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Oficial da ONU pede embargo de armas contra Israel, cita ‘risco de genocídio’

Destruição no Banco da Jordânia e instalações comerciais, devido aos bombardeios de Israel na Cidade de Gaza, em 13 de fevereiro de 2024 [Dawoud Abo Alkas/Agênica Anadolu]
Destruição no Banco da Jordânia e instalações comerciais, devido aos bombardeios de Israel na Cidade de Gaza, em 13 de fevereiro de 2024 [Dawoud Abo Alkas/Agênica Anadolu]

Mary Lawlor, relatora especial das Nações Unidas sobre ativistas de direitos humanos, sugeriu a imposição de um embargo de armas a Israel devido a seus ataques a Gaza, diante da iminência de uma invasão por terra à cidade de Rafah, que abriga 1.5 milhão de refugiados.

À agência de notícias Anadolu, declarou Lawlor: “É absolutamente terrível que os palestinos de Gaza tenham sido instruídos, uma e outra vez, a fugir a lugares supostamente seguros. Tudo isso culminou em Rafah. Agora, lhes dizem para fugir mais uma vez, mas não têm para onde ir”.

Segundo seu alerta, as pessoas vivem em “condições horrendas”, sem sequer acesso a comida e medicamentos necessários.

“Metade da população de Gaza está hoje em Rafah”, advertiu, ao preconizar a invasão à cidade na fronteira com o Egito, que bateu recordes globais de densidade demográfica, com ao menos 16 mil pessoas por quilômetro quadrado.

“Temos de permitir o fluxo humanitário e é preciso haver um embargo de armas”, acrescentou. “Como vejo, qualquer Estado que alimenta esse conflito ao enviar armas a Israel tem de parar, porque Israel não age racionalmente no presente momento”.

“Em Gaza, tecnicamente falando, Israel é a potência ocupante e, portanto, não pode travar uma guerra contra a população ocupada”, explicou a oficial da ONU.

Lawlor insistiu que o mundo está ciente dos acontecimentos em Gaza, mas que muitos países se sentem incapazes ou indispostos a intervir.

A relatora confirmou ainda que a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), alvo de uma intensiva campanha de difamação e desinvestimento por Israel e aliados, “é a única organização que ainda atende a residentes, escolas e hospitais de Gaza”.

Para Lawlor, cortar recursos à UNRWA — como fizeram Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outros — é “loucura”.

A relatora instou a comunidade internacional a assumir sua responsabilidade para desescalar a crise. “Estados Unidos, Grã-Bretanha, União Europeia e outros, capazes de influenciar o Estado israelense, têm um papel importante. É inaceitável que se abstenham ou vetem as resoluções neste sentido no Conselho de Segurança da ONU. De fato, é imperdoável”.

A relatora insistiu também que cabe ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, julgar a situação na Faixa de Gaza, mas observou: “O que estou dizendo é que existe, sim, risco de genocídio”. As investigações de Haia, admitidas em janeiro, devem levar anos.

Israel intensificou a campanha contra a UNRWA desde então, ao acusar 12 funcionários — de 30 mil profissionais contratados — de participar do ataque do Hamas em 7 de outubro. O governo israelense, no entanto, não apresentou provas tampouco detalhes.

A expectativa do regime colonial é que, ao fechar as portas da agência internacional, dê fim às reinvindicações dos refugiados palestinos, expulsos de sua terra mediante limpeza étnica desde 1948, à qual têm direito de retorno conforme a lei internacional.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Desde então, foram ao menos 28.858 palestinos mortos e 68.667 feridos — na maioria mulheres e crianças.

Em torno de 70% da infraestrutura civil de Gaza foi destruída pela varredura norte-sul realizada pelas forças ocupantes. Hospitais, escolas, abrigos e mesmo rotas de fuga não foram poupadas. Dois milhões de pessoas foram desabrigadas.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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