O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) criticou nesta sexta-feira (16) um mecanismo de remessas assistenciais a Gaza apoiado por Israel, ao advertir para o agravamento das condições e perigoso precedente global, ao condicionar o acesso humanitário a fins políticos e militares.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Conforme Jens Laerke, porta-voz do OCHA, durante coletiva de imprensa conduzida em Genebra, foram realizados ao menos 14 encontros sobre a proposta.
Para Laerke, no entanto, o plano é “excludente”, sobretudo a grupos vulneráveis, como pessoas com deficiências, mulheres, crianças, idosos e feridos.
“O plano impõe ainda maior deslocamento”, explicou o porta-voz, “e expõe milhares ao perigo. Além disso, estabelece um precedente inaceitável para a entrega humanitária, não apenas nos territórios palestinos ocupados, como em todo o mundo”.
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O mecanismo incitou polêmica sob o envolvimento da chamada Fundação Humanitária para Gaza, uma organização pouco conhecida, supostamente radicada em Genebra. De acordo com Laerke, a proposta reflete as prerrogativas israelenses.
Laerke não confirmou contatos diretos, mas enfatizou que as críticas de sua agência se referem não ao mensageiro, mas ao conteúdo da proposta.
“O plano restringe a ajuda a somente uma parte de Gaza, enquanto demandas críticas de outras partes permanecem em aberto”, insistiu Laerke. “De fato, torna a fome uma moeda de troca”.
Para o porta-voz, trata-se de um “plano B” e uma “distração cínica em um momento de urgência gravíssima para todo o povo de Gaza”.
Laerke destacou ainda que a ONU mantém um sistema assistencial comprovadamente funcional, sobretudo ao longo do conflito, mediante donativos. “A solução está bem na nossa frente. Estamos perdendo um tempo precioso, para salvar vidas, com um plano B nitidamente falho”.
Laerke desmentiu também as alegações de Israel de que a ajuda a Gaza seria desviada ao grupo Hamas, ao notar a natureza dos itens assistenciais que aguardam autorização de entrada, incluindo suprimentos de educação, sapatos, brinquedos, arroz, trigo, água e tendas, além de produtos de amamentação e higiene.
“É isso que permanece sob embargo”, acrescentou.
As declarações de Laerke coincidem com a deterioração contínua da crise em Gaza, sob alertas de fome e riscos catastróficos de saúde, diante de quase 600 dias de ataques de Israel e fechamento total das fronteiras desde 2 de março.
O exército israelense mantém seu genocídio em Gaza desde outubro de 2023, com 53 mil mortos e dois milhões de desabrigados, sobretudo mulheres e crianças.