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Jornalistas da AFP em Gaza passam fome, reporta associação da categoria

22 de julho de 2025, às 14h22

Parentes e colegas velam o jornalista palestino Hassan Abdulfettah Islih, morto por um ataque israelense, no Hospital Nasser de Khan Younis, na Faixa de Gaza, em 13 de maio de 2025 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

A Sociedade dos Jornalistas da Agence France-Presse (SDJ) advertiu nesta segunda-feira (22) que profissionais a serviço da instituição em Gaza vivem hoje escassez extrema de alimentos, sob risco de morrer de fome, vitimados por cerco e ataques de Israel.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Em nota compartilhada na rede social X (Twitter, reiterou a entidade:

“Desde agosto de 1944, quando foi fundada a AFP, perdemos jornalistas em conflitos, tivemos, em nossas fileiras, feridos e prisioneiros — contudo, nenhum de nós se lembra de um colega que morreu de fome”.

A AFP, minuciou o alerta, opera atualmente com um repórter freelance, três fotógrafos e seis cinegrafistas freelance na Faixa de Gaza.

Ao identificar um deles, o fotógrafo Bashar Taleb, a associação reproduziu uma de suas postagens no Facebook:

“Não tenho mais forças para fazer a cobertura”, disse Taleb, de 30 anos. “Meu corpo está muito fraco e não consigo mais andar”.

Taleb notou ainda que seu irmão mais velho sofreu uma queda na manhã de domingo, devido à gravidade da inanição.

Jornalistas, crianças e famílias palestinas se reuniram para exigir o fim dos ataques israelenses e a entrada de ajuda humanitária, em 19 de julho de 2025, em Cidade de Gaza.  Destacando a crescente escassez de alimentos, os manifestantes seguraram faixas com os dizeres “Gaza está morrendo de fome”, “Parem os ataques” e “Apelamos à consciência do mundo”. [Saeed MMT Jaras/Agência Anadolu]

Segundo o sindicato, apesar de receberem seus salários pontualmente, trabalhadores da AFP em Gaza não têm nada para comprar ou enfrentam carestia exorbitante devido ao cerco militar israelense, bem como ataques aos serviços civis.

A agência tampouco tem um veículo disponível em Gaza, seja por falta de combustível ou por ataques diretos de aviões de guerra israelenses.

LEIA: Ataque israelense mata três jornalistas em hospital de Gaza

Outra jornalista, identificada como Ahlam, observou a nota, apontou intenções, apesar das condições, de “ser testemunha dos fatos” tanto quanto possível.

“Toda vez que deixo a tenda para cobrir eventos, conduzir uma entrevista ou registrar um fato, não sei se vou voltar viva”, sugeriu Ahlam, que ecoou a falta de comida e água como maior dos problemas.

Ao expressar consternação sobre a piora da situação, o sindicato saudou a coragem dos jornalistas, que devotaram meses de suas vidas a informarem o mundo, mas ressaltou que isso “não os ajudará a sobreviver”.

“Podemos receber notícias de suas mortes a qualquer instante”, acrescentou a nota. “E isso é insuportável”.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza — órgão técnico cujos dados são corroborados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) —, ao menos 86 pessoas, entre as quais 76 crianças, morreram de fome e sede desde outubro de 2023.

O gabinete de comunicação do governo local alertou recentemente que o enclave está “à margem de um morticínio em massa”, após 140 dias de fechamento quase absoluto de todas as travessias de fronteira.

Israel ignora apelos por cessar-fogo, ao manter ataques indiscriminados a Gaza há 650 dias, com aos menos 59 mil mortos e dois milhões de desabrigados.

O Estado israelense é réu por genocídio Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.