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Gaza: mais de 327 mil vidas apagadas pela máquina de guerra sionista

25 de setembro de 2025, às 01h59

A mãe se despede de um dos filhos em funeral de dezenas de palestinos mortos nos ataques à Cidade de Gaza em agosto de 2025. [Mohammed Asad/Monitor do Oriente Médio]

A tragédia em Gaza não pode ser descrita apenas em imagens de prédios reduzidos a pó, de crianças estraçalhadas pelas bombas ou de famílias inteiras soterradas sob escombros. Essa guerra genocida travada por “israel” desde 7 de outubro de 2023 também se expressa em números que revelam a dimensão de uma catástrofe humana sem precedentes neste século. Contar os mártires em Gaza tornou-se parte da própria disputa política e moral que se trava paralelamente ao massacre.

De um lado estão os números oficiais do Ministério da Saúde de Gaza, reconhecidos pela ONU e citados rotineiramente nos relatórios humanitários. De outro, estudos independentes e publicações científicas de prestígio internacional, chamam atenção para o fato de que as estatísticas divulgadas diariamente representam apenas a superfície de uma realidade muito mais grave.

Nos 717 dias de massacre sionista em Gaza completados em 23 de setembro de 2025, o Ministério da Saúde de Gaza informou que mais de 65.300 palestinos haviam sido martirizados desde o início da ofensiva. É um número estarrecedor, mas que reflete apenas as mortes causadas diretamente por ferimentos traumáticos: os que sucumbiram aos bombardeios, aos disparos dos atiradores sionistas, às demolições.

Ficam de fora os que morrem lentamente pela fome, pela sede, pelas doenças que poderiam ser tratadas em condições normais, mas que se tornam fatais num território sitiado. Não entram na contagem os bebês que não resistem sem incubadoras, os idosos sem acesso a medicamentos essenciais, os pacientes de câncer sem quimioterapia, grávidas que morrem porque não havia combustível para ambulâncias, doentes crônicos abandonados à própria sorte, os soterrados nunca resgatados e os enterrados às pressas sem registro.

É nesse vácuo que entra a ciência. Um estudo publicado pela renomada revista científica The Lancet (julho de 2024), sugere que o número de mártires oficialmente registrado por ferimentos traumáticos representa apenas cerca de 20% do total real, pois para cada morte documentada, até quatro outras pessoas teriam morrido devido a causas indiretas da guerra, como fome, sede, doenças não tratadas, falta de medicamentos, colapso hospitalar etc.

Se aplicarmos esse raciocínio às cifras mais recentes, os 65 mil mártires oficiais se transformam em aproximadamente 327 mil vidas perdidas em menos de dois anos, ou 13% da população de Gaza de cerca de 2,5 milhões de pessoas em outubro de 2023. Estamos diante de um dos maiores desastres humanitários do século XXI.

O contraste entre 65 mil e 327 mil não é um detalhe contábil: é uma mudança qualitativa. No campo do Direito Internacional Humanitário, o número de vítimas civis é determinante para caracterizar crimes de guerra e genocídio. A diferença entre dezenas de milhares e centenas de milhares de mártires altera o lugar desse conflito na história das guerras modernas e deveria ampliar a urgência da reação da comunidade internacional.

Se comparado com a população brasileira, de cerca de 215 milhões de pessoas, estes cerca de 13% da população representaria mais de 28 milhões de pessoas, ou seja, quase duas vezes a população da Cidade de São Paulo, de 11,5 milhões de pessoas!

É por isso que os números também se tornaram armas. “israel” e seus aliados tentam deslegitimar os dados do Ministério da Saúde de Gaza, alegando que seriam manipulados para beneficiar o Hamas. Contudo, organismos internacionais, como a OCHA (Escritório da ONU para Assuntos Humanitários), utilizam esses dados, reconhecendo que se há falha, ela não é de exagero, mas de subnotificação.

Esse “silêncio estatístico” esconde milhares de histórias apagadas.

É fundamental compreender que não estamos diante de um desastre natural, de um terremoto ou de uma epidemia incontrolável. O que ocorre em Gaza é um processo deliberado e sistemático: um bloqueio que impede a entrada de alimentos, remédios e combustível; ataques que destroem sistematicamente hospitais, escolas, depósitos de água e a infraestrutura civil mínima para a sobrevivência de uma população de mais de 2,5 milhões de pessoas.

Por isso, falar em “mais de 327 mil mártires” não é retórica inflacionada. É reconhecer a escala real de uma tragédia que o mundo prefere olhar pela metade. Um genocídio que ceifa 65 mil vidas já é intolerável. Mas um genocídio que pode ter matado mais de 327 mil pessoas revela um fracasso colossal da humanidade em impedir a repetição dos piores horrores do século XX.

Contar os mártires em Gaza é, acima de tudo, contar a verdade. Os números oficiais são já uma acusação contra a política israelense de extermínio em curso, mas é ao aplicar a lente da ciência que se revela a profundidade da catástrofe. Aceitar apenas a versão oficial significa naturalizar um massacre parcialmente visível. Reconhecer a subnotificação significa assumir que Gaza se transformou em um dos capítulos mais sombrios da história contemporânea.

Mais de 327 mil mártires não são apenas um número: são famílias destruídas, sonhos apagados, gerações arrancadas do futuro. E se a contagem de cadáveres se transformou em uma disputa, que essa disputa ao menos sirva para lembrar que por trás de cada cifra há um nome, um rosto e uma história que não deveria ter sido interrompida.

Palestina livre, do Rio ao Mar!

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.