Ativistas lançaram uma onda de protestos em frente a embaixadas do Egito em capitais de todo o mundo, ao acusar o regime militar de Abdel Fattah el-Sisi de recusar ou colaborar com a negativa ao acesso humanitário a Gaza, sob cerco de Israel, tomado por uma catástrofe de fome sem precedentes.
De Suécia, Finlândia, Reino Unido, Irlanda e Espanha, a África do Sul, Líbia e Turquia, diversos protestos irromperam mundialmente ao reivindicar do Cairo que “rompa o cerco” e abra a travessia de fronteira de Rafah, com o lado palestino.
As ações tiveram início em 21 de julho, quando o ativista e influencer egípcio Anas Habib, de 27 anos, trancou a correntes a entrada da embaixada egípcia em Amsterdã, em manifestação solo. Ao transmitir o evento ao vivo em suas redes sociais, Habib sugeriu que as embaixadas do Egito permaneçam trancadas enquanto o país mantiver fechada a travessia de fronteira de Rafah.
“Por quase dois anos, são cúmplices da morte e da fome contra os palestinos … mentindo aos pobres coitados que ali vivem, dizendo: ‘Não, as travessias estão fechadas do lado israelense; não somos nós”, ressaltou o ativista.
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Dois dias depois, protestos voltaram a trancafiar a mesma missão. Ativistas de todo mundo seguiram a deixa, com correntes de metal e cadeados nos portões das embaixadas.
Ao menos 154 palestinos, incluindo 89 crianças, morreram de fome em Gaza, reportaram oficiais palestinos, corroborados por dezenas de agências internacionais.
Em 29 de julho, a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (CIF), principal órgão de monitoramento da fome no mundo, alertou que “o pior cenário” incidiu a Gaza, devido à política de fome adotada por Israel.
“Dados recentes indicam que os limites de fome foram trespassados na maior parte de Gaza, bem como desnutrição aguda na cidade homônima”, corroboraram especialistas das Nações Unidas.
Protestos globais
Em Londres, manifestantes se reuniram em frente à embaixada egípcia em 26 de julho, ao realizar um panelaço alusivo à catástrofe de fome em Gaza sitiada. “Mandem ajuda, parem de matar os palestinos”, declarou um ativista. Outros trancaram a embaixada, com um pedaço de madeira, e marcaram as paredes com mãos de tinta.
Na missão em Pretória, na África do Sul, manifestantes grafitaram “Sisi é um traidor”, em 29 de julho. “Sisi vendeu Gaza”, cantaram.
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Usuários online expressaram apoio. “É extraordinário ver pessoas se unirem por uma causa e pressionarem para que as coisas aconteçam”, disse uma postagem sobre os atos na capital britânica.
Outra reiterou: “O papel de Sisi em manter Rafah fechada faz dele cúmplice do sofrimento. Quando fronteiras se transformam em armas e as pessoas passam fome, não é apenas um cerco, é uma traição à solidariedade regional e à decência humana”.
Na última semana, o Egito condenou as “acusações injustificadas” de que contribui para o cerco, ao descrever as demandas como “propaganda capciosa”.
Em nota, o Ministério de Relações Exteriores no Cairo alegou: “Rafah segue aberta do lado egípcio. Forças israelenses controlam o lado palestino e bloqueiam o acesso”.
Em junho, autoridades egípcias detiveram, no entanto, quase 200 ativistas, incluindo estrangeiros, que chegaram no país para participar da Marcha Global a Gaza, um chamado mundial para romper o cerco israelense imposto ao território palestino e para pressionar a comunidade internacional a persuadir Israel à lei internacional.
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Artigo publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 30 de julho de 2025
