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Foco em Gaza não exclui 75 anos de ocupação na Palestina, alertam jornalistas na Turquia

Protesto pró-Palestina em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos, em 14 de outubro de 2023 [Jay L. Clendenin/Los Angeles Times via Getty Images]

À medida que o mundo se concentra no genocídio em curso na Faixa de Gaza, poucos parecem questionar os 75 anos de violações israelenses na Palestina histórica, destacou nesta terça-feira (20) o jornalista turco Mehmet Akif Ersoy, durante evento intitulado “Genocídio em Gaza: Novas Evidências”.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Mehmet reiterou como a cobertura de Gaza é censurada pelas agências de imprensa ocidentais. No entanto, para o repórter, a crise antecede 7 de outubro, quando Israel deflagrou sua ofensiva a Gaza em retaliação a uma operação transfronteiriça do grupo Hamas.

“Trata-se de uma questão que perdura há 75 anos”, argumentou Ersoy. “Nada disso veio do nada. Certamente não começou em 7 de outubro”.

“De fato, ninguém pergunta o que Israel esteve fazendo esse tempo todo em terras alheias”.

Para Ersoy, a imprensa ocidental se recusa a “fazer seu trabalho”.

Durante o mesmo fórum, Hakan Erkiner, professor de direito internacional na Universidade de Marmara em Istambul, destacou a importância de coletar evidências contra a ocupação colonial israelense.

“Israel não parece se cansar de seus assassinatos”, comentou Erkiner. “É por isso que tampouco podemos nos cansar de coletar evidências. Temos de seguir em frente”.

Sobre al-Mawasi, região relativamente ao norte de Rafah, no limite meridional de Gaza, Erkiner denunciou os esforços de Israel para transferir à força 1.4 milhão de pessoas a uma área costeira de apenas 12 km², sob condições de fome e doenças.

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Ao reportar as violações da lei internacional cometidas pelas forças israelenses, Erkiner reiterou que Israel corta “intencionalmente” o acesso palestino a água, banheiros, saneamento, saúde e medicamentos, a fim de tornar as condições de vida impossíveis.

O professor criticou ainda a postura dos Estados ocidentais diante do genocídio, ao indicar sua “regressão intelectual” e “falta de valores éticos”.

Suay Nilhan Acikalin, analista de política externa da Universidade Haci Bayram Veli, na capital da Turquia, Ancara, enfatizou o número crescente de cidadãos comuns que tomam as ruas em todo o mundo para denunciar as ações israelenses em Gaza.

Ao mencionar a cobertura espanhola sobre a crise, distinta de outros países ocidentais, Acikalin notou uma leve mudança de atitude diante da escalada na cidade de Rafah, incluindo de aliados contumazes como a Alemanha.

“Quem sabe, não o chanceler Olaf Scholz, mas alguns parlamentares alemães instaram Israel a parar seus ataques”, acrescentou.

Turgut Alp Boyraz, editor da agência Anadolu para Oriente Médio, indicou dois tipos de pressão impostas a jornalistas por autoridades israelenses.

“A primeira se aplica às empresas”, relatou em alusão a esforços de censura e difamação à rede de cobertura. “A segunda é o medo de ser mandado a qualquer outro lugar caso pise nos calos de Tel Aviv”.

Jornalistas estão entre um dos principais grupos civis deliberadamente alvejados por forças da ocupação israelense em Gaza, superando o índice de cem vítimas. Analistas apontam que trata-se de um esforço de contenção da verdade.

Holocausto moderno

Ao indicar que alguns colegas possam “não abraçar o risco da pressão israelense” e tentar, deste modo, operar discretamente, Boyraz sugeriu que todos os profissionais devem compreender os eventuais ônus e analisar meios de superar esforços para silenciar os fatos.

“De fato, quase toda a imprensa israelense já aplica meios de autocensura”, observou.

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Contudo, ao mencionar sua visita ao Museu do Holocausto, argumentou Boyraz: “Ao mudarmos os nomes dos agentes, o cenário e o momento, conforme a definição de genocídio determinada no próprio museu, vemos que se trata absolutamente da situação em Gaza hoje”.

Boyraz destacou a importância de reunir documentos que impeçam a normalização dos crimes, ao sugerir a produção de “livros e documentários” sobre o genocídio, em escala similar às obras referentes ao Holocausto nazista.

Para o repórter, trata-se de um esforço necessário de conscientização, à medida que o público israelense preserva, no entanto, uma “perspectiva colonialista primitiva”.

Profissionais da Anadolu documentaram os crimes de guerra israelenses — incluindo fotografias submetidas ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia — ao compilar o material em um livro intitulado “Evidências”, então apresentado ao público.

O Estado colonial israelense foi instaurado sobre as terras da Palestina histórica em maio de 1948, mediante a expulsão de aproximadamente 800 mil residentes nativos e destruição de 500 cidades e aldeias — isto é, crime de limpeza étnica e transferência compulsória.

Os palestinos descrevem o episódio como Nakba — em árabe, “catástrofe; similar ao termo em hebraico para o Holocausto nazista, o Shoah.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil mortos e 70 mil feridos — a maioria, mulheres e crianças. Em torno de 70% da infraestrutura civil foi destruída; dois milhões de pessoas estão desabrigadas.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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Palestina: quatro mil anos de história
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