clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Por que a presença de Prabowo na cúpula de Sharm el-Sheikh levanta questões

15 de outubro de 2025, às 02h22

O presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, é recebido pelo presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, antes da Cúpula da Paz de Sharm el-Sheikh, em Sharm el-Sheikh, Egito, em 13 de outubro de 2025. [Presidência Egípcia / Divulgação – Agência Anadolu]

A recente aparição do presidente indonésio, Prabowo Subianto, na cúpula da paz de Gaza, em Sharm el-Sheikh, Egito, teve como objetivo transmitir solidariedade internacional e o compromisso de resolver um dos conflitos mais prolongados e dolorosos do mundo. No entanto, apesar de suas intenções diplomáticas, a presença de Prabowo levanta preocupações significativas — tanto sobre a legitimidade da cúpula quanto sobre o papel da Indonésia no processo.

A cúpula, realizada em 13 de outubro e coorganizada pelo presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi e pelo ex-presidente americano Donald Trump, reuniu mais de 20 líderes mundiais. Concluiu-se com a assinatura de um acordo de paz entre Estados Unidos, Egito, Turquia e Catar — aclamado como uma resolução “abrangente” para a guerra em Gaza. Prabowo ocupou um lugar de destaque, aplaudiu a assinatura e até recebeu elogios diretos de Trump, que o descreveu como “uma pessoa extraordinária”.

Mas o que o evento ofereceu em espetáculo, faltou em substância. Um acordo que pretende encerrar uma guerra devastadora de dois anos deve ser julgado por sua inclusividade, sua responsabilização e seu alinhamento com o direito internacional. Nessas frentes, a cúpula de Sharm el-Sheikh ficou aquém. Vozes palestinas cruciais — particularmente de Gaza — estiveram ausentes das negociações. O documento, assinado sem o Hamas ou ampla representação da sociedade civil, corre o risco de ser visto menos como um acordo de paz e mais como uma atuação política.

LEIA:  Indonésia na Cúpula Árabe-Islâmica de 2025: Palavras firmes, mantra familiar

A Indonésia, defensora consistente e de longa data da autodeterminação palestina, construiu sua reputação em política externa com base em princípios, especialmente em questões de justiça global. Seu apoio à Palestina está consagrado não apenas na tradição diplomática, mas também na própria Constituição indonésia. Nesse contexto, a decisão de Prabowo de participar de uma cúpula orquestrada e dominada por figuras como Trump e Sisi — líderes com históricos controversos de direitos humanos e interesses estratégicos no conflito — parece estranhamente descompassada.

Trump, em particular, desempenhou um papel profundamente partidário durante a guerra de Gaza. Seu governo forneceu a Israel armas, inteligência e cobertura diplomática nas Nações Unidas, ao mesmo tempo em que enquadrava sua campanha militar em Gaza como uma luta contra o terrorismo. Sua suposta retórica de paz frequentemente mascarava esse alinhamento. A cúpula de Sharm el-Sheikh, com Trump no centro, parece ter mais a ver com a reformulação desse envolvimento como um estadista visionário do que com a avaliação do devastador custo humano da guerra.

Esse contexto torna a participação de Prabowo ainda mais difícil de conciliar. Embora o engajamento internacional seja importante, existe o risco de que a presença da Indonésia nesta cúpula seja vista como o endosso de um processo falho — que prioriza a aparência em detrimento da justiça.

Mais preocupante ainda foi uma conversa entre Prabowo e Trump, capturada inadvertidamente por um microfone ao vivo. No vídeo, Prabowo é ouvido pedindo para se encontrar com o filho de Trump, Eric, um executivo da Organização Trump, que detém interesses comerciais na Indonésia. Trump responde afirmativamente, dizendo: “Vou pedir para Eric ligar”. Embora não haja evidências de impropriedade, o momento e o contexto do pedido — em uma conferência internacional de paz — levantam preocupações legítimas sobre aparência e propriedade.

Para ser justo, o governo da Indonésia expressou um desejo sincero de contribuir para a paz em Gaza. A oferta anterior de Prabowo de enviar 20.000 soldados de paz para apoiar a estabilização pós-conflito, se solicitada pela comunidade internacional, foi um gesto ousado e construtivo. Mas deve estar enraizado em um processo de paz confiável. A participação em uma cúpula sem representação significativa dos mais afetados pela guerra corre o risco de minar esses mesmos esforços.

A participação de Prabowo, por mais bem-intencionada que seja, turvou a linha entre diplomacia de princípios e teatro político. Ao fazê-lo, pode diluir a autoridade moral da Indonésia no cenário global, especialmente aos olhos de seus próprios cidadãos, muitos dos quais há muito se solidarizam com a causa palestina.

A Indonésia tem uma voz única a oferecer na diplomacia global — enraizada no não alinhamento, na democracia e em um histórico de resistência ao colonialismo. Sua força não reside apenas em ser presente, mas na escolha de quando e como participar. A verdadeira liderança às vezes significa se afastar dos holofotes quando o processo por trás dela não corresponde aos valores que alega promover.

O que aconteceu em Sharm el-Sheikh pode ter parecido paz. Mas a diplomacia não se define por aplausos ou oportunidades para fotos. Ela se define se os mais afetados são ouvidos e se a justiça faz parte da fundação. Nesse sentido, a cúpula ficou aquém — e a Indonésia, infelizmente, pode ter sido arrastada para uma encenação em vez de uma solução.

LEIA: A Indonésia tem razão em condenar a ação do Knesset na Cisjordânia, mas precisa romper com a ilusão de dois Estados

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.