No coração de Santiago, onde os ecos da identidade palestina se misturam à cultura chilena em cada canto do movimentado bairro de Patronato, a esperança cintilou esta semana entre as comunidades palestinas da América Latina. Mais uma onda de países, incluindo Portugal, Reino Unido, Canadá e Austrália, juntou-se à crescente lista de nações que reconhecem o Estado da Palestina. Para a diáspora palestina na América Latina, foi um momento de validação agridoce.
Para muitos no Chile, Argentina, Brasil e em toda a região, o momento parece histórico. Mas para as famílias que ainda lamentam as vidas perdidas em Gaza e na Cisjordânia, ou aguardam notícias de parentes sitiados, também é dolorosamente incompleto.
Em uma declaração pública emitida em Santiago em 21 de setembro, a Comunidade Palestina do Chile comemorou os reconhecimentos como um marco. O grupo observou que o próprio Chile reconheceu o Estado da Palestina em 2011, sob o ex-presidente Sebastián Piñera, e apelou a outros países latino-americanos para que sigam o exemplo com urgência renovada.
“Este passo representa um avanço significativo em direção à justiça histórica e ao respeito ao direito internacional”, afirmou a Comunidade Palestina do Chile em uma declaração oficial emitida em Santiago. “Em um contexto em que o povo palestino continua resistindo à ocupação, colonização e limpeza étnica, este reconhecimento reforça a legitimidade de suas demandas e aproxima milhões de pessoas da esperança de liberdade.”
Ao mesmo tempo em que expressava apreço pelo crescente reconhecimento internacional da condição de Estado palestino, a declaração também adotou um tom sombrio. A comunidade alertou que o reconhecimento diplomático por si só é insuficiente para deter a violência e o sofrimento enfrentados diariamente pelos palestinos nos territórios ocupados.
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“A cada dia que passa, homens, mulheres e, acima de tudo, crianças palestinas continuam sendo assassinados por bombas, fome forçada e pela violência da ocupação israelense”, dizia a declaração. “Portanto, apelamos à comunidade internacional, e ao Chile em particular, para que anuncie medidas concretas, sanções e ações firmes que obriguem Israel a conformar sua conduta ao direito internacional.”
A comunidade enfatizou a importância da sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas como uma oportunidade para que os líderes globais vão além das declarações e adotem políticas que abordem diretamente o que descreveram como o “genocídio contínuo” de Israel e as violações sistêmicas do direito internacional.
A comunidade chileno-palestina, que representa a maior diáspora palestina fora do mundo árabe, enfatizou que a justiça deve preceder a paz e que as instituições internacionais têm a responsabilidade de garantir a responsabilização.
“O reconhecimento da Palestina como um Estado independente é um passo à frente que valorizamos profundamente. Mas o que será verdadeiramente relevante será quando o genocídio for interrompido, a impunidade de Israel for encerrada e o respeito pleno e irrestrito ao direito internacional for garantido”, concluiu a declaração. “Sem justiça, não haverá paz, e é dever da comunidade internacional garanti-la.”
À medida que mais países reconhecem oficialmente o Estado da Palestina, os palestinos no Brasil se unem às vozes de toda a diáspora latino-americana para saudar o crescente apoio internacional, ao mesmo tempo em que apelam aos governos regionais para que vão além do reconhecimento e tomem medidas tangíveis para proteger as vidas e os direitos palestinos.
A comunidade palestina do Brasil, uma das mais ativas da América Latina, há muito tempo desempenha um papel fundamental na defesa da justiça, da paz e da autodeterminação. A comunidade elogiou as recentes decisões de Portugal, Reino Unido, Canadá, Austrália e outros países de reconhecer o Estado Palestino como um ponto de inflexão no debate global.
O Brasil, que reconheceu a Palestina em 2010, também reafirmou seu compromisso com a causa palestina. Em uma declaração, o governo brasileiro saudou o reconhecimento do Estado Palestino, chamando-o de “avanço histórico significativo” em direção à concretização das aspirações da Palestina por paz, liberdade e autodeterminação.
“O Brasil insta todos os outros países que ainda não o fizeram a reconhecer a Palestina como um Estado soberano”, diz o comunicado.
Palestino-brasileiros, embora apreciem a posição diplomática do Brasil, afirmam que o momento atual exige mais do que declarações reafirmadas; exige medidas concretas. Isso inclui apoiar os esforços internacionais para responsabilizar Israel por crimes de guerra, impor sanções e exigir um cessar-fogo imediato e duradouro.
“Defendemos uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável dentro das fronteiras de 1967, que inclui a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como sua capital.”
A comunidade palestina na Argentina também expressa sua profunda satisfação com o crescente reconhecimento internacional do Estado da Palestina. “Vemos esses acontecimentos como um passo vital e há muito esperado para salvaguardar a viabilidade da Solução de Dois Estados e alcançar uma paz justa e duradoura para o nosso povo.”
“Acolhemos calorosamente e agradecemos sinceramente aos governos do Reino Unido, Canadá e Austrália pelo recente reconhecimento do Estado da Palestina. Essas decisões se baseiam não apenas no direito internacional e nas resoluções das Nações Unidas, mas também refletem um compromisso de princípio com o fim da ocupação israelense e a promoção da paz, da justiça e da estabilidade, não apenas no Oriente Médio, mas em toda a comunidade global”, afirmou a declaração.
Além disso, é importante enfatizar que “o reconhecimento da Palestina é muito mais do que um gesto político. É um reconhecimento dos direitos legítimos e inalienáveis do nosso povo, incluindo o direito à autodeterminação, à liberdade e ao retorno”.
Esses reconhecimentos também têm um propósito crucial: “eles representam uma resposta aos crimes graves e contínuos cometidos pela ocupação israelense: genocídio, deslocamento forçado, anexação de terras, punição coletiva e o ataque sistemático a civis, particularmente crianças, em Gaza e na Cisjordânia”.
Diante dessa realidade, “acreditamos firmemente que somente uma solução política negociada, alicerçada no direito internacional, pode abrir caminho para uma paz e coexistência genuínas. Esse caminho deve substituir a arrogância da força e da impunidade por justiça e responsabilização”.
Concluindo, “enfatizamos que a paz não pode ser alcançada apenas por meio de declarações vazias ou gestos simbólicos”.
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