clear

Criando novas perspectivas desde 2019

“Foi decisão correta, razoável e humana”, diz Angela Merkel sobre acolhida da Alemanha a refugiados

Embora criticada, ex-chanceler alemã defendeu política migratória conduzida durante seu governo e abertura do país para refugiados, há dez anos

28 de agosto de 2025, às 13h23

Então Chanceler da Alemanha Angela Merkel durante cerimônia de abertura da Conferência Falling Walls, na Nova Galeria Nacional de Berlim, em 8 de novembro de 2014 [Michael Ukas/Getty Images]

A Alemanha foi um dos países que mais acolheram refugiados no auge do êxodo de sírios que chegaram à Europa fugindo da guerra, especialmente entre 2015 e 2016. A abertura foi uma decisão da então chanceler Angela Merkel, que falou sobre esse fato em entrevista à emissora pública alemã ARD, como parte de um documentário que foi ao ar na última segunda-feira (25/08).

Apesar de críticas sofridas desde então, até mesmo dentro de seu partido (CDU), a ex-chanceler disse que não se arrepende de sua decisão. Ela admitiu que o fato tem sido usado como pretexto para o endurecimento de políticas migratórias e para a ascensão de partidos de ultra e extrema-direita, como a AfD (sigla para Alternativa para a Alemanha), mas ressaltou que o país fez progressos significativos na integração desses migrantes.

“Isso certamente fortaleceu a AfD. Mas seria motivo para eu não tomar uma decisão que considero importante, correta, sensata e humana?”, disse Merkel, que foi a chefe de governo alemã de 2005 a 2021. “É um processo. Mas, até agora, conquistamos muito. E o que ainda precisa ser feito deve continuar sendo feito.”

O fato de Merkel ter aberto o país para acolhida dos migrantes em situação de refúgio levou a quedas em sua popularidade nos meses seguintes. Ela, contudo, vem se mantendo firme. Em outubro de 2015, a ex-chefe de governo alemã disse ao diário Bild que “as pesquisas não são a minha medida padrão” e que “faz parte da humanidade fundamental do nosso país acolher com simpatia um refugiado ou qualquer outro ser humano”.

LEIA: Alemanha aprova acordo de armas com Israel apesar de suposto embargo

Segundo dados do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, ao final de 2024 a Alemanha abrigava 2,7 milhões de pessoas nessa condição, ocupando a quarta colocação global entre os maiores países de acolhida. A liderança cabe ao Irã (3,5 milhões), seguida por Turquia (2,9 milhões) e Colômbia (2,8 milhões). A nação europeia representa uma exceção, pois os países que mais recebem refugiados geralmente fazem fronteira com localidades que enfrentam conflitos e crises humanitárias.

Tem recorrente

Essa não foi a primeira vez que Merkel defendeu a política migratória de seu governo depois de deixar o poder. Em sua autobiografia, lançada em 2024, a ex-chanceler afirmou que “a Europa deve sempre proteger suas fronteiras externas”, mas insistiu que “a prosperidade e o império da lei sempre farão com que a Alemanha e a Europa (…) sejam lugares para onde as pessoas querem ir”.

Na obra, Merkel pontuou ainda que “a falta de mão de obra faz com que a imigração legal seja essencial” e fez um alerta aos demais partidos alemães sobre a AfD, sobre a adoção de sua retórica “sem propor soluções concretas para os problemas existentes”.

Publicado originalmente em MigraMundo