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Estados Unidos de Israel: Deputados incitam críticas por viagem bipartidária

24 de setembro de 2025, às 05h13

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, discursa em Washington DC, Estados Unidos, em 4 de fevereiro de 2025 [Celal Günes/Agência Anadolu]

Duzentos e cinquenta deputados americanos passaram uma semana em Israel para uma conferência denominada “50 estados, um Israel”, em meio a condenações que cruzaram as fronteiras do espectro político.

O ministro de Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, realizou lobby sobre o Capitólio pela visita, com intuito de aprovar uma legislação anti-BDS — Boicote, Desinvestimento e Sanções, movimento da sociedade civil nos moldes da luta antiapartheid —, no contexto de crescente isolamento de seu país na arena internacional.

Saar afirmou aos deputados que seu regime estaria submetido “a um esforço coordenado global … para eliminar o Estado de Israel” e que o país e seus aliados no exterior deveriam reagir com firmeza.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deu as boas-vindas.

A visita — a maior na história — ocorreu em um momento particularmente tenso, após Tel Aviv atacar o Catar, em 9 de setembro, junto a bombardeios intensificados e uma invasão por terra à Cidade de Gaza, bem como o assassinato, em solo americano, do militante de extrema-direita Charlie Kirk.

Cidadãos americanos de todo espectro político tomaram as redes sociais para denunciar a turnê. Usuários das redes sociais ecoaram uma mesma preocupação: Estaria a América “ocupada”?

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Um vídeo de uma sala repleta de congressistas sob a serenata de “Somewhere Over the Rainbow” — canção do clássico O mágico de Oz — circulou online, sob comentários que descreviam a cena como “bizarra” e “humilhante”.

Figuras pró-Palestina entraram no debate. O imã palestino-americano Omar Suleiman foi ao Twitter (X) para alertar que os Estados Unidos vive um “grave problema”. O acadêmico Seyed Mohammad Marandi aludiu ao lema reacionário “America first” — ou “América em primeiro lugar” —, ao citar as imagens junto ao antônimo: “America last”.

O satirista egípcio Bassem Youssef fez piada, ao notar que o nome “50 estados, um Israel” afinal seria “bastante honesto”.

O 51º estado

Outros comentaristas, liberais e conservadores, ressoaram este ponto, ao observar que a viagem não poderia ser vista como surpreendente, mas sim coerente com um consenso bipartidário pelo apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel.

“Admissão extraordinária, porque Israel é de fato o 51º estado dos Estados Unidos: o mais importante, com um grande orçamento disponível”, tuitou um usuário.

Muitos cidadãos destacaram hipocrisia: enquanto líderes de ambos os partidos insistem em criticar cotidianamente a eventual influência da China ou Rússia, tratam Israel como exceção, com manifestações abertas de alinhamento e mesmo subjugação.

“Se fosse a Rússia”, argumentou uma postagem, “todo democrata pegaria em armas, ao ver políticos eleitos fazendo juras a um país estrangeiro, ao insinuá-lo como extensão dos Estados Unidos”.

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Outros usuários notaram coincidência entre a visita e o assassinato de Kirk. “Desde sua morte, duzentos e cinquenta congressistas viajaram a Israel pelo projeto ’50 estados, um Israel’; a Câmara proibiu o Pentágono de boicotar Israel, com US$650 milhões em suporte militar, e mesmo propôs um projeto para revogar os passaportes de cidadãos americanos que, porventura, critiquem Israel”, detalhou James Li, comentarista político, em um vídeo com um milhão de visualizações.

Ativistas antecipam novas leis repressivas, sobretudo no que concerne Israel.

“Enquanto a maioria dos americanos [sic] lamenta a morte de Kirk, duzentos e cinquenta legisladores de ambos os partidos, representando os 50 estados — cinco de cada estado — estão em Israel”, pranteou um usuário de direita na rede social X. “Sinto que, enquanto muita gente especula sobre o envolvimento de Israel na morte de Kirk [sic], nos próximos meses, esses mesmos deputados vão buscar leis específicas para Israel”.

Um usuário ressaltou que a viagem coincidiu com o reconhecimento das Nações Unidas do genocídio israelense em Gaza, com quase 65 mil mortos em quase dois anos: “Nunca esqueça que, enquanto a ONU concluía que Israel comete genocídio em Gaza, centenas de deputados americanos viajaram a Israel para demonstrar que estão a bordo para este crime flagrante contra a humanidade”.

Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 16 de setembro de 2025

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.