O exército de Israel conduziu nesta quarta-feira (16) uma nova onda de ataques aéreos a Damasco, capital da Síria, reportou a imprensa local e internacional, em meio a uma escalada cujo objetivo, conforme analistas, é desestabilizar a região.
A agência estatal de notícias SANA, radicada em Damasco, confirmou que o Complexo do Estado-maior, que integra o Ministério da Defesa, e o Palácio Presidencial — Qasr al-Shaab — estiveram entre as localidades alvejadas.
Vídeos circularam nas redes sociais mostrando o momento dos ataques, incluindo uma transmissão ao vivo da rede Al Jazeera com o ministério no plano de fundo. Ao menos quatro baterias foram registradas.
Segundo dados da Al Jazeera, ao menos três pessoas morreram e 34 foram feridas, até o momento desta reportagem.
Os ataques representam uma escalada drástica por parte de Israel em mais um front na região, após ameaças de intervenção sob pretexto de confrontos entre combatentes da comunidade drusa de Suwayda e forças do governo, no sul da Síria.
Ainda nesta quarta-feira, o Ministério do Interior do país levantino reportou um acordo de cessar-fogo para Suwayda, corroborado pelo sheikh druso Yousef Jarbou. Segundo o líder comunitário, o acordo integraria Suwayda ao Estado sírio.
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Israel, porém, ignorou o cessar-fogo, ao alegar operar em favor da minoria drusa, muito embora a comunidade rejeite a intervenção e analistas apontem para esforços voltados a preservar a atmosfera de escalada em toda a região.
No Telegram, o exército israelense afirmou “monitorar os desenvolvimentos do regime e, conforme diretivas do círculo político, conduzir ataques e permanecer preparado aos diversos possíveis cenários”.
Após a agressão, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, compartilhou um vídeo de uma apresentadora síria subitamente buscando abrigo após uma explosão. Na legenda de Katz: “Ataques severos já começaram”.
Neste mesmo contexto, o ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir — condenado previamente por incitação e racismo contra árabes e não-judeus — pediu a “eliminação” do presidente sírio Ahmed al-Sharaa.
Em tom racista, insistiu Ben-Gvir na rede social X (Twitter): “Uma vez jihadista, sempre jihadista. Aqueles que matam e estupram [sic] podem até raspar o bigode, porém não podemos negociar com eles”.
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Em resposta, o Líbano — assolado por bombardeios israelenses entre outubro de 2023 e novembro de 2024, bem como invasão por terra entre setembro e novembro últimos — condenou a “violação flagrante” da soberania síria.
Para o presidente libanês Joseph Aoun, é fundamental que a comunidade internacional “exerça pressão” sobre Israel para deter as sucessivas escaladas.
“O presidente reafirmou seu compromisso com a união, paz cívica e segurança da Síria, sua terra e seu povo, em toda sua diversidade”, destacou o gabinete do ex-chefe militar e atual líder do executivo na cidade de Beirute.
Al-Sharaa assumiu a presidência em janeiro, durante uma fase transicional, após a fuga do ex-ditador Bashar al-Assad a Moscou, em 8 de dezembro.
Desde então, o exército de Israel mantém presença de tropas no sul da Síria, para além de uma “zona neutra” firmada sob armistício em 1974, bem como ataques esporádicos de suas aeronaves militares a todo o país, incluindo Damasco.
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Neste entremeio, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou planos para aumentar o número de colonos ilegais nas colinas de Golã, território expropriado da Síria desde 1967, ocupado desde então.
‘Espalhar o caos’
Para o analista político da rede Al Jazeera Marwan Bishara, os ataques de Israel à Síria constituem “vulgar exibicionismo [para] novamente tentar mostrar para todos os seus aos seus vizinhos que é força hegemônica na região”.
Segundo Bishara, a escalada em Damasco e Beirute, bem como Teerã e Sanaa — no Irã e Iêmen, respectivamente — não podem prescindir de aval dos Estados Unidos.
“O principal objetivo”, enfatizou o especialista, “é dividir e enfraquecer a Síria, e fazer com que suas minorias — sejam as comunidades drusas, curdas ou alauítas — briguem entre si ou contra o governo central”.
Para Ammar Kahf, diretor executivo do Centro Omran de Estudos Estratégicos, o Estado israelense busca “espalhar o caos e o tumulto” na Síria e região.
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“Israel se recusa a permitir que o governo central controle a totalidade do território e insiste em impor seu próprio domínio na Síria”, alertou Kahf. “Há rumores de uma nova incursão por terra e novas condições impostas a Damasco”.
“Ninguém sabe onde isso vai parar, mas não há lógica alguma aqui”, reiterou. “Não há objetivos claros nesta operação. A parte afetada, o governo sírio, tem exibido enorme comedimento nos últimos nove meses, de invasões e ataques de Israel”.








