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Israel enterra palestinos vivos em hospital de Gaza, autoridades pedem investigação

Arredores do Hospital Kamal Adwan após ataques israelenses a Beit Lahia, no norte de Gaza, em 16 de dezembro de 2023 [Mahmoud Sabbah/Agência Anadolu]

Oficiais palestinos reforçaram demandas por uma investigação internacional sobre os crimes de guerra realizados por Israel em Gaza, após surgirem relatos de que forças ocupantes sepultaram palestinos vivos nas adjacências do Hospital Kamal Adwan, no norte do território mediterrâneo, segundo informações da rede Al Jazeera e da agência Anadolu.

No sábado (16), médicos relataram que tratores israelenses passaram deliberadamente por cima de tendas improvisadas que abrigavam palestinos deslocados perto do centro médico, atropelando, matando e enterrando vivos diversos civis, incluindo pacientes.

“Pessoas foram enterradas vivas por tratores”, declarou uma testemunha. “Quem faria uma coisa dessas?! Aqueles que fizeram isso precisam ser levados à justiça”.

“Um trator militar destruiu grande parte das instalações do hospital”, informou Hani Mahmoud, correspondente da rede Al Jazeera em Rafah, na manhã de domingo. “Esmagou pessoas e suas tendas e cerca de 20 pessoas foram soterradas pelos escombros”.

Segundo Mahmoud, o caso Kamal Adwan é similar a outros ataques à infraestrutura de saúde em Gaza. O Hospital al-Shifa, maior complexo médico do enclave palestino, foi inutilizado por uma invasão israelense, após semanas de cerco e bombardeios.

Vídeos que circularam nas redes sociais mostram corpos envoltos em lençóis ensanguentados e vítimas aparentemente esmagadas sob os destroços nas cercanias do centro médico. Conforme testemunhas, quem tentou sair foi abatido por franco-atiradores israelenses.

Diante dos relatos, a ministra da Saúde da Autoridade Palestina (AP), Mai al-Kaila, pediu um “inquérito urgente” sobre os crimes de Israel.

“Informações e testemunhos de cidadãos, equipes médicas e repórteres apontam que as tropas israelenses enterraram civis vivos no pátio do Hospital Kamal Adwan, de modo que muitos deles foram vistos com vida logo antes de serem sitiados pela ocupação”, destacou al-Kaila.

“O mundo deve agir com seriedade para revelar os detalhes deste caso e não pode tolerar ou permanecer em silêncio sobre os relatos que temos de Gaza”, acrescentou.

Conforme al-Kaila: “As tropas da ocupação israelense expulsaram os feridos do centro de saúde, deixando-os ao relento, em condições de frio extremo; em seguida, atacou as equipes médicas, impondo grave risco à vida de seus pacientes”.

A ministra reiterou que as forças israelenses destruíram a ala sul do hospital e que 12 bebês permanecem presos no local, em incubadoras, sem comida ou água.

O Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina reivindicou uma “investigação internacional imediata sobre os relatos preliminares de crimes hediondos da ocupação no Hospital Kamal Adwan”.

Munir al-Bursh, diretor-geral do Ministério da Saúde em Gaza, destacou à rede Anadolu que “a ocupação israelense é responsável por uma catástrofe humanitária, ao transformar o Hospital Kamal Adwan em zona de guerra e humilhar, de caso pensado, médicos e feridos”.

Após a retirada das tropas, o jornalista palestino Anas al-Sharif visitou o local. Então, relatou a situação na rede social X (Twitter): “O que a ocupação israelense fez dentro do Hospital Kamal Adwan é um crime hediondo contra cidadãos e profissionais de saúde”.

Cenas de horror

As forças israelenses se retiraram da área, após prenderem 90 pessoas. O hospital prevaleceu sob cerco armado e bombardeios ininterruptos desde terça-feira (12). Ao menos cem pessoas foram mortas.

“A ocupação cercou o hospital de todos os lados”, prosseguiu al-Bursh, de dentro do hospital. “Fomos atacados com disparos de artilharia e metralhadoras. Pacientes, feridos e deslocados estão apavorados, tomados pelo terror”.

“Nós, as equipes médicas, estamos resistindo”, destacou al-Bursh. “Continuamos ao lado de nossos pacientes e feridos”.

“Os feridos precisam de cirurgia, mas não podemos fazer nada”, comentou Wafa Albus, médica local, à Al Jazeera. Ao apontar a um homem no chão, Albus insistiu que não há sequer colchões para os pacientes.

“Isso é um hospital? A situação é insuportável”, acrescentou.

Albus descreveu o tratamento das tropas israelenses a médicos e pacientes durante a incursão: “Prenderam o diretor do hospital e interrogaram toda a equipe. Nos revistaram com cachorros. Os cães atacaram um senhor idoso em uma cadeira de rodas”.

Durante a semana, Leo Cans, chefe da missão palestina da ong Médicos Sem Fronteiras (MSF), denunciou como “catastrófica” a situação em Kamal Adwan, ao comparar as circunstâncias em Gaza à Primeira Guerra Mundial.

“Estamos ultrajados pelo que está acontecendo”, reiterou Cans. “Estamos operando no chão. Crianças chegam com ferimentos horrendos e os cirurgiões têm de fazer múltiplas operações quando não há sequer mais leitos disponíveis”.

Tedros Adhanom Ghebreysus, chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), expressou “choque” pelos ataques ao Hospital Kamal Adwan.

A agência entregou suprimentos e remédios ao centro de saúde neste sábado, ao advertir que é “urgente retomar ao menos as operações básicas do hospital para continuar a servir os milhares em necessidade de cuidados de saúde para salvar suas vidas”.

Segundo a OMS, “apenas um punhado de médicos e enfermeiros, com cerca de 70 voluntários” estão trabalhando no local, “em circunstâncias inacreditáveis”.

Forças israelenses também invadiram o Hospital Indonésio, no norte de Gaza. Dos 36 hospitais de Gaza, somente 11 permanecem operantes – incluindo, até então, Kamal Adwan.

“Não podemos perder mais nenhuma instalação de saúde”, alertou Rik Peeperkorn, porta-voz da OMS nos territórios palestinos, ao reportar de Gaza. “Esperamos, imploramos que isso não aconteça”.

Israel mantém uma brutal ofensiva contra Gaza desde 7 de outubro, deixando 20 mil mortos e 50 mil feridos – 70% dos quais, mulheres e crianças. As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

LEIA: Permitir que israelenses britânicos lutem em Gaza é uma ameaça ao Estado de Direito do Reino Unido

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