Encerrado hoje em Fortaleza, o Encontro Nacional pela Democratização da Comunicação (ENDC), promovido pelo FNDC – Fórum do mesmo nome, que reúne representações de todas as regiões brasileiras, aprovou moções de repudio e recomendações em relação a cobertura da mídia sobre o genocídio do povo palestino.
Em uma das moções, o encontro repudiou o assassinato de jornalistas por Israel em Gaza e cobrou urgente posicionamento das empresas de comunicação contra os crimes de Israel contra profissionais da imprensa, conforme pediu na semana passada o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) em nota pública.
O FNDC soumou-se à manifestação do Conselho que insta as empresas de mídia no Brasil a serem mais enfáticas na responsabilização de Israel pelas mortes em série de jornalistas em Gaza, posicionando-se contra o genocídio, exigindo proteção ao trabalho de imprensa e ao direito de acesso à informação, e o cumprimento do Direito Internacional.
Elencando uma série de fatos relacionados a uma política de banimento da atuação da imprensa nos ataques à Gaza, através do desmonte de instalações, proibições e matança deliberada de jornalistas, o Conselho enfatiza, entre outras considerações, que:
˜O assassinato de jornalistas em Gaza é a negação criminosa do direito palestino de expor sua realidade e mobilizar a comunidade internacional, a sociedade civil e governos como o do Brasil, para a tomada das medidas urgentes que venham interromper o massacre e devolver o direito do povo palestino à vida e ao controle de sua terra. Mais do que isso, normaliza o genocídio como política de Estado e ameaça, com isso, a todos os povos do mundo que devem ser protegidos pela Carta Mundial dos Direitos Humanos e a todos os Estados que vêm ameaçado o próprio Direito Internacional˜
˜A falta de posicionamento ativo da mídia, quando a parte fundamental de sua missão de informar é violada deliberadamente, só vem reforçar um alinhamento das coberturas ocidentais à abordagem adotada por Israel e seus aliados para justificar a matança desenfreada e o assalto à Gaza. Nessa linha editorial, ao noticiar as mortes que se acumulam a cada dia em Gaza, o deslocamento de uma população ferida e atordoada pela fome e a invasão de tanques para a tomada de terras alheias, a imprensa remete sempre a responsabilidade pelos fatos que noticia ao 7 de outubro de 2023 e renega a história de um genocídio que começou bem antes e impunemente – quando nem era televisionado.˜
˜A mídia deve ser expressão das cobranças da sociedade por justiça e isso inclui o dever de agir urgentemente contra um genocídio que tenta se esconder a cada assassinato de um jornalista palestino.˜
Em total concordância, o FNDC endossou a nota do CNDH e repudiou o silenciamento da cobertura do genocídio explicitado no assassinato de jornalistas.
Um curso para jornalistas
Outra manifestação do ENDC referente à relação entre mídia e a situação palestina foi de aplauso à criação do Coletivo Shireen Abu Akleh de jornalistas contra o genocídio e a um curso sobre a cobertura da situação Palestina. A plenária do encontro observou que o novo coletivo de jornalistas está se empenhando em contribuir para a cobertura dos acontecimentos atuais em Gaza e históricos na Palestina sob ocupação israelense, dentro dos princípios do jornalismo independente e atua preocupado com o silenciamento das vozes locais de jornalistas através dos assassinatos deliberados dos profissionais que tentam enviar informações de campo sobre a situação dos palestinos sob ataque. Por decisão do encontro, o FNDC passa a apoiar um curso iniciado pelo coletivo que visa: o enfrentamento e correção das distorções presentes na cobertura vinda de agências internacionais apoiadas por Israel e reproduzidas na mídia brasileira; a contextualização da história da Palestina especialmente no último século sob ocupação; à transmissão de informações locais de fontes que resistem ao silenciamento. Como forma de apoio, o FNDC divulgará as próximas aulas e as recomendará aos jornalistas interessados em conhecer a narrativa palestina sob os ataques atuais, já que a narrativa israelense é fartamente reproduzida pela mídia brasileira.
A plenária final do ENDC também recomendou ao FNDC que despenda esforços para mapear e analisar a cobertura da grave situação da Palestina pelos veículos de imprensa brasileiros de modo a identificar e orientar contra distorções habituais, devido à falta de conhecimento no Brasil sobre os antecedentes da atual situação da Palestina e o tratamento jornalístico que invisibiliza os direitos violados do povo palestino pela ocupação sionista.
As moções foram propostas durante mesa de debates realizada pelo MEMO, Fórum Latino-Palestino, Frente Palestina-SP e Fenaj, com as participações Soraya Misleh, Samira Castro, Karina Garcez e Ahmad Alzoubi, e mediada pela jornalista Rita Freire.








