Um tuíte postado na conta oficial do governo israelense, em árabe, deflagrou uma onda de condenação nas redes sociais, nesta semana, após alegar que o aumento de mesquitas na Europa — de supostamente menos que cem em 1980 a 20 mil em quatro décadas — seria a “verdadeira face da colonização”.
A postagem, de 25 de agosto, incluiu um mapa das mesquitas europeias com linguagem notavelmente inflamatória e alegações de violência e doutrinação.
Apesar de reconhecer a liberdade de culto como “direito humano fundamental”, a página israelense insistiu que “o verdadeiro perigo repousa nos conteúdos ensinados em algumas dessas mesquitas”, ao supostamente “encorajarem a escalada de violência nas ruas da Europa [e] disseminarem o ódio pelo outro”. Para Tel Aviv, portanto, governos europeus “têm de acordar e remover essa quinta coluna”.
“Quinta coluna” é um termo originário da Guerra Civil Espanhola, referente a um grupo ou entidade em um país em guerra que trabalha pelos interesses inimigos.
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Retórica extremista
Usuários nas redes sociais denunciaram o tuíte como parte de uma campanha islamofóbica contra comunidades inteiras na Europa, ao ecoar tópicos conspiratórios e estereótipos utilizados por células de extrema-direita.
“A ideologia oficial do Estado de Israel é uma guerra global contra os muçulmanos”, disse um usuário. Outro questionou: “Qual seria a reação se um Estado árabe escrevesse o mesmo sobre judeus e suas sinagogas?”.
“Em um momento no qual o racismo islamofóbico na Europa atinge níveis sem precedentes — evidenciado pelo fato de que um a cada dois muçulmanos relata vivenciar discriminação diária —, essa linguagem fere ainda mais a segurança e o bem-estar de milhões”, alertou um terceiro.
Outro traçou um paralelo entre a retórica israelense e o partido anti-imigração alemão: “Até mesmo a AfD [Alternativa para Alemanha] não tuita algo como ‘a Europa deve acordar e remover essa quinta coluna’ sobre um mapa de mesquitas”.
Ao notar as alianças crescentes entre partidos europeus conhecidos por vieses supremacistas, sobretudo islamofóbicos, outra conta indicou que Israel se posiciona estrategicamente como “modelo a seguir para a extrema-direita internacional”. Segundo o usuário, ao reproduzir um “surto insano de ódio contra os muçulmanos”, Israel seria “um dos últimos Estados na Terra com credibilidade alguma para dar sermão sobre doutrinação e ódio”.
Muitos apontaram que a migração árabe-islâmica à Europa não pode se separar de décadas de guerras, invasões e deslocamento sobre os quais o regime israelense exerceu um papel direta ou indiretamente: “É hipocrisia alertar contra a migração quando são suas guerras em Gaza, Cisjordânia, Líbano e Síria que causam boa parte do deslocamento. Muçulmanos só querem viver e criar seus filhos sem serem subjugados ou bombardeados”.
Colonização?
Diante das grandes comunidades islâmicas na Europa — de 45 a 50 milhões de pessoas hoje, aproximadamente 7% da população, conforme o Centro de Pesquisa Pew e o Informe Político FAF —, notou um usuário do Reddit: “Quem sabe se não deslocassem os muçulmanos e destruíssem suas casas no Oriente Médio, ninguém precisaria ir à Europa para ter uma vida melhor, para começo de conversa”.
“Israel invadiu Oriente Médio, desestabilizou a região, expulsou muçulmanos às pencas, e ainda não quer eles vivam em nenhum outro lugar?”, tuitou um ativista.
Muitos ressaltaram a escolha do idioma: embora endereçado à Europa, em árabe: “Eles não sabem que o idioma oficial na Europa não é o árabe? Trata-se de um rito de humilhação e uma ameaça aos eventuais leitores”.
Houve ainda imprecisão do mapa — “em muitos níveis” — e “curiosidade” sobre as fontes em torno das cem mesquitas na década de 1980. “A Espanha tem mais de duas mil mesquitas, especialmente por conta da passagem dos mouros”, recordou um usuário, ao ressaltar a implausibilidade do pressuposto israelense, com simples menção à historiografia.
Ao retratar as mesquitas na Europa como ferramenta de “colonização”, muitos denunciaram uma inversão tipicamente supremacista por parte de Israel, que ostenta planos para construir um suposto templo da Antiguidade dentro do complexo islâmico de Al-Aqsa, em Jerusalém ocupada: “Então construir mesquitas é colonização, mas construir seu ‘Terceiro Templo’ não é? Estado maluco”.
Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 28 de agosto de 2025
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![Tuíte da conta oficial de Israel em árabe reproduz conspiração supremacista [X/Reprodução/Screengrab]](https://www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/09/COVER-TEMPLATE-FOR-SOCIAL-ARTICLES_4.png-1200x675.webp)