O Papa Leão XIV — sucessor de Francisco — vivenciou duras críticas na última semana, devido a sua resposta a um ataque aéreo israelense contra a única igreja católica remanescente na Faixa de Gaza sitiada, na quinta-feira (17), com três mortos e dezenas de feridos, entre os quais o padre local Gabriel Romanelli.
O Patriarcado Latino de Jerusalém confirmou o caso, ao notar que o bombardeio causou danos estruturais consideráveis à Igreja da Sagrada Família, na Cidade de Gaza, onde civis palestinos deslocados estavam abrigados.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, condenou a agressão: “Os ataques conduzidos há meses por Israel contra a população civil são inaceitáveis”.
Em nota preliminar, o pontífice americano lamentou o incidente e pediu “paz”; no entanto, ao sequer mencionar Israel como responsável, levou a um senso de decepção entre cristãos palestinos e observadores em todo o mundo.
“Fiquei profundamente entristecido pelas vítimas e os feridos em decorrência do ataque militar à paróquia da Sagrada Família em Gaza”, escreveu a página de Leão em português na quinta-feira. “Asseguro a toda a comunidade paroquial a minha proximidade espiritual. Confio à misericórdia de Deus as almas dos falecidos e rezo por seus familiares e pelos feridos. Renovo o meu apelo a um imediato cessar-fogo: somente o diálogo e a reconciliação podem garantir uma paz duradoura”.
Fiquei profundamente entristecido pelas vítimas e os feridos em decorrência do ataque militar à paróquia da Sagrada Família em #Gaza. Asseguro a toda a comunidade paroquial a minha proximidade espiritual. Confio à misericórdia de Deus as almas dos falecidos e rezo por seus…
— Papa Leão XIV (@Pontifex_pt) July 17, 2025
Usuários das redes sociais reivindicaram um apelo mais claro por justiça. No domingo (20), Leão se retificou ao citar Israel e denunciar ataques à população civil, deslocamento à força e crime de punição coletiva.
Este ato, infelizmente, vem somar-se aos contínuos ataques militares contra a população civil e os lugares de culto em Gaza. Mais uma vez, peço que se ponha imediatamente termo à barbárie da guerra e que se encontre uma solução pacífica para o conflito. À comunidade…
— Papa Leão XIV (@Pontifex_pt) July 20, 2025
Para um usuário, porém, a primeira declaração do pontífice foi “vergonhosa”. “Cristãos de Gaza não estão sofrendo porque não se comprometeram com o diálogo e a reconciliação”, alertou.
Palestinian clergy and spiritual leaders are fighting on the ground with their people, risking their lives, begging the Christians of the world for support. And all Pope Leo—with his enormous power and influence—can offer them is an empty lukewarm statement. What a coward https://t.co/u7znGqY6QH
— Liz (@lzreads) July 17, 2025
Outros ativistas online traçaram paralelos entre Leão e seu antecessor, Francisco, ao ressaltar seu desapontamento. Muitos recordaram que Francisco mantinha telefonemas todas as noites com a comunidade cristã de Gaza, bem como críticas e denúncias contundentes em suas homílias.
“Sentimos muita falta de Francisco”, comentou um usuário. “Esta é uma mensagem covarde … ao ponto de omitir quem são os perpetradores”.
With all respect, @Pontifex, why not name the country, Israel, that carried out this attack and so many others against Christians in Gaza and the West Bank??? https://t.co/SUAZh8OqU2
— Medea Benjamin (@medeabenjamin) July 17, 2025
Muitas postagens observaram que Leão não deu nome nem à igreja, nem aos responsáveis. Neste contexto, o governo da ocupação israelense reagiu positivamente, ao acolher o tom da mensagem. “Somos gratos ao Papa Leão por suas palavras de consolo”, declarou o gabinete do premiê e foragido internacional Benjamin Netanyahu. “Estamos investigando o incidente”.
LEIA: Cristãos apelam ao Vaticano para agir contra violência de Israel na Cisjordânia
O apoio alimentou as críticas. “Embaraçoso”, disse um usuário. “Como ousam?”, questionou outro. “As palavras de consolo do Papa Leão são aquelas pessoas que vocês atacaram, não a vocês e seu governo assassino”.
“words of comfort” LOL
just in case it wasn’t clear, the only time you were considered in that message is when he mentioned “military attack” https://t.co/z8N35C1r1x
— Chito & Bob (@danthelions_) July 17, 2025
Mais cedo, neste ano, um porta-voz do Ministério de Recursos Religiosos de Gaza reportou à agência de notícias Anadolu que três igrejas foram destruídas no enclave no contexto do genocídio em Gaza, desde outubro de 2023, ao expor um padrão de violações a estruturas civis e templos religiosos — portanto, à liberdade de culto. Sobre as mesquitas, mensurou o informe, a taxa de destruição é ao menos 79%.
A mortalidade em Gaza pelos ataques de Israel chegou a ao menos 58.800 vítimas, além de quase 140 mil feridos e dois milhões de desabrigados.
LEIA: Linha do tempo: Os ataques de Israel a igrejas cristãs na Faixa de Gaza
Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 18 de julho de 2024.
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