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Israel é suspeito de roubar órgãos em Gaza, reporta Monitor Euromediterrâneo

Palestinos reúnem os corpos das vítimas dos bombardeios israelenses a Khan Yunis, na Faixa de Gaza, em 23 de novembro de 2023 [Ahmad Hasaballah/Getty Images]

Indícios surgiram de que tropas israelenses estejam coletando órgãos de palestinos mortos em meio a seu genocídio em Gaza, após reter seus corpos, conforme apelos do Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo por um inquérito internacional independente sobre a matéria.

A organização documentou a apreensão de dezenas de corpos do Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, e do Hospital Indonésio, no norte do território.

Corpos na estrada Salah al-Din — suposta via segura aos deslocados do norte — também foram profanados, além de covas exumadas nos arredores de al-Shifa.

Embora dezenas de mortos tenham sido entregues à Cruz Vermelha, para serem enviados ao sul e então sepultados, outras dezenas permanecem em custódia da ocupação.

Relatos de profissionais de saúde de Gaza que examinaram alguns corpos logo após serem liberados corroboraram a denúncia da organização radicada em Genebra. Segundo peritos, córneas e cócleas foram removidas, além de órgãos vitais, como rins e até corações.

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Médicos palestinos reiteraram que o bombardeio a Gaza pode servir para cobrir o tráfico de órgãos, dado que provar tais crimes é uma tarefa árdua, à medida que boa parte das vítimas tiveram de passar por sucessivos procedimentos cirúrgicos antes do óbito.

Os profissionais de saúde advertiram que autópsias completas foram impossibilitadas pela intensidade dos bombardeios israelenses e o enorme fluxo de feridos, mas que os indícios são notáveis.

Israel tem histórico de reter corpos palestinos. Ao menos 145 mortos permanecem retidos nos mortuários israelenses, além de 255 em “cemitérios de números” — sem identificação ou acesso público — perto da fronteira jordaniana. Outros 75 desaparecidos sequer foram identificados pelas autoridades ocupantes.

Conforme o Monitor Euromediterrâneo, Israel armazena os corpos de palestinos mortos em “covas de combatentes inimigos”, independente de filiação ou caráter civil. Trata-se de valas comuns situadas nos arredores de bases militares, cujas vítimas são identificadas apenas por placas de metal.

De fato, Israel “legalizou” a custódia de corpos e o roubo de órgãos, somando a violação dos mortos à sua lista de práticas coloniais contra o povo palestino.

Em 2019, a Suprema Corte autorizou que o exército enterrasse suas vítimas nos “cemitérios de números”. Em 2021, o parlamento (Knesset) aprovou um pacote de leis racistas para que o exército e a polícia mantivessem a custódia de palestinos mesmo após a morte.

Nos últimos anos, relatos se acumularam sobre roubo de órgãos e uso ilegal de corpos palestinos nas escolas de medicina israelenses.

Em seu livro Over Their Dead Bodies, a médica Meira Weiss confirmou que órgãos palestinos foram utilizados em pesquisas e mesmo transplantados sem autorização.

Ainda mais perturbadoras são as admissões de Yehuda Hess, ex-chefe do Instituto Abu Kabir de Medicina Forense, sobre o roubo de tecidos, órgãos e mesmo a pele de palestinos mortos sem conhecimento, muito menos aval, de seus familiares.

Israel se tornou “ponto de partida para transações de órgãos humanos, tanto legais quanto ilegais”, segundo reportagem da rede americana CNN de 2009, que também corroborou os indícios de profanação de corpos palestinos. As evidências, todavia, foram descartadas por líderes da ocupação como “antissemitas”.

No entanto, o Monitor Euromediterrâneo confirmou que Israel é o único país no mundo a reter sistematicamente os corpos daqueles que executa sumariamente, sob o pretexto de “dissuasão”, em violação flagrante do direito internacional.

A Quarta Convenção de Genebra reitera: “Todas as partes em conflito devem assumir todas as medidas possíveis para evitar que os mortos sejam profanados. A mutilação dos corpos é ilegal”.

O Monitor Euromediterrâneo destacou ainda que a recusa em entregar os corpos às famílias para que sejam sepultados conforme suas crenças equivale a punição coletiva — crime sob o Artigo 50 das Regulações de Haia e o Artigo 33 da Quarta Convenção de Genebra.

Israel bombardeou Gaza por mais de 45 dias, em retaliação a uma ação surpresa do Hamas que atravessou a fronteira e capturou colonos e soldados. No momento, está em vigor uma trégua provisória para troca de prisioneiros. Neste entremeio, contudo, as forças ocupantes mataram mais de 14 mil pessoas, incluindo seis mil crianças e quatro mil mulheres.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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