Tom Barrack, embaixador dos Estados Unidos na Turquia e enviado especial para a Síria, causou indignação na última terça-feira (26) após pedir “civilidade” a jornalistas em Beirute, capital do Líbano, durante coletiva de imprensa.
“Fiquem quietos um instante”, repreendeu o diplomata, após um encontro com o presidente Joseph Aoun na sede do executivo. “Assim que isso aqui virar um caos, que agirem como animais, estamos fora. Então, querem saber o que acontece? Ajam civilizadamente, ajam com gentileza e tolerância, porque isso é o problema com vocês aqui na região”.
Na rede social X (Twitter), a presidência libanesa emitiu uma declaração para “lamentar” os comentários de Barrack, sem nomeá-lo, ao descrever o ataque como “inadvertidamente feito, deste palanque, por um de nossos convidados”. O gabinete insistiu em seu “absoluto respeito à dignidade humana” e reafirmou sua “total consideração por jornalistas e representantes creditados da imprensa”.
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Organizações de mídia libanesas, no entanto, condenaram a fala e exigiram um pedido público de desculpas do emissário americano.
Para o sindicato local que representa os fotojornalistas, a declaração de Barrack representa um “insulto direto” a toda a categoria. Para Sindicato de Editores do Líbano, o tom foi “absolutamente inaceitável” e alertou que, caso não haja desculpas, pode incorrer em boicote da cobertura midiática a suas eventuais visitas.
O Sindicato dos Jornalistas reiterou que a declaração de Barrack não se trata de “um mero ato falho ou postura individual, mas sim o reflexo de um inaceitável senso de superioridade ao lidar com a imprensa e desdém subentendido à própria essência do trabalho jornalístico”. Para a entidade, ainda além, o diplomata exprimiu “uma arrogância colonial de raízes profundas, em relação aos povos da região”.
Outros jornalistas e comentaristas seguiram essa linha de pensamento.
Em entrevista à Al Jazeera, Mohamad Hasan Sweidan, colunista da Cradle Media, radicada em Beirute, caracterizou o surto como “caso clássico de gesto colonial” e “parte de uma sequência de incidentes que reflete como o Ocidente ainda vê os povos do chamado Sul Global”.
Segundo Paula Yacoubian, jornalista e hoje parlamentar, as palavras de Barrack “desnudam a decadência da diplomacia ocidental”. Para Diana Moukalled, cofundadora da rede Daraj, a retórica adotada “expõe uma mentalidade vazia e paternalista, que enxerga os libaneses não como parceiros, mas como ‘marginais’ a serem disciplinados”.
Em postagem no Facebook, Riad Kobaissi, um repórter da emissora local al-Jadeed, notou incoerência: “Aqueles que pedem ao Líbano para ser um Estado forte devem saber tolerar as perguntas dos jornalistas, não sugerir que são ‘animais’”.
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A indignação nas redes transbordou às ruas.
Barrack cancelou sua visita às cidades de Khiam e Tiro, no sul do Líbano, em meio a protestos contra o episódio e contra a pressão de Washington por desarmar o Hezbollah e grupos de resistência no país, em meio à contínua agressão de Israel.
Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 27 de agosto de 2025
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![Tom Barrack, embaixador dos Estados Unidos na Turquia e enviado especial para a Síria, durante coletiva de imprensa em Beirute, no Líbano, em 18 de agosto de 2025 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]](https://www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/09/AA-20250818-38859943-38859939-US_AMBASSADOR_TO_ANKARA_AND_SPECIAL_ENVOY_FOR_SYRIA_TOM_BARRACK_IN_LEBANON.jpg)