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Governo israelense aprova pausa na agressão a Gaza e troca de prisioneiros

Ruínas deixadas pelos bombardeios israelenses ao campo de refugiados de Nuseirat, em Gaza, 17 de novembro de 2023 [Mohammed Asad/MEMO]

O governo israelense aprovou na noite desta terça-feira (21) um acordo mediado pelo Catar para uma pausa de quatro a cinco dias em sua agressão contra a Faixa de Gaza, na forma de uma trégua com os combatentes da resistência do movimento Hamas.

Espera-se um processo escalonado, de modo que a interrupção imediata nos ataques israelenses a Gaza é improvável.

Após o voto favorável do gabinete de Israel, o primeiro passo é o envio de uma mensagem oficial a Doha para informar o Estado mediador sobre a decisão. Em seguida, será a vez do regime catari de emitir o anúncio.

O processo começa com um prazo de 24 horas no qual qualquer israelense que se oponha à trégua pode registrar um recurso na Suprema Corte. Neste período, nenhum prisioneiro em Gaza ou nas cadeias israelenses será libertado.

Somente então, deve ocorrer a primeira troca de prisioneiros, na quinta ou sexta-feira.

Cerca de 50 reféns israelenses — mulheres e crianças — devem ser libertados ao longo de alguns dias. Em contrapartida, cerca de 150 prisioneiros palestinos — também mulheres e crianças — devem ser libertados.

O cessar-fogo deve durar entre quatro a cinco dias, com dez prisioneiros libertados a cada dia. Tel Aviv afirmou disposição em conceder um dia suplementar de pausa para cada dez prisioneiros adicionais liberados pelo Hamas. Espera-se, no entanto, negociações à parte.

Combatentes da resistência mantêm cerca de 240 prisioneiros de guerra israelenses, contra sete mil palestinos nas cadeias da ocupação — dois mil dos quais presos nos últimos 45 dias, na Cisjordânia ocupada; a maioria sem julgamento ou acusação; reféns, por definição.

O Hamas, no entanto, confirmou que os bombardeios indiscriminados de Israel já mataram dezenas de prisioneiros em Gaza.

Cidadãos estrangeiros não devem ser incluídos no acordo, mas devem integrar negociações posteriores, possivelmente preparadas durante o cessar-fogo.

Cerca de 300 caminhões assistenciais, incluindo cargas de combustível, devem entrar em Gaza. Trata-se ainda de um volume insuficiente. As Nações Unidas estimam demanda de cem caminhões por dia pelo futuro próximo para conter a catástrofe humanitária.

Israel parece ter concordado em não sobrevoar Gaza com drones militares pelo período diário de seis horas. Durante as negociações, o Hamas expressou receios de que drones seriam utilizados durante a trégua para reunir inteligência.

A imprensa israelense citou fontes políticas ao reiterar que, durante a trégua, os deslocados pelos sucessivos massacres não poderão retornar ao norte de Gaza.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reafirmou que a trégua não significa o fim da ofensiva. “Que fique claro, estamos em guerra e continuaremos a guerra”, insistiu o premiê.

O governo em Tel Aviv insistiu em seu compromisso em reaver os reféns — após semanas de pressão das famílias. “Continuaremos a guerra para que todos voltem às suas casas, eliminar o Hamas e garantir que nenhuma nova ameaça ao Estado de Israel surja de Gaza”, alegou em nota.

Nesta terça-feira, bombardeios persistiram contra as cercanias do Hospital Indonésio e na região de Khan Younis, no sul do enclave palestino.

Somente três dos 38 membros do gabinete israelense votaram contra a trégua. Todos os políticos contrários são membros do partido supremacista Poder Judeu (Otzma Yehudit), liderado pelo ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir.

Ben-Gvir é um colono ilegal e militante de extrema-direita radicado na Cisjordânia ocupada, condenado por racismo, incitação, destruição de propriedades e apologia ao terrorismo, na forma de seu apoio de longa data ao grupo Kach, do rabino Meir Kahane.

O Hamas emitiu uma nota no Telegram na qual confirmou a interrupção das ações militares em todas as regiões de Gaza, incluindo avanços de veículos armados. Conforme o relato, no período da trégua, Israel “comprometeu-se a não atacar ou prender ninguém em Gaza”.

Haverá ainda salvo-conduto de refugiados ao longo da estrada Salah al-Din.

Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios intensos contra Gaza, em retaliação a uma ação surpresa do Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados.

São mais de 13 mil mortos em 45 dias, entre os quais 5.500 crianças e 3.500 mulheres, além de 30 mil feridos — cerca de 75% dos quais, crianças e mulheres.

Milhares de edifícios civis, incluindo bairros residenciais inteiros, hospitais, mesquitas, igrejas, escolas e abrigos, foram destruídos ou danificados. Milhares de pessoas estão desaparecidas sob os escombros — provavelmente mortas.

A Organização das Nações Unidas adverte para a catástrofe humanitária e reivindica um fluxo contínuo de assistência à população carente. Gaza vive um cerco militar israelense desde 2007, incorrendo em grave miséria que antecede 7 de outubro.

Israel, entretanto, intensificou o cerco — sem água, comida, energia elétrica e combustível. Ao promover sua campanha, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de palestinos em Gaza como “animais”.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

LEIA: Uma criança é morta a cada 10 minutos em Gaza

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