosas, favoráveis ​​ao genocídio e deliberadamente prejudiciais à ONU e ao direito internacional. Ele afirmou que, em 2025, o governo dos EUA atacou normas jurídicas no exterior e internamente, minando tanto o direito internacional quanto sua própria estrutura constitucional.

Rezek descreveu a situação atual como um choque moral e político coletivo, com custos reputacionais para Estados e instituições. Ele argumentou que a negação não é mais sustentável para aqueles que permitiram ou ignoraram esses acontecimentos. “O sacrifício da nação palestina é o preço doloroso que o mundo paga pelo despertar da consciência global. A verdade não pode mais ser escondida. Os traidores, os intimidados e os tolos de todos os tipos não podem mais convencer a si mesmos, nem a ninguém, de que não são obrigados a sentir vergonha.”

Rezek concluiu que a paralisação temporária da ONU não desviará sua trajetória de longo prazo rumo ao fortalecimento do direito internacional e ao avanço da causa humanitária em geral. “O colapso temporário das Nações Unidas não impedirá sua marcha firme em direção a uma vitória final, a do direito internacional e da causa da humanidade.”

Rezek concluiu que a paralisação temporária da ONU não desviará sua trajetória de longo prazo rumo ao fortalecimento do direito internacional e ao avanço da causa humanitária em geral. As sessões parlamentares destacam a tentativa do Brasil de se posicionar como um mediador credível nos esforços para garantir um cessar-fogo permanente em Gaza e promover a reconstrução humanitária. Os parlamentares definiram esse papel como uma extensão da longa trajetória diplomática do país, centrada na construção da paz, no engajamento multilateral e solidariedade nacional.

Paralelamente, iniciativas locais como a audiência pública em São Leopoldo apontam para uma crescente mobilização interna em torno do conflito, reforçando a pressão política por responsabilização e proteção dos civis. Juntas, essas ações sinalizam o envolvimento cada vez maior do Brasil na formação do discurso nacional e internacional sobre a causa palestina.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.