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Como Israel-EUA e seus aliados planejaram o destino macabro dos palestinos

Presidente dos EUA Joe Biden abraça o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv, em 18 de outubro de 2023 [Reprodução/Agência Anadolu]
Presidente dos EUA Joe Biden abraça o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv, em 18 de outubro de 2023 [Reprodução/Agência Anadolu]

O estrategista israelense Ronny Ben-Yishai, em abril de 2023, publicou um artigo sobre as emendas legais de Israel. No texto, ele argumenta que é crucial que o público compreenda o significado do golpe legal e esteja ciente do “Plano de Decisão” divulgado no Hashiluh Journal em setembro de 2017.

Essencialmente, no “plano de resolução” do ministro Bezalel Smotrich, os palestinos teriam a opção de escolher entre três alternativas:

1. optar por permanecer na Cisjordânia e viver em enclaves sob o domínio e soberania israelense, abrangendo áreas como Hebron, Belém, Ramallah, Nablus e Jenin. Os palestinos, embora não obtenham a cidadania israelense, teriam autorização de residência (similar ao estatuto legal dos habitantes de Jerusalém), sob a condição de não manifestarem resistência e cooperarem;

2. os palestinos que optarem por não viver sob o domínio israelense poderão emigrar voluntariamente, e Israel promoverá essa opção por meio de incentivos financeiros;

3. A terceira alternativa proposta por Smotrich tem como objetivo abordar de maneira abrangente os palestinos que não concordariam com nenhuma das duas opções mencionadas anteriormente: uma instrução inequívoca ao exército para eliminar aqueles que devem ser mortos, recolher armas e extinguir todas as manifestações de resistência.

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Ben-Yishai argumenta que a chave para a compreensão do parágrafo anterior está na frase “dar uma instrução inequívoca”, indicando que o governo instruirá os militares a usar força excessiva sem restrições.

Durante seu discurso na 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2023, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu apresentou um novo mapa que apaga a Palestina, reafirmando sua intenção declarada na ONU de implementar o “Plano de Decisão” denunciado pelo estrategista Ronny Ben-Yishai em abril de 2023.

Em resposta às agressões e ameaças amplamente divulgadas na imprensa israelense, o Movimento Islâmico Hamas emitiu um comunicado em 11 de setembro de 2023, deixando claro, sem rodeios, que, diante de qualquer nova invasão dos locais sagrados islâmicos, cristãos e de Jerusalém por colonos armados escoltados e protegidos pelo exército israelense, juntamente com outras formas de violência e agressões, a resistência responderia com os meios à sua disposição, legítimos em seu direito à autodefesa.

No dia 13 de outubro de 2023, após o ‘contra-ataque’ da resistência palestina em 07 de outubro, em resposta aos planos declarados e anunciados na imprensa israelense, juntamente com outras agressões sistêmicas de Israel para implementar a anexação de Gaza e Cisjordânia, conforme mencionado no ‘Plano de Decisão’, uma fonte da Embaixada da Rússia, nos alertou:

“O Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, realizou extensos contatos com funcionários, líderes de inteligência e líderes árabes nas últimas horas, em uma tentativa árdua de convencê-los a acolher os residentes de Gaza antes que o exército israelense, à espreita lá fora, arrasasse a região, nas próprias palavras de Blinken. Os detalhes do plano americano incluem a transferência de um milhão de cidadãos da Faixa de Gaza para o Egito. O restante da população seria distribuída entre Arábia Saudita, Catar, Jordânia e Emirados, com a Arábia Saudita responsável pelo assentamento de meio milhão de palestinos e os outros países encarregados dos demais assentamentos.

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“Até o momento, o projeto americano enfrenta a rejeição de todos esses países, incluindo o Qatar, cujas autoridades se ofereceram para acolher um máximo de 500 palestinos. Blinken ameaçou responsabilizar os líderes árabes pelas perdas humanas esperadas entre os palestinos, caso a intransigência persista e o plano seja rejeitado. Esta ameaça se concretizaria caso Israel demolisse edifícios de Gaza com seus residentes, o que poderia causar uma guerra abrangente na região.

