Um vazamento obtido pelo Canal 12 da televisão israelense flagrou Aharon Haliva, major-general reformado e ex-chefe de inteligência militar de Israel, defendendo o morticínio em Gaza, como “mensagem necessária às futuras gerações”.
Para Haliva, os palestinos precisam sofrer “uma Nakba de vez em quando”, em referência ao vernáculo árabe para “catástrofe”, como os palestinos nativos descrevem a criação de Israel em 1948, mediante limpeza étnica planejada.
“O fato de que temos 50 mil mortos em Gaza [sic, números desatualizados] é necessário, fundamental às futuras gerações”, declarou o militar.
Para Haliva, ao corroborar dolo de punição coletiva — crime de guerra conforme o direito internacional —, os assassinatos em massa conduzidos em Gaza, sobretudo contra civis, seriam um “castigo preciso e justificado”.
‘Não há escolha, eles precisam de uma Nakba de vez em quando para saber as consequências”, insistiu.
O Canal 12 não divulgou data, mas os números de Haliva, 50 mil mortos, sugerem março, quando Israel rescindiu unilateralmente um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros firmado em janeiro com o movimento Hamas.
Em outro trecho, o ex-oficial confirmou intento de longa data na Cisjordânia, em criar um ambiente hostil e dar espaço a grupos rechaçados pela comunidade internacional, como o Hamas, para isolar a região e minar a ideia de dois Estados.
Segundo Haliva, um plano para desmantelar o Hamas foi esboçado após a campanha em Gaza de 2014, contudo, descartado.
“O Hamas é bom para Israel”, alegou o general, “é o que pensa Smotrich [Bezalel; ministro das Finanças, militante colonial]. Por quê? Porque se a cena palestina estiver instável, não precisamos negociar com eles. Logo, sem acordo [sobre um Estado palestino]”.
As gravações incitaram indignação entre ongs regionais e internacionais. Em nota na rede social x (Twitter), a ong israelense B’Tselem ressaltou que o discurso não é caso isolado, mas sim parte de um padrão de política deliberada de limpeza étnica.
Israel deflagrou seu genocídio em Gaza em outubro de 2023, como retaliação a uma ação transfronteiriça do Hamas que capturou colonos e soldados. Desde então, ao menos 62 mil palestinos foram mortos — dezoito mil, crianças.
Haliva, no entanto, culpou o Shin Bet, agência de inteligência interna de Israel, pelos incidentes de 7 de outubro.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, deferiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.
O Hamas tem declarado há meses intenções de firmar um acordo — sem aval israelense. Netanyahu é acusado de minar negociações por interesse próprio, sob receios de colapso de seu governo e eventual prisão por corrupção em três casos em curso.
Figuras como Smotrich e seu colega Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) rejeitam um cessar-fogo, ao ameaçar implodir o gabinete.
Em março, Israel rescindiu unilateralmente um acordo de janeiro para cessar-fogo e troca de prisioneiros, ao retomar seus ataques intensivos a Gaza, assim como cerco absoluto, culminando em uma catástrofe de fome.
O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana aceita em janeiro de 2024.
LEIA: Israel prende ministro da Cultura palestino após ataque de colonos na Cisjordânia
![Major-general Aharon Haliva, ex-chefe de inteligencia militar de Israel [Wikipedia/Reprodução]](https://www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2025/08/Aharon-Haliva.webp)