Redes de imprensa israelenses têm expressado apreensão unânime sobre um “tsunami político global” envolvendo Israel, por seu genocídio em curso na Faixa de Gaza.
O jornal Haaretz publicou como manchete “Um tsunami diplomático se avizinha”, junto ao alerta: “A Europa começa a agir contra a insanidade de Israel em Gaza”.
“Diante da piora da crise humanitária em Gaza e acusações internacionais contra Israel, sobre sua conduta no enclave, crescem apelos de líderes europeus para reconhecerem o Estado da Palestina”, comentou em artigo o site de notícias Walla.
O Israel Hayom, em parte, adotou negacionismo: “Não é um tsunami político, mas uma ameaça de longo prazo”.
Para o periódico sionista, em artigo de Gilad Erdan, ex-embaixador israelense, as ações — embora simbólicas — podem resultar, contudo, em uma “narrativa perigosa [sic]: de que Israel é um país que ocupa, viola direitos e mata crianças”.
LEIA: É hora de sanções contra Israel para cessar a carnificina em Gaza
“Nossos inimigos não podem nos vencer no campo de batalha; então tentam nos atar em uma guerra de percepção [sic]”, lamentou. “A deslegitimação pode levar a embargo de armas, sanções econômicas e isolamento internacional”.
“Em outras palavras, dezenas de jatos F-35 são inúteis se o mundo não nos deixar usá-los”, acrescentou.
Em Gaza, são ao menos 60 mil mortos, 145 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco, fome e ataques indiscriminados de Israel. Dentre as vítimas fatais, estima-se cerca de 18.500 crianças, além de 88 crianças mortas por inanição.
Imagens e relatos de fome, causada pelo cerco, fomentaram denúncias, declarações de políticos e mesmo represálias diplomáticas. França, Canadá, Portugal e outros países — tradicionalmente aliados — expressaram promessas de reconhecimento.
O Reino Unido sugeriu intenções similares, caso Israel se negue a acatar um cessar-fogo até o mês de setembro.
Nas últimas semanas, órgãos globais publicaram uma série de dossiês chocantes, entre os quais um relatório da Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC), segundo o qual os 2.4 milhões de palestinos em Gaza vivem em insegurança alimentar, incluindo 900 mil pessoas em situação catastrófica (fase 5).
LEIA: ‘Deus quer que limpemos a terra’, diz soldado de Israel sobre as ruínas de Gaza
De abril a meados de julho, vinte mil crianças foram internadas por desnutrição aguda, em Gaza — três mil em estado extremamente crítico. Ao menos 16 crianças abaixo de cinco anos morreram de fome desde 17 de julho, conforme dados oficiais.
Diplomatas, acadêmicos e analistas corroboraram à agência de notícias Anadolu que os ataques e a catástrofe em curso em Gaza levaram a uma onda de oposição a Israel, sem precedentes, desde a base popular ao establishment político.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI) — corte-irmã, também em Haia — emitiu mandados de prisão inéditos contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e contra a humanidade conduzidos em Gaza.








