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Nakba, um crime permanente contra a humanidade

Palestinos segurando faixas marcham para comemorar a Nakba em Ramallah, Cisjordânia, em 15 de maio de 2024 [Issam Rimawi – Agência Anadolu]

Neste 15 de maio quero me referir mais uma vez ao problema crucial na vida palestina e um dos pontos de partida para o que aconteceu no 7 de outubro de 2023. Me refiro ao processo nefasto que ficou conhecido como NAKBA, palavra árabe que significa catástrofe e é utilizada pelos palestinos para designar os eventos que se sucederam após a proclamação de “Israel”, em 14 de maio de 1948, e as ações terroristas desencadeadas pelas gangues terroristas sionistas, como a Haganah, que viria a se constituir na base do exército israelense.

76 anos depois, os palestinos continuam vivendo a Nakba [Sabaaneh/Monitor do Oriente]

Após o Plano de Partilha ilegal e injusta ser aprovada pela ONU em novembro de 1947, o estado judeu ficou com aproximadamente 55% das melhores terras da Palestina Histórica, embora os sionistas possuíssem apenas 7% das terras privadas na Palestina. Os judeus que viviam na Palestina representavam cerca de 33% da população, sendo uma grande porcentagem deles imigrantes transferidos em levas da Europa desde o início de Século XX e sobretudo após a Segundo Guerra.

Os vilarejos palestinos foram ocupados, destruídos e saqueados e seus moradores expulsos ou mortos pelas das forças judaicas muito bem armadas, depois de um acordo realizado entre o representante sionista em Nova Iorque, Moshe Sherlak, e o chanceler soviético Andrei Gromyko, que permitiu o envio de moderno armamento entregue às milícias sionistas pela Checoslováquia, que estava sob ocupação do exército soviético.

O que se viu daquele processo foi a destruição de mais de 400 aldeias e a expulsão deliberada de cerca de 800 mil palestinos – mais do que toda população judaica existente naquela época, que perderam suas casas e seus bens e tornaram-se refugiados dentro do seu próprio território e nos países vizinhos, submetidos a um processo de anexação de terras, limpeza étnica, discriminação racial e da judaização de Jerusalém e do roubo de bens nacionais.

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A colonização começou logo em seguida e não parou mais e tem como objetivo final a completa desenraização e destruição da Palestina. Quando a primeira fase da Nakba foi concluída pelas forças ocupantes sionistas, o novo estado de “Israel” compreendia 78% da Palestina Histórica, restando apenas a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, que estavam sob o controle da Jordânia e do Egito, respectivamente.

Ao atacar brutalmente um povo originário através da limpeza étnica, assassinatos, deslocamento e cerco, “Israel” tenta impor um fato consumado que contradiz a história, a realidade, o Direito Internacional e as resoluções das Nações Unidas, em flagrante desafio aos humanistas e progressistas do mundo.

Nesta situação de permanente agressões, o povo palestino não tem outra escolha a não ser resistir à ocupação e as investidas opressivas contra a terra palestina, seu povo, recursos e lugares sagrados.

A Nakba é a origem histórica desse mal que afeta a Nação e o povo palestino há 76 anos, num cenário de crimes contra a humanidade e apartheid, que levou o Movimento de Resistência Islâmica – HAMAS e outras forças da resistência palestina, a realizar a operação heroica e legítima de 7 de outubro, com o objetivo de romper o cerco ilegal e mortal a Gaza, que dura mais de 17 anos, e libertar a Palestina.

A gloriosa operação “Inundação de Al-Aqsa” é o divisor de águas neste momento histórico que estamos vivendo, desencadeando uma avalanche revolucionária que proporcionou o ressurgimento de poderosos movimentos de solidariedade em todos os continentes, e está produzindo transformações locais que podem afetar os regimes que se puseram de joelhos perante os sionistas, sobretudo os regimes colaboracionistas árabes.

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É visível a simetria dos acontecimentos de 1948 com o que estamos assistindo atualmente em Gaza e na Cisjordânia, com o estado terrorista de “Israel” massacrando Gaza há sete meses, tentando exterminar um povo originário, e apoderar-se das suas terras para a expansão do seu projeto colonial de supremacia judaica na Palestina.

Mesmo diante do elevado preço em vidas e destruição, as forças da Resistência palestina puseram fim ao mito da invencibilidade militar do estado sionista. A guerra genocida contra o povo palestino na Faixa de Gaza, com o apoio dos EUA, do Reino Unido, países europeus e a cumplicidade dos governos árabes, não conseguiu nem será capaz de alcançar nenhum dos seus objetivos agressivos, principalmente o de aniquilar a resistência palestina e resgatar os reféns da guerra em Gaza.

Os protestos estudantis que se espalharam rapidamente pelos Estados Unidos e chegando a outros lugares mundo, têm assumido o importante papel de denúncia do genocídio e massacre de magnitude que a história nunca testemunhou. Além disso, o movimento ostenta um caráter marcadamente antissionista, que é uma benção da abnegada resistência palestina, com seu espírito de coragem e de martírio, o que lhes permite manter a sua vantagem como combatentes jihadistas nesta guerra.

Muitos manifestantes nas Universidades americanas são judeus e sabem que “Israel” é inimigo dos judeus, que estão sob pressão dos sionistas e oprimidos por causa de suas crenças religiosas e por não apoiarem o apartheid e o genocídio sionista em Gaza, que usa o judaísmo como escudo para suas práticas criminosas contra a humanidade.

O nazismo, que inspira o sionismo israelense, durou 6 anos na Europa e foi derrotado. A noite tenebrosa do apartheid na África do Sul começou em 1948 e foi derrotada pelo alvorecer da resistência em 1994, graças a luta abnegada do seu povo e do heroísmo e resiliência dos seus líderes, como o grande irmão Nelson Mandela.

Na Palestina o sionismo e seu projeto colonial supremacista criado pela Nakba há 76 anos será derrotado pelas armas da resistência, porque o apartheid e o holocausto de palestinos não podem virar um modelo nefasto de colonialismo, opressão e extermínio de um povo originário.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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