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Hamas posta ‘adeus’ aos 48 prisioneiros de guerra, conforme Israel avança em Gaza

21 de setembro de 2025, às 06h30

Montagem divulgada pelo grupo palestino Hamas mostra os 48 prisioneiros de guerra ainda em Gaza, após escalada de Israel [Brigadas Izz ad-Din al-Qassam/Reprodução]

As Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, braço armado do grupo palestino Hamas, divulgaram uma “mensagem de adeus” aos 48 prisioneiros de guerra israelenses ainda em custódia, ao passo que o exército ocupante segue com a destruição da Cidade de Gaza.

A compilação, compartilhada online neste sábado (20), mostra os rostos dos prisioneiros de guerra, vivos e mortos, cada qual sobre a legenda “Ron Arad”, em referência ao capitão da Força Aérea israelense desaparecido no Líbano em 1986.

A aeronave F-4 Phantom de Arad sofreu uma detonação prematura durante um ataque ao sul do Líbano, então capturado pelo movimento Amal e entregue ao Hezbollah. Acredita-se que Arad morreu, mas não há prova conclusiva de seu destino.

A imagem acompanhou o texto: “Devido à recusa de Netanyahu e à capitulação de Zamir, dizemos adeus, conforme se inicia a operação na Cidade de Gaza”.

Trata-se de alusão à persistente negativa do premiê israelense Benjamin Netanyahu a um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros, bem como expansão da campanha por ar e terra ordenada pelo chefe militar Eyal Zamir, após meses de objeção pública.

Autoridades israelenses creem que 20 dos prisioneiros ainda estão vivos.

Famílias dos reféns, contudo, acusam Netanyahu de obstruir o acordo em causa própria, sob receio de colapso de seu governo e eventual prisão por corrupção, nos três casos em curso na Justiça israelense.

Neste entremeio, o primeiro-ministro manteve seu tom belicista, ecoado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao prometer “destruir” o Hamas e deferir, no início do mês, a ocupação plena de Gaza, a começar pela cidade homônima.

O Hamas, de sua parte, alertou que a escalada impõe risco de vida não apenas aos civis palestinos, mas também aos israelenses em custódia, “espalhados pelos vários bairros” da Cidade de Gaza.

O adeus do Hamas antecede em horas protestos marcados para Tel Aviv e outras cidades israelenses, com expectativa de centenas de milhares, contra a intransigência do governo e pelo fim imediato da guerra.

Mais cedo, em setembro, o Hamas divulgou um vídeo com dois soldados capturados, um mês depois de surgirem imagens de outros dois emaciados pela fome. Em resposta, suas famílias em Israel ampliaram pressão ao gabinete em Tel Aviv.

O Hamas responsabilizou Israel pelo destino dos colonos, ao notar que nem a fome, nem os bombardeios fazem diferenciação das vítimas. Nesta semana, uma ex-refém acusou Netanyahu de “encomendar sua morte”.

Em Gaza, a campanha é de extermínio, em retaliação e punição coletiva a uma operação transfronteiriça do Hamas de 7 de outubro de 2023, que capturou cerca de 240 colonos e soldados. Desde então, ações militares falharam em resgatá-los.

Israel alega que 1.200 pessoas morreram pelas ações do Hamas, na ocasião; no entanto, gravações militares obtidas pelo jornal israelense Haaretz confirmam “fogo amigo”, com ordens de comandantes da ocupação para impedir a tomada de reféns.

Os ataques indiscriminados de Israel deixaram ao menos 65 mil palestinos mortos, além de 166 mil feridos e dois milhões de desabrigados sob cerco, destruição e fome.

Desde 18 de março, quando Tel Aviv revogou unilateralmente um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros, são ao menos 12.600 palestinos mortos e 54 mil feridos. Somente nesta semana, estima-se 400 mil deslocados à força da Cidade de Gaza.

As ações israelenses foram reconhecidos como genocídio pela Comissão Independente de Inquérito das Nações Unidas, após dois anos de análise extensa.

Em novembro passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, emitiu mandados de prisão a Netanyahu e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos em Gaza.

O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.

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