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Israel ordena palestinos da Cidade de Gaza que ‘fujam para o sul’

Palestinos sob intenso bombardeio israelense buscam zonas supostamente seguras no sul e centro da Faixa de Gaza, em 7 de novembro de 2023 [Mustafa Hassona/Agência Anadolu]

O exército israelense voltou a ordenar aos moradores da Cidade de Gaza que “fujam para o sul”, ao prometer salvo-conduto a pé através da rodovia Salahuddin, entre às 10 e 14 horas do horário local.

Na rede social X (Twitter), Avichay Adraee, porta-voz militar para o idioma árabe, declarou: “Hoje, mais uma vez, permitiremos passagem pela rodovia Salahuddin entre 10 e 14 horas. Para sua segurança, aproveitem a chance para viajar ao sul da Faixa de Gaza”.

Adraee anexou um vídeo de centenas de pessoas caminhando pela estrada, rendidas, com as mãos para o alto. Não há verificação independente do registro.

“Se vocês se importam consigo e com suas famílias, fujam para o sul conforme nossas instruções”, ameaçou o porta-voz israelense.

Nos últimos 30 dias, apesar de promessas de “salvo-conduto” — código para transferência compulsória da população civil — Israel alvejou reiteradamente as rotas de fuga utilizadas por pessoas deslocadas ao extremo sul da faixa costeira.

Em 13 de outubro, Israel ordenou que 1.2 milhão de residentes deixassem suas casas no norte de Gaza, ao ameaçar bombardeios, em detrimento da lei internacional.

Israel alega considerar aqueles que ficaram para trás — muitos dos quais impossibilitados de realizar a viagem — como “terroristas do Hamas”.

A retórica se alicerça em discursos de desumanização e demonização dos palestinos de Gaza — descritos como “animais” pelo ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ou “crianças das trevas”, pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Outras declarações de figuras governistas — incluindo ameaças de bombardeio atômico — demonstram intuito de perpetrar o crime de genocídio.

As notificações israelenses — na forma de folhetos que chovem junto às bombas sobre a população civil de Gaza — servem também para construir um suposto álibi aos crimes de guerra, uma vez que os ataques contra áreas civis perseveram.

Israel intensificou seus bombardeios contra o norte de Gaza e anunciou um cerco à cidade homônima nesta madrugada.

Netanyahu chegou a ameaçar expressamente ataques ao Hospital al-Shifa, maior centro de saúde do território palestino, ao disseminar montagens afirmando que o local abriga túneis utilizados pelo movimento Hamas. Suas declarações foram desmentidas.

A via de acesso a al-Shifa foi bombardeada por Israel na sexta-feira (3), deixando dezenas de feridos entre pacientes que tentavam viajar de ambulância à travessia de Rafah, na fronteira meridional com o Egito.

Nesta segunda-feira (6), aeronaves israelenses atacaram os painéis solares do complexo de saúde, última fonte de energia remanescente às operações locais, dado que as autoridades ocupantes impedem a entrada de combustível há mais de um mês.

Estima-se que al-Shifa e arredores abriguem até 50 mil pessoas, expulsas de suas casas, muitas das quais incapazes financeira ou fisicamente de seguir viagem.

Feridos, sobretudo crianças, se acumulam nos corredores de al-Shifa. Os médicos são forçados a realizar cirurgias no escuro, sem sequer anestesia.

Sob as regras da lei internacional, hospitais, escolas e abrigos devem ser protegidos em tempos de guerra, não importam as circunstâncias ou alegações.

As ações israelenses equivalem a crime de guerra, punição coletiva e genocídio.

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