“Israel se recusa a discutir qualquer outra proposta como alternativa à evacuação completa de Gaza daqueles que lá vivem. O país aguarda que Blinken convença os líderes árabes do seu plano ou inicie uma ação militar abrangente, que consiste literalmente em reduzir Gaza a escombros. Notícias que circulam nos corredores dos serviços de inteligência israelenses indicam que os líderes árabes têm até o próximo sábado para responder à proposta israelense. Se a recusa persistir, Israel planeja iniciar movimentos militares no domingo. Também há rumores nos corredores dos serviços de inteligência israelenses de que os reféns israelenses atualmente sob o domínio do Hamas podem, na verdade, ser considerados entre as perdas. Infelizmente, este é o plano, e o que está por vir é ainda pior!”

Em 20 de outubro de 2023, o Presidente Biden submeteu uma solicitação de financiamento ao Congresso Americano, buscando apoio financeiro tanto para a Ucrânia quanto para Israel. No que diz respeito aos detalhes do financiamento destinado a Israel, destacam-se os 3,5 bilhões de dólares alocados para fins humanitários. Dentre esses detalhes, um item específico abordava a assistência às pessoas deslocadas de Gaza que procurariam refúgio no Egito. É importante notar que o plano para o deslocamento da população de Gaza foi antecipado e meticulosamente preparado, contando com o acordo de diversas nações, incluindo Israel, Estados Unidos, países europeus, Canadá e nações árabes, conforme alertado pela fonte da Embaixada da Rússia.

Estes eventos, amplamente divulgados na imprensa israelense e na mídia árabe, foram negligenciados pela imprensa ocidental, especialmente na mídia brasileira. Nessa narrativa, a propaganda sionista prevalece, retratando o Hamas como um ‘grupo terrorista’ responsável por um ataque fatal contra civis inocentes, alegando ódio aos judeus, antissemitismo, e justificando por extensão a eliminação da população de Gaza sob a alegação de representar o Hamas e constituir uma ameaça à segurança de Israel.

Esse não foi o primeiro massacre de Israel, desde 1948, alegando seu “suposto” direito à defesa, quando na realidade é Israel quem sempre atacou, invadiu, colonizou e agrediu com crueldade e sadismo o povo palestino à revelia das determinações do direito internacional.

Porém a decisão e escolha de todo povo palestino para as três alternativas propostas pelo Governo Netanyahu conduzida por seus ministros, Bezalel Smotrich e Itamar Bem Gvir, não foi aceitar a paz dos túmulos e nem a covardia da capitulação – como muitos traidores concordaram inúmeras vezes, desde os Acordos de Oslo.

A escolha do povo palestino – entre fugir ou morrer – foi a de enfrentar o algoz com a cabeça erguida e dignidade, expondo ao vivo e a cores (rubro do sangue palestino) para o mundo o que estava velado e proibido pelos muros do apartheid, com a cumplicidade da comunidade internacional e da grande imprensa, mesmo que isso representasse, mais uma vez com tantos massacres, outra impiedosa sentença de morte!

Israel-EUA e seus aliados imorais estavam desde sempre decididos a praticar esse genocídio a que estamos assistindo, filmando e testemunhando, que indiscutivelmente aconteceria, mais cedo ou mais tarde – segundo fontes da inteligência iraniana, aconteceria em novembro – com ou sem a ação do Hamas.

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Essa, a mídia corporativa, é a que se presta ao papel de serviçais da propaganda sionista, como analisa a jornalista Caitlin Johnstone sobre os resultados dos sentimentos de antissemitismo que toda essa carnificina está produzindo:

“Se tal coisa acontecesse, não seria culpa dos judeus – muitos dos quais estão entre as pessoas mais bondosas e íntegras da terra –, seria culpa dos governos e meios de comunicação que abriram o caminho para tal resultado. Qualquer estrutura de poder que criasse ou alimentasse uma tal dinâmica seria imperdoavelmente depravada e precisaria de ser parada para o bem da humanidade. ”

Publicado originalmente em Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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