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Dois anos de genocídio: Por que a resistência de Gaza jamais se renderá

30 de setembro de 2025, às 04h00

Fumaça sobe da área alvejada pelas forças israelenses na Cidade de Gaza, Gaza, em 27 de setembro de 2025. [Khames Alrefi – Agência Anadolu]

Desde o início da guerra genocida em Gaza, há quase dois anos, o mundo se depara com uma realidade extraordinária: um povo sitiado, cujas casas são arrasadas, cujos hospitais são bombardeados e cujas famílias são dilaceradas, mas que se ergue sob os escombros — às vezes descalço, frequentemente com pouco mais do que armas rudimentares — para desafiar um dos exércitos mais fortemente armados do mundo.

Esta não é simplesmente uma guerra. É um teste existencial para a humanidade. É a prova viva de que a dignidade, quando profundamente enraizada na terra e na crença, pode resistir até mesmo aos mais poderosos arsenais de destruição.

Cenas que desafiam a lógica

Poucas imagens são mais impactantes do que a de jovens palestinos emergindo de bairros destruídos para enfrentar tanques e veículos blindados, confrontando armamento avançado com dispositivos improvisados ​​ou sua pura determinação. Não são retratos cinematográficos; são realidades cotidianas que revelam uma equação mais profunda: quando a fé na justiça se torna energia ilimitada, a tecnologia perde sua vantagem.

Dois anos de fracasso para Israel

Após quase dois anos de tentativas sistemáticas de erradicar Gaza, Israel não conseguiu atingir seus objetivos declarados. A resistência não foi destruída. A rendição não foi imposta. Em vez disso, cada dia expõe a fragilidade das premissas militares e políticas de Israel.

Em vez de enfraquecida, a resistência palestina extraiu mais força de cada sacrifício. Cada mártir, cada casa demolida, cada rua marcada tornou-se mais um motivo para continuar lutando. Relatos até mesmo dentro de Israel apontam para níveis crescentes de trauma e colapso psicológico entre seus soldados. Em contraste, os combatentes de Gaza são movidos pela clareza de sua causa e por sua prontidão para o autossacrifício.

Uma luta de filosofias

O que se desenrola em Gaza não é meramente uma troca de poder de fogo. É um choque de duas filosofias existenciais. De um lado, está uma força obcecada pela sobrevivência individual a qualquer custo. Do outro, está um povo que considera sua sobrevivência e dignidade coletivas mais importantes do que suas vidas pessoais.

Para eles, a resistência não é uma opção tática, mas um imperativo moral. Render-se significaria não apenas a perda de território, mas a obliteração de sua própria existência como povo.

Como o pensador francês Voltaire certa vez observou: “Aquele que luta por algo maior do que si mesmo não pode ser derrotado”. Suas palavras capturam a essência da luta de Gaza.

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Ecos da história

A história testemunhou grandes lutas pela libertação, mas Gaza acrescenta uma nova dimensão. A Argélia suportou mais de 130 anos de domínio colonial francês antes de finalmente conquistar a independência em 1962. O Vietnã, contra todas as probabilidades, exauriu e finalmente derrotou os Estados Unidos, forçando sua retirada em 1975.

Gaza hoje se insere na mesma linhagem de lutas heroicas, mas com uma distinção: o que o mundo testemunha em Gaza nunca foi realmente visto antes. Não se trata apenas de um movimento de guerrilha ou de uma campanha partidária. É uma sociedade inteira — cada beco, acampamento, túnel e casa em ruínas — transformada em uma frente de resistência viva e pulsante.

Aqui, as palavras do comandante palestino Abdul Qader Al-Husseini, proferidas em 1948, soam tão verdadeiras como sempre: “Não posso lutar e pedir rendição ao mesmo tempo. É uma vida de honra ou uma morte digna.”

Mudando o debate global

A resiliência de Gaza não abalou apenas Israel no campo de batalha. Também perturbou a narrativa global. Enquanto Israel justifica seu ataque com a linguagem da “segurança” e da “autodefesa”, Gaza emergiu como um epicentro moral que inspira solidariedade em todo o mundo. Das ruas de Londres e Nova York aos campi nos EUA e na Europa, Gaza desencadeou movimentos por justiça e responsabilização.

O que Gaza oferece ao mundo é mais do que resistência; é um confronto ético com o significado da dignidade humana no século XXI.

Conclusão: Gaza não se curvará

Os combatentes de Gaza são verdadeiramente uma raça de honra incomparável. Não porque possuam tecnologia superior, mas porque personificam algo muito mais raro: convicção em sua causa e uma disposição ilimitada para o sacrifício.

Entre um exército que se agarra desesperadamente à vida e combatentes que veem o sacrifício como uma porta de entrada para a dignidade, é o espírito — não as armas — que, em última análise, prevalece.

Gaza permanecerá inabalável. O que enfrenta não é uma guerra temporária, mas um projeto genocida que visa a apagamento. E, no entanto, seu povo provou que, mesmo nos momentos mais sombrios, uma comunidade unida pela fé e pela justiça pode perdurar.

O mundo raramente viu um desafio coletivo tão constante. Talvez nunca mais veja algo parecido. Pois a resistência de Gaza não é apenas uma história de sobrevivência; é um testemunho vivo de que coragem e sacrifício podem sobreviver a qualquer arma de opressão.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.