A Organização das Nações Unidas (ONU) alegou nesta quarta-feira (9) “firme oposição” a qualquer plano de deslocamento dos palestinos de Gaza, após novos comentários de um oficial israelense sobre uma “cidade humanitária” — isto é, campo de concentração — nas ruínas de Rafah.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
“Não é primeira vez que ouvimos falar desses projetos”, declarou o porta-voz Stéphane Dujarric a jornalistas. “Continuamos firmemente contrários a quaisquer deslocamentos impostos a uma população, que apenas aumentariam os riscos”.
Israel Katz, ministro da Defesa israelense, no entanto, encomendou de seu exército que prepare um plano para realocar a totalidade dos palestinos de Gaza ao que chamou de “cidade humanitária”, em um pequeno bantustão no extremo sul do enclave.
Katz insistiu que a população seguirá detida na nova área para então emigrar.
Ao reiterar dados do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Dujarric recordou ataques israelenses a tendas e casas na Cidade de Gaza e em Deir al-Balah, com centenas de mortos, incluindo médicos e suas famílias.
“Desde outubro de 2023”, ressaltou o porta-voz, “mais de 1.500 profissionais de saúde foram mortos”.
Dujarric admitiu colapso do sistema sanitário, agravado por baixas de massa e escassez de insumos, como combustível, medicamentos e mesmo bolsas de sangue: “A falta de suprimentos impõe mais e mais pressão aos hospitais, que já operam no limite”.
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“Nossos parceiros em campo expressaram receios de um aumento nos casos suspeitos de meningite, sobretudo entre crianças com menos de cinco anos de idade”, observou, ao citar também difteria e icterícia.
Sobre as restrições israelenses ao acesso humanitário, comentou: “Ontem [8], das dez tentativas de coordenar esforços com as autoridades, apenas três foram concretizadas, para coleta de suprimentos e remoção de destroços. Outras três foram negadas, entre as quais uma ação para coletar suprimentos da travessia de Karem Shalom”.
“As quatro remanescentes tiveram de ser canceladas por seus organizadores”, advertiu Dujarric, ao ressaltar a precariedade das condições em campo.
Questionado sobre a posição da ONU diante da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), mecanismo israelo-americano, sob verniz assistencial, acusado de extermínio, vacilou Dujarric: “Não somos anti-GHF, ok? Somos pró-ajuda humanitária. Já falamos isso mais de uma vez”.
Todavia, pediu respeito às leis internacionais e reconheceu, em seguida, que as Nações Unidas “não trabalharão com pessoas que não cumprem esses padrões”.
Então indagado se a GHF poderia ser vista como organização humanitária legítima sob as normas internacionais, retrucou: “Não é meu papel dar certificados”.
“Eles parecem estar operando um sistema de distribuição em que pessoas em busca de comida que estão sendo mortas no processo”, indicou o oficial. “Não é a maneira como faríamos uma operação humanitária”.
Então concluiu: “Um sistema de distribuição em que pessoas são dia após dia, dia após dia, mortas em busca de comida não pode se dizer humanitário”.
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