O dr. Mohammed Saqer, diretor da maternidade do Hospital Nasser, em Khan Younis, no sul de Gaza, denunciou o exército israelense por atacar deliberadamente uma conhecida base de jornalistas dentro do complexo médico, reportou a agência Anadolu.
Em vídeo publicado nesta quinta-feira (28), Saqer desmentiu a alegação de Israel de que haveria uma câmera do grupo Hamas no quarto andar do prédio de cirurgia: “Esta área, as escadarias próxima às salas de operações, é uma base de jornalistas. Todos nós sabemos que este é um ponto de encontro. Lá, posicionam as câmeras de imprensa e transmitem notícias a agências locais e internacionais. Não é segredo. É algo que Israel — como todo mundo — sabe”.
Saqer indicou que as autoridades ocupantes poderiam ter contactado o hospital antes do ataque: “Sabem quanto somos. Às vezes, entram em contato. Se não queriam jornalistas no quarto andar, poderíamos ter dado um jeito. Não é complicado. Pediríamos às equipes para evacuar a área. Mas essa é uma área que eles usam há um bom tempo para entregar as notícias”.
O médico condenou sobretudo o segundo ataque, quando socorristas seguiram ao local para resgatar os feridos: “O mais chocante é: por que a aeronáutica israelense alvejou os jornalistas e quando enviamos nossas equipes humanitárias, para ajudá-los, atacaram de novo? Qual a razão disso? Por que insistem em nos matar? Estamos trabalhando em uma área humanitária, uma instalação de saúde. Deveríamos estar protegidos sob as regras e leis internacionais”.
Ao menos 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas e um bombeiro, foram mortos, além de dezenas de feridos, nesta segunda-feira (25) por um ataque aéreo israelense ao Hospital Nasser de Khan Younis.
Entre as vítimas, Hussam al-Masri, cinegrafista da Reuters; Mohammad Salama, fotógrafo da Al Jazeera; Mariam Abu Daqqa, fotojornalista da Associated Press; e Moaz Abu Taha e Ahmed Abu Aziz, que colaboravam com redes regionais e internacionais.
Um sexto repórter — Hassan Douhan — foi morto a tiros em incidente paralelo, também em Khan Younis.
O ataque ao Hospital Nasser atraiu condenação internacional, inclusive entre a categoria. As rede Reuters e Associated Press reivindicaram responsabilização em carta conjunta à liderança israelense, alegando “indignação” pelas mortes de seus jornalistas.
O exército da ocupação reconheceu o ataque, mas insistiu não atacar “intencionalmente” repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, ao prometer um inquérito interno. Para as agências, no entanto, estes “raramente resultam em esclarecimento ou justiça”.
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Trabalhadores de imprensa são categoria protegida pela lei internacional. No entanto, são cerca de 246 mortos desde outubro de 2023, segundo dados oficiais.
O regime israelense trata comunicação como parte crucial de sua política de propaganda de guerra, em detrimento dos direitos da liberdade de imprensa, assim como dos direitos do público a transparência e informação.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há quase dois anos, com ao menos 62 mil mortos, 155 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob destruição e fome. Dentre as vítimas fatais, dezoito mil são crianças.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade em Gaza.
O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.
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