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Quem venceu? E quem triunfou?

15 de outubro de 2025, às 01h50

Uma vista aérea de Khan Yunis, no sul de Gaza, enquanto os palestinos retornam à cidade após um cessar-fogo entrar em vigor e as forças israelenses começam a se retirar, apenas para enfrentar uma destruição generalizada, em 11 de outubro de 2025. [Doaa Albaz – Agência Anadolu]

A guerra em Gaza terminou — ou assim pensaram. Os aviões pararam de sobrevoar, o rugido dos canhões silenciou, mas a cidade não dormiu.
De baixo dos escombros, o povo surgiu como se despertasse a própria vida que o mundo acreditava ter morrido. Voltaram carregando o lugar no coração antes mesmo de carregar seus pertences.

O mundo viu uma cena inesperada: homens varrendo o pó das portas, mulheres lavando as pedras com a água do mar de Gaza, e crianças correndo entre as ruínas em busca de uma bola perdida ou de um livro que ainda não havia queimado.
Em poucas horas, o desespero virou movimento, a morte virou trabalho, e o caos virou vontade.
Foi um milagre humano em todos os sentidos — como se Gaza inteira tivesse saído do túmulo dizendo: “Aqui estou, voltei à vida.”

Mais de sessenta mil mártires, cento e quarenta mil feridos, milhares de casas destruídas — mas os sobreviventes não esperaram ajuda, nem desculpas de quem os traiu ou abandonou.
Voltaram aos restos de suas casas e começaram a reconstruí-las com as próprias mãos, como se as pedras beijassem suas palmas e dissessem: “Vocês são as verdadeiras pedras, pela firmeza que têm.”

Plantaram esperança no coração da destruição.
Esse avanço rumo à vida espantou o mundo, assim como antes o havia espantado a resistência deles sob o bombardeio.
O que o mundo viu como “retorno”, o povo de Gaza viu como vitória — e como recuperação de um direito roubado.

Na língua árabe, que distingue os significados com precisão, fawz (vitória) e nasr (triunfo) não são o mesmo.

Fawz é salvação — sair do fogo com a alma intacta, mesmo que o corpo queime; preservar a dignidade, mesmo sem teto.
Nasr é conquista — vencer o inimigo e impor sua vontade.

O fawz salva a alma; o nasr derrota o inimigo.
E Gaza — pela medida da língua e da justiça — venceu porque sobreviveu, e triunfou porque permaneceu firme.

Não tinha aviões nem tanques, nem suprimentos ou alianças — nada além da fé de que a terra não morre enquanto nela houver um coração que pulsa.
Do seu pó nasceram; são a terra, os escombros, o destroço — e mesmo assim voltaram, como ondas que correm contra o tempo em busca de um amanhã melhor.

Gaza não ergueu arma mais poderosa que a paciência, nem bandeira mais alta que a esperança.
Disse Deus, o Altíssimo:

“Quantas vezes um pequeno grupo venceu um grande exército com a permissão de Deus.”

Sua vitória veio apenas de Deus, não das armas dos homens.

O inimigo perdeu mais do que imaginava ter ganho.
Perdeu sua imagem diante do mundo, enquanto a bandeira da Palestina e a dança de Gaza envolveram o planeta, de leste a oeste.

Todo homem livre do mundo tornou-se “de Gaza” — não importa sua cor, fé ou língua.
Gaza agora tem um passaporte que nenhuma autoridade emite — seu nome é Vitória.
Ele pertence a todo ser livre e digno, sem necessidade de visto nem permissão.

Gaza pulsa nas ruas das maiores cidades do mundo, nos estádios, nos palcos e nas mídias mais influentes.

O inimigo perdeu o controle da narrativa, atordoado pela inversão dos papéis e pela queda dos equilíbrios que sustentou por décadas e fortunas.
O leme já não está em suas mãos — o navio é conduzido pelos livres do mundo.

E esse é o triunfo de Deus — quando Ele decide concedê-lo, pois a Ele pertencem os exércitos dos céus e da terra.

Quanto a Gaza —Ela venceu porque voltou, e o simples retorno já é vitória.
Venceu porque sua firmeza dobrou a política, porque seu povo escolheu reconstruir em vez de lamentar, agir em vez de chorar, e esperar em vez de desesperar.

Por Deus — é uma cena de vitória e conquista evidente.

Quem venceu? E quem triunfou?

Por Deus, eles venceram porque não se renderam,
e triunfaram porque não se curvaram — apesar da traição do mundo.

Foram privados até de água, mas não fugiram.
Quiseram expulsá-los, mas ficaram.
Queimaram suas casas, mas não quebraram.
Cercaram sua resistência, mas ela não recuou.
Tentaram calá-los, mas eles não se calaram.

Não… não… e não…
até o infinito, na firmeza e na dignidade.

Ainda perguntas quem venceu e quem triunfou?

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.