O surto de cólera que toma Darfur, no Sudão, está se espalhando rapidamente diante do colapso do sistema de saúde e piora humanitária sob a guerra, ressaltou nesta sexta-feira (29) grupos e monitores locais, segundo informações da agência Anadolu.
Ao menos 8.569 infecções e 361 mortes foram registradas em Darfur até quarta-feira (27), segundo a Coordenaria Geral para Refugiados e Pessoas Deslocadas. As vítimas são, em maioria, mulheres e crianças.
O surto se agravou devido a campos superlotados e cerco a cidades e aldeias.
Tawila, em Darfur do Norte, registrou recordes, com 4.850 diagnósticos, seguido por Golo, em Jebel Marra, com 1.290 casos, e Kalma, com 435 casos e 64 mortes, além de dezenas em Otash e outros campos.
“Darfur vive sua pior crise”, notou Adam Rajal, porta-voz do comitê local. “A vida se tornou insustentável devido a epidemias, fome e uma guerra que mata em silêncio”.
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Segundo seu alerta, a região enfrenta “carência crítica de medicamentos”, com pacientes forçados a caminhar de duas a oito horas para chegar aos poucos centros de quarentena ainda operantes.
O conflito entre o exército regular sudanês e seus ex-aliados paramilitares — conhecidos como Forças de Suporte Rápido (FSR) —, em seu terceiro ano, arrasou a infraestrutura de saúde da região de Darfur.
Hospitais sofrem falta de soluções orais e intravenosas para desidratação, primeira etapa para tratar a cólera, apesar de reiterados apelos internacionais pelo envio de suprimentos e medicamentos à região.
Em âmbito nacional, o Ministério da Saúde registrou 102.831 casos e 2.561 mortes desde agosto de 2024, quando a epidemia foi declarada.
A ong Médicos Sem Fronteiras (MSF) documentou 40 óbitos por cólera em Darfur em uma única semana de agosto, ao descrever o surto como “mais do que uma emergência”.
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“A epidemia se espalha agora para além dos campos de refugiados, a múltiplas áreas de Darfur e além”, insistiu Tuna Turkmen, chefe de missão da MSF. “A resposta internacional deve incluir água potável, saneamento e vacinas, para evitar novas mortes”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou casos em todos os 18 estados do país, com alertas simultâneos para surtos de sarampo e malária, sobretudo em Tawila e em el-Fasher, sitiada pelas forças paramilitares.
A jornalista local Nemat al-Haj classificou el-Fasher como “a cidade mais atingida”, com somente um hospital funcionando em 20% da capacidade e medicamentos para doenças crônicas se esgotando rapidamente.
“A epidemia se espalha em el-Fasher e seus arredores, como Tawila, Jebel Marra e Shangil Tobaya”, destacou.
A cólera coincide com o conflito, com 20 mil mortos e 14 milhões de deslocados à força, segundo a ONU e autoridades locais. Pesquisas independentes, no entanto, estimam até 130 mil fatalidades pela guerra.
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