Ao menos dez barcos da Flotilha Global Sumud, com ajuda humanitária a Gaza, sofreram uma série de ataques a drones na madrugada desta quarta-feira (9), enquanto navegavam no Mar Mediterrâneo, a menos de 600 milhas náuticas de seu destino.
Quatro barcos foram diretamente atingidos; contudo, sem feridos.
O comitê de coordenação da iniciativa reportou objetos não-identificados atirados contra as embarcações, com danos materiais, além de 13 explosões nos arredores. Tripulantes registraram explosões, sinalizadores e interrupção nos sistemas de comunicação.
Drones borrifaram ainda uma substância desconhecida sobre um dos barcos, com cheiro de pólvora, notaram ativistas a bordo de uma das embarcações.
Segundo detalhes obtidos por Francesca Albanese, relatora especial das Nações Unidas para os direitos humanos nos territórios ocupados, ao menos sete disparos alvejaram os barcos, após 15 drones serem vistos sobrevoando a flotilha.
Albanese pediu proteção urgente aos ativistas: “Tirem as mãos da flotilha”.
Conforme os organizadores, Israel lança mão de uma campanha de desinformação para justificar eventuais ações militares contra o comboio humanitário. No entanto, ataques à flotilha, reiteraram, constituem crime de guerra sob a lei internacional.
O incidente corre na esteira de ataques similares em 8 e 9 de setembro contra a iniciativa corrente, com os barcos ainda ancorados na Tunísia.
Coincide também com a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, neste ano, marcada por reconhecimento de países ocidentais do Estado palestino, incluindo França, Reino Unido, Portugal, Canadá e Austrália.
“Tais táticas de intimidação”, destacou a flotilha, em nota online, “ocorrem no mesmo dia que membros da ONU reivindicam maiores ações contra o genocídio de Israel. O tanto de recursos e esforço postos para parar uma missão humanitária ressalta o intento capcioso de manter os palestinos famintos”.
A flotilha, no entanto, reafirmou: “Não seremos dissuadidos. Nossa presença no mar é em desafio direto a este bloqueio criminoso, que mata de fome crianças, mulheres e homens palestinos em Gaza”.
“Seguimos o exemplo do povo palestino, resiliente, imbatível, ao navegarmos rumo a uma Palestina livre”, acrescentou.
Os últimos ataques incidiram na chamada zona de busca e resgate da Grécia, com apelos da flotilha por pressão ao governo em Atenas por proteção da Guarda Costeira. A Itália, de sua parte, enviou um navio ao Mediterrâneo Oriental.
O ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, anunciou o desvio de uma embarcação de patrulha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para escoltar o comboio e, se preciso, conduzir operações de resgate.
A medida sucede uma greve geral pró-Palestina que paralisou a Itália. Trata-se do primeiro país ocidental a agir em termos militares na conjuntura atual, conforme responsabilidade prevista na Convenção de Proteção e Prevenção do Genocídio, de 1948.
A Flotilha Global Sumud, com centenas ativistas de ao menos 44 países, incluindo Brasil, partiu de Barcelona, na Espanha, no fim de agosto, rumo a pontos de encontro na Tunísia e Malta, no Mediterrâneo.
Entre os tripulantes, estão a ativista sueca Greta Thunberg, o brasileiro Thiago Ávila, o ator irlandês Liam Cunningham e a ex-prefeita de Barcelona, Ada Colau.
Duas iniciativas prévias — com apenas um barco cada: Madleen, em junho, e Handala, no mês seguinte — foram interceptadas ilegalmente em alto-mar por Israel.
Israel mantém embargo quase absoluto à assistência humanitária a Gaza, ao assumir o controle da distribuição mediante a chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês), mecanismo militarizado responsável por mais de mil mortes.
As ações israelenses, investigadas como genocídio pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, deixaram ao menos 65 mil mortos e dois milhões de desabrigados, sob cerco, destruição e fome, desde outubro de 2023.
No início de setembro, a Organização das Nações Unidas (ONU), através do consórcio da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), declarou oficialmente a fome generalizada em Gaza, com centenas de milhares afetados.
Nas semanas seguintes, o Comitê Internacional Independente de Inquérito da ONU, após análise extensa, confirmou o genocídio.
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