‘Sopa de letrinhas’: Nota do U2 sobre Gaza não passa de ‘pacifismo bilionário’

Middle East Eye
4 meses ago

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Bono, vocalista do U2, recebe Medalha da Liberdade do então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington DC, em 4 de janeiro de 2025 [Tom Brenner/Getty Images]

A enormemente popular banda irlandesa U2 emitiu uma extensa declaração sobre a guerra de extermínio travada por Israel contra a Faixa de Gaza, em 10 de agosto, domingo, mas que resultou somente em críticas generalizadas nas redes sociais, que caracterizaram a retórica como “pacifismo bilionário”.

Em nota, todos os quatro membros da banda compartilharam pontos de vista individuais sobre a situação em Gaza, ao tratar de diversos temas, como a fome no enclave, o embargo humanitário e a potencial tomada militar do território palestino.

A declaração parte de uma sentença de relações públicas: “Não somos especialistas na política da região, mas queremos que nosso público saiba como pensa cada um de nós”.

Os comentários do vocalista Bono (Paul David Hewson) devaneiam desde fake news como “estupros, assassinatos e sequestros de cidadãos israelenses no festival de música Nova” a sua interpretação de que “o Hamas não é o povo palestino”. A nota ecoa ostensivamente a tese israelense de “autodefesa”, bem como propaganda de guerra há muito desmentida, de que o Hamas usaria civis como escudos humanos.

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Todavia, insiste: “Benjamin Netanyahu [primeiro-ministro de Israel] merece, hoje, nossa condenação categórica e inequívoca”.

Para muitos usuários, não passa de uma “sopa de letrinhas”.

Ativistas criticaram desde a primeira sentença, de que não seriam “especialistas na política da região”, dado que a banda fizera comentários sobre a Ucrânia, em não mais que dois meses de invasão russa.

O U2 divulgou seu comunicado no mesmo dia em que o exército da ocupação israelense assassinou os correspondentes da rede internacional Al Jazeera Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, em um ataque a uma tenda de imprensa nos arredores do Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza. Morreram ainda Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa, da Al Jazeera, além do jornalista freelance Mohammed al-Khalidi.

Após a declaração de Bono, possivelmente a mais criticada dentre a banda, segue somente as falas de Larry Mullen Jr., baterista. Para ele, “após os ataques de 7 de outubro, Israel e seus aliados pediram a total obliteração do Hamas, o que era esperado”.

Fãs não deixaram de se indignar, ao reiterar que a guerra israelense contra os palestinos de Gaza, bem como da totalidade dos territórios ocupados, antecede em muito os acontecimento de outubro de 2023. Usuários online questionaram ainda por que Mullen sentiu tamanha necessidade em ressaltar este ponto de vista.

O sentimento geral foi de repúdio, com muitos dizendo que a banda, sobretudo Bono, seria uma “fraude”, ao “se abster da política quando lhe convém”.

Não é a primeira vez que Bono é criticado por seu humanitarismo seletivo. No episódio nove da 11ª temporada, o desenho satírico South Park escracha o vocalista, ao considerá-lo hipócrita — entre outras coisas.

Edge (David Howell Evans), principal guitarrista da banda, chegou a mencionar o plano do partido Likud, de Netanyahu, de conduzir limpeza étnica contra os palestinos na Cisjordânia e Gaza, para abrir caminho a sua “Grande Israel”. Caso se confirme, afirmou a nota, “não é paz, é expropriação, limpeza étnica e — segundo muitos juristas e especialistas — genocídio colonial”.

Usuários reconheceram que Edge foi o único a tratar aberta e diretamente das agressões israelenses contra os palestinos sob ocupação, que muitos países, bem como organizações e peritos internacionais, classificam como crime de guerra e contra a humanidade, incluindo genocídio.

Neste entremeio, enquanto vacila o U2, mais de 62 mil palestinos foram mortos por Israel, além de dois milhões de desabrigados sob cerco e fome, desde outubro de 2023. As vítimas são, em maioria, mulheres e crianças.

Algumas pessoas reafirmaram crescer ouvindo U2, no entanto, disseram não conseguir mais escutar as músicas, por conta de um persistente e conveniente histórico de capitulação ou omissão frente a “imperialistas e criminosos de guerra”.

Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 12 de agosto de 2025

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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