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E-mails vazados revelam que Jeffrey Epstein ajudou Israel a construir um canal de comunicação secreto com a Rússia

4 de novembro de 2025, às 07h37

O ex-primeiro-ministro israelense e líder do partido Israel Democrático, Ehud Barak, discursa em um evento da campanha eleitoral do partido em Tel Aviv, em 17 de julho de 2019. [Gili Yaari/NurPhoto via Getty Images]

O notório traficante sexual Jeffrey Epstein facilitou os esforços para abrir um canal de comunicação secreto entre Israel e o Kremlin durante a guerra civil síria, revelam e-mails recém-vazados. Os documentos, obtidos por hackers conhecidos como “Handala” e publicados pelo Drop Site News, incluem correspondências entre Epstein e o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak, abrangendo o período de 2013 a 2016.

Os e-mails mostram Epstein atuando como um intermediário informal, organizando reuniões, transmitindo informações de círculos políticos russos e ajudando a elaborar mensagens para os esforços diplomáticos de Barak, que visavam garantir o apoio russo para a remoção do presidente sírio Bashar al-Assad.

Uma troca de mensagens de 2013, verificada pelo Drop Site, mostra Epstein aconselhando Barak a propor um encontro direto com o presidente russo Vladimir Putin, afirmando: “Acho que você deveria avisar Putin que estará em Moscou. Veja se ele quer um encontro privado.” As comunicações vazadas sugerem que a dupla buscava apresentar o resultado preferido de Israel, um fim negociado para a guerra que excluísse Assad, enquanto moldava as narrativas da mídia em veículos de comunicação dos EUA e da Europa.

O conjunto de documentos inclui um rascunho de um artigo de opinião coescrito por Barak e editado por Epstein. Intitulado “O Kremlin detém as chaves”, o artigo não publicado instava Moscou a liderar uma transição política na Síria em troca da preservação de seus interesses na região. Embora o The New York Times tenha supostamente se recusado a publicar o artigo, uma versão posterior apareceu no The Telegraph em 30 de maio de 2013.

Epstein também compartilhou informações sobre figuras europeias e americanas envolvidas na diplomacia com a Rússia e ofereceu conselhos estratégicos relacionados aos negócios de Barak com o oligarca russo Viktor Vekselberg. Barak atuou como consultor do Grupo Renova, de Vekselberg, durante esse período e se reportava diretamente ao assessor do Kremlin, Yuri Ushakov, para agendar reuniões com Putin, de acordo com os e-mails.

Embora a correspondência não mostre que o esforço tenha sido bem-sucedido na remoção de Assad, ela revela as tentativas israelenses de usar canais não oficiais para influenciar o resultado do conflito. Isso incluiu pressionar o governo Obama a adotar uma postura mais dura contra o Irã e a Síria, de acordo com mensagens em que Epstein e Barak discutiam a abordagem do governo americano.

Os documentos também indicam que Epstein ajudou Barak a obter acesso ao Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo em 2013 e 2015, onde Barak realizou reuniões a portas fechadas com altos funcionários russos, incluindo o Ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e a presidente do Banco Central, Elvira Nabiullina. Os e-mails mostram ainda Epstein aconselhando Barak sobre como abordar contatos da inteligência israelense, incluindo referências codificadas a “número 1”, entendido como o chefe do Mossad.

Epstein morreu em 2019 enquanto estava sob custódia federal nos EUA, aguardando julgamento por acusações de tráfico sexual. Ele mantinha laços estreitos com altos funcionários políticos e militares israelenses, incluindo Barak, que já reconheceu anteriormente um relacionamento pessoal e financeiro com ele.

Há anos, especula-se que Epstein possa ter atuado como agente do Mossad, usando sua rede global e acesso a meninas menores de idade para chantagear políticos e líderes empresariais.

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