O Tribunal de Gaza, evento de dois dias que reúne especialistas e testemunhas, voltado a investigar os crimes israelense e o papel britânico no genocídio, teve início nesta quinta-feira (4), em Londres, reportou a agência de notícias Anadolu.
O fórum conta com acadêmicos, jornalistas, profissionais de saúde, políticos e vítimas, a fim de examinar e obter testemunhos sobre o “papel do Reino Unido nos crimes de guerra conduzidos por Israel em Gaza”.
Na abertura do evento, Shahd Hammouri, professora de lei internacional na Universidade de Kent, observou que ouvir testemunhas é “um dever moral” ao devido processo.
Diante dos padrões históricos, políticos, econômicos e militares dos acontecimentos em Gaza, Hammouri advertiu para incidência em breve na Cisjordânia. Segundo Hammouri, o genocídio há quase dois anos integra “um longo projeto de colonização”.
Sobre o evento, apontou: “Hoje, prestamos tributo à democracia, à justiça, à humanidade em comum — neste momento histórico e determinante”.
Após as introduções, a conferência seguiu com testemunhos, incluindo de Nick Maynard, cirurgião britânico que retornou há pouco de sua terceira turnê por Gaza, e que concedeu evidências de ataques diretos a hospitais e trabalhadores de saúde.
“Hospital estão sendo alvejados deliberadamente, temos visto isso todos os dias”, notou Maynard, consultor gastrointestinal da Universidade de Oxford.
Ao notar sua passagem pelo Hospital Nasser, Maynard recordou um duplo bombardeio há duas semanas, incluindo a morte de jornalistas.
O médico observou também sequestros na categoria, com ao menos 450 profissionais de saúde abduzidos por Israel, entre outros mortos e feridos.
Hala Sabbah, cofundadora do Projeto Sameer — iniciativa palestina para levar doações a Gaza — destacou a baixa incidência de caminhões humanitários autorizados a entrar no enclave, sob cerco israelense e catástrofe de fome reconhecida pela ONU.
Sitiadas, dezenas de crianças morreram por falta de medicamentos, ressaltou Sabbah, ao indicar o período extremo desde 2 de março, com embargo total por parte de Israel, após rescindir um acordo de cessar-fogo com o Hamas.
“A ajuda é controlada meticulosamente pelo exército ocupante”, acrescentou.
Sabbah relembrou igualmente da mortalidade infantil.
Ao criticar a política britânica, realçou o índice baixíssimo de crianças de Gaza aprovadas a tratamento no Reino Unido, enquanto países como Itália e Espanha recebem centenas em seus hospitais.
“O Reino Unido não apenas nos mata ativamente, mas nos recusa”, asseverou, ao acusar o país de “cumplicidade com o genocídio … ainda antes de 7 de outubro de 2023”.
Outra testemunha, o jornalista palestino Abubaker Abed compartilhou seu relato sobre a desnutrição e os ataques deliberados a sua categoria, antes de ser evacuado à Irlanda em fevereiro deste ano.
“O que vemos em Gaza”, recordou Abed, “é uma extensão do que Israel faz em Gaza nos últimos 20 anos, desde o início de seu bloqueio”.
Ao criticar a cobertura das grandes agências de imprensa, Abed alertou que falharam para com os palestinos e desmentiu que seus colegas mortos seriam membros do Hamas, ao lembrar seu trabalho independente em condições extremas.
O encontro, na Church House de Westminster, tem como anfitrião Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, assim como participação prevista de Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os direitos humanos nos territórios ocupados.
Corbyn divide a mediação com Hammouri e Neve Gordon, professor israelense de direito internacional da Universidade de Queen Mary, também em Londres.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há quase dois anos, com ao menos 63 mil mortos e dois milhões de desabrigados, sob cerco, destruição e fome. Dentre as mortes, ao menos dezoito mil são crianças.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade em Gaza.
O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024. Governos e empresas cúmplices podem ser implicados ao longo do processo.
![Neve Gordon, professor do Departamento de Direito Internacional da Universidade de Queen Mary, durante abertura do Tribunal de Gaza, em Londres, Reino Unido, em 4 de setembro de 2025 [Zuhal Demirci/Agência Anadolu]](https://www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/09/AA-20250904-39020482-39020479-GAZA_TRIBUNAL_EXAMINING_BRITAINS_ROLE_IN_ISRAELI_WAR_CRIMES_KICKS_OFF_IN_LONDON-1-1.webp)