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Cólera se espalha em Darfur, sob colapso de saúde causado pela guerra

29 de agosto de 2025, às 14h14

Criança tratada para cólera em quarentena do Hospital Bashayer, ao sul de Cartum, capital do Sudão, em 31 de maio de 2025 [AFP/Getty Images]

O surto de cólera que toma Darfur, no Sudão, está se espalhando rapidamente diante do colapso do sistema de saúde e piora humanitária sob a guerra, ressaltou nesta sexta-feira (29) grupos e monitores locais, segundo informações da agência Anadolu

Ao menos 8.569 infecções e 361 mortes foram registradas em Darfur até quarta-feira (27), segundo a Coordenaria Geral para Refugiados e Pessoas Deslocadas. As vítimas são, em maioria, mulheres e crianças.

O surto se agravou devido a campos superlotados e cerco a cidades e aldeias.

Tawila, em Darfur do Norte, registrou recordes, com 4.850 diagnósticos, seguido por Golo, em Jebel Marra, com 1.290 casos, e Kalma, com 435 casos e 64 mortes, além de dezenas em Otash e outros campos.

“Darfur vive sua pior crise”, notou Adam Rajal, porta-voz do comitê local. “A vida se tornou insustentável devido a epidemias, fome e uma guerra que mata em silêncio”.

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Segundo seu alerta, a região enfrenta “carência crítica de medicamentos”, com pacientes forçados a caminhar de duas a oito horas para chegar aos poucos centros de quarentena ainda operantes.

O conflito entre o exército regular sudanês e seus ex-aliados paramilitares — conhecidos como Forças de Suporte Rápido (FSR) —, em seu terceiro ano, arrasou a infraestrutura de saúde da região de Darfur.

Hospitais sofrem falta de soluções orais e intravenosas para desidratação, primeira etapa para tratar a cólera, apesar de reiterados apelos internacionais pelo envio de suprimentos e medicamentos à região.

Em âmbito nacional, o Ministério da Saúde registrou 102.831 casos e 2.561 mortes desde agosto de 2024, quando a epidemia foi declarada.

A ong Médicos Sem Fronteiras (MSF) documentou 40 óbitos por cólera em Darfur em uma única semana de agosto, ao descrever o surto como “mais do que uma emergência”.

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“A epidemia se espalha agora para além dos campos de refugiados, a múltiplas áreas de Darfur e além”, insistiu Tuna Turkmen, chefe de missão da MSF. “A resposta internacional deve incluir água potável, saneamento e vacinas, para evitar novas mortes”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou casos em todos os 18 estados do país, com alertas simultâneos para surtos de sarampo e malária, sobretudo em Tawila e em el-Fasher, sitiada pelas forças paramilitares.

A jornalista local Nemat al-Haj classificou el-Fasher como “a cidade mais atingida”, com somente um hospital funcionando em 20% da capacidade e medicamentos para doenças crônicas se esgotando rapidamente.

“A epidemia se espalha em el-Fasher e seus arredores, como Tawila, Jebel Marra e Shangil Tobaya”, destacou.

A cólera coincide com o conflito, com 20 mil mortos e 14 milhões de deslocados à força, segundo a ONU e autoridades locais. Pesquisas independentes, no entanto, estimam até 130 mil fatalidades pela guerra.

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