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Fome causa colapso social em Gaza, alimenta receios de êxodo ao Egito

Palestinos aguardam a distribuição de galões de água em meio aos bombardeios de Israel, em Khan Yunis, na Faixa de Gaza sitiada, em 9 de dezembro de 2023 [Abed Zagout/Agência Anadolu]

Agências humanitárias internacionais reiteraram que a ordem pública está se desintegrando em Gaza, sob a sombra da fome, alimentando receios de um êxodo em massa ao Egito.

As informações são da agência de notícias Reuters.

A estreita faixa costeira continua sob cerco absoluto de Israel desde o início de seu genocídio em 7 de outubro, à medida que os palestinos são empurrados cada vez mais ao sul pelos brutais bombardeios das forças ocupantes.

A maior parte da população de Gaza foi expulsa de suas casas e não consegue encontrar abrigo ou alimento. Estima-se 18 mil mortos no pequeno enclave densamente povoado, com 2.4 milhões de habitantes. Cerca de 70% das vítimas são mulheres e crianças.

Deslocados à força estão morrendo de fome e frio, além dos bombardeios.

“Algum de nós espera que nossa gente morra de fome, algum de nós pensou nisso antes?”, comentou Rola Ghanim nas redes sociais, somando-se ao coro de indignação online.

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Palestinos desesperados passaram a saquear os escassos caminhões assistenciais que entram em Gaza, explicou Carl Skau, vice-diretor do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas. “Metade da população está morrendo de fome, nove entre dez pessoas não comem todo dia”, reiterou Skau.

Um palestino relatou não comer há três dias e implorar por pão para suas crianças. “Finjo ser forte, mas tenho medo de desabar em frente a eles em qualquer momento”, declarou no telefone, em condição de anonimato.

Após expirar uma trégua de uma semana em 1° de dezembro, Israel intensificou sua ofensiva por ar e terra ao sul de Gaza, avançando do leste do território rumo à cidade de Khan Yunis.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1.9 milhão de pessoas – 85% da população de Gaza – foram deslocadas à força. As condições no sul são descritas como um “inferno”.

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“Imagino que a ordem pública desabe por completo em breve e uma situação ainda pior se desenrole, incluindo epidemias e pressão cada vez maior por um deslocamento em massa ao Egito”, comentou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta segunda-feira (11).

Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), advertiu no sábado (9) que empurrar os habitantes de Gaza em direção à fronteira indica “esforços para transferir [à força] os palestinos ao Egito”.

O Egito insiste que não permitirá o êxodo em massa a seu território, à medida que estes não poderão retornar às suas terras. Os palestinos nativos tampouco desejam deixar Gaza.

Também nesta segunda-feira, a Jordânia – que absorveu boa parte dos 800 mil deslocados da Nakba, ou “catástrofe” palestina, em 1948, quando foi criado Israel – acusou o regime ocupante de “tentar esvaziar Gaza de seu povo”.

Eylon Levy, porta-voz do governo israelense, descreveu à denúncia como “ultrajante”, ao insistir na tese de “autodefesa”. Israel, no entanto, insiste em atacar a população civil e destruir a pouca infraestrutura remanescente. As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

 

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