A Organização das Nações Unidas (ONU) voltou a alertar nesta quarta-feira (23) que as crianças de Gaza enfrentam “níveis catastróficos” de fome e desnutrição, à medida que Israel mantém suas restrições ao acesso humanitário no enclave.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
“A desnutrição fatal entre as crianças está em níveis catastróficos”, insistiu a jornalistas o porta-voz da ONU Stephane Dujarric, ao mencionar o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef).
“A agência nos lembra que uma criança gravemente desnutrida é dez vezes mais suscetível à morte do que uma criança bem nutrida”, acrescentou.
Dujarric lamentou novamente que as iniciativas humanitárias da ONU em Gaza seguem sob “limitações severas”, com equipes assistenciais sob risco de segurança, bloqueio de fronteira e escassez crítica de insumos fundamentais.
“Estamos prontos a tomar a oportunidade de um cessar-fogo para ampliar de maneira substancial nossas operações humanitárias em Gaza”, ressaltou. “Israel tem de permitir acesso seguro e desimpedido, bem como entrada de itens e combustível”.
Dujarric instou “abertura de todas as travessias e restauração do movimento ao longo das rotas essenciais de abastecimento”.
O oficial citou ainda o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), ao ressoar alerta: “Nossos parceiros reportam que mesmo oficiais assistenciais estão desmaiando pela fome e exaustão”.
“A fome de massas está se disseminando em toda Gaza”, observou. “Colegas e aqueles que servimos estão definhando”.
Dujarric ecoou também alarde do Fundo para População das Nações Unidas, ao indicar crescente crise de saúde em Gaza imposta a grávidas e recém-nascidos, com o colapso das instituições e aumento drástico na mortalidade entre as mães.
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“De janeiro a junto deste ano, nascimentos declinaram e 220 mães morreram, mais de vinte vezes o total de 2022”, detalhou. “Ao menos 20 recém-nascidos morreram dentro de 24 horas do parto e um terço dos bebês nasceu prematuramente, sem peso ou com demanda por terapia intensiva neonatal”.
Dujarric destacou que, embora equipes humanitárias seguem tentando prover serviços para salvar vidas, o controle militar israelense permanece um obstáculo: “O volume de assistência entrando em Gaza é ínfimo comparado às demandas”.
O porta-voz repisou apelos da ONU por cessar-fogo — “acima de tudo” — para “dar fim a essa situação devastadora”.
Sobre a revogação por Tel Aviv dos vistos da liderança do OCHA, incluindo os territórios palestinos ocupados, Dujarric expressou “confiança” no trabalho da agência, ao insistir que “medidas punitiva” impedem o acesso a comunidades carentes.
Israel mantém fechamento quase absoluto das travessias de Gaza há mais de 140 dias, após rescindir unilateralmente um acordo de cessar-fogo.
Na quarta-feira, o Ministério da Saúde de Gaza reportou que hospitais registraram dez novas mortes devido por fome e desnutrição em 24 horas, elevando o total estimado a 111 vítimas — sobretudo crianças.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, com ao menos 59 mil mortos e dois milhões de desabrigados, sob sítio e destruição.
A campanha israelense desacata ainda medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde o Estado da ocupação é réu por genocídio desde janeiro de 2024.








