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Turquia retira embaixador de Israel e corta contato com Netanyahu

Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, conversa com a imprensa após reunião de seu governo em Ancara, em 31 de outubro de 2023 [Muhammed Selim Korkutata/Agência Anadolu]

O governo da Turquia chamou de volta seu embaixador em Tel Aviv, Sakir Ozkan Torunlar, neste sábado (4) “em vista da tragédia humanitária em Gaza, causada pelos ininterruptos ataques de Israel contra civis e sua recusa a adotar um cessar-fogo e a permitir influxo de ajuda humanitária”, reportou o Ministério de Relações Exteriores em Ancara.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan anunciou ainda cortar toda a comunicação com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao responsabilizá-lo pessoalmente pelas mortes de civis.

“Netanyahu já não é mais um homem com quem podemos conversar”, afirmou Erdogan à imprensa. “Retiramos seu nome da lista”.

As decisões foram divulgadas na véspera do que promete ser uma difícil visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, à Turquia. O chanceler americano pousa em Ancara neste domingo (5), em meio a uma turnê no Oriente Médio.

Blinken se reuniu com homólogos árabes em Amã, capital da Jordânia, na manhã de sábado, após visitar Israel no dia anterior. Sua viagem não deu frutos até então. Ao mitigar a retórica de seu governo, Blinken pediu maior proteção a civis; contudo, sem aval.

A Casa Branca sofre pressão doméstica e internacional para pressionar um cessar-fogo, após semanas de declarações inflamatórias do presidente Joe Biden.

A Turquia parecia se aproximar de Israel nos últimos meses, mas os contatos descarrilaram devido à ofensiva israelense a Gaza, em retaliação a uma operação de resistência do grupo Hamas, em 7 de outubro, que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados.

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No ano passado, Israel e Turquia concordaram em renomear embaixadores às capitais, após uma década de relações suspensas. Havia ainda discussões a um projeto de gás natural com apoio de Washington, que formariam o alicerce a uma cooperação íntima.

Israel já havia retirado todos os diplomatas da Turquia e de outros países regionais sob o pretexto de “precaução de segurança”. A chancelaria ocupante alegou na última semana “reavaliar” as relações com Ancara por sua oposição aos ataques a Gaza.

A Turquia se junta a vários países que removeram seus emissários de Tel Aviv em protesto ao genocídio em Gaza, como Chile, Colômbia, Jordânia e Bahrein. O revés barenita representa o primeiro golpe aos chamados Acordos de Abraão, que normalizaram laços entre a ocupação e Estados árabes em 2020.

A conjuntura também impediu a normalização de relações entre Israel e Arábia Saudita.

Em Gaza, foram mortos 9.488 palestinos até então, entre os quais 3.826 crianças e 2.405 mulheres. Ao menos 30 mil pessoas ficaram feridas, além de 2.200 desaparecidos sob os escombros, dos quais 1.250 crianças.

As ações israelenses equivalem a punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

Protestos e passos lentos

Erdogan alegou neste sábado, no entanto, que seu governo não pode arcar com a ruptura completa de contatos diplomáticos com Israel. Segundo o presidente, Ibrahim Kalin, chefe da inteligência turca, está incumbido da mediação do conflito.

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“Kalin está falando com o lado israelense. É claro, também está negociando com a Palestina e o Hamas”, reiterou Erdogan.

Não obstante, apontou culpa a Netanyahu, ao observar que o premiê “perdeu o apoio de seus próprios cidadãos”.

“O que ele precisa fazer é dar um passo atrás e parar com isso”, comentou o presidente, uma semana após encabeçar um enorme protesto em Istambul durante o qual denunciou Tel Aviv por crimes de guerra para tentar “erradicar” o povo palestino.

Neste contexto de protestos, a Fundação de Ajuda Humanitária IHH convocou uma marcha e uma carreata à base militar de Incirlik, no sudeste da Turquia — quartel e arsenal a soldados americanos. O ato, partindo de Istambul, deve chegar a seu destino no domingo (5).

Manifestações voltadas a interromper o fluxo de armas a Israel também tomaram o mundo, como a recusa de conduzir carregamentos por sindicatos na Bélgica e protestos no porto de Oakland, nos Estados Unidos, que interromperam as operações.

O IHH foi fundado para prestar socorro aos bósnios muçulmanos durante o genocídio em Srebrenica, cujos números foram superados pelo atual massacre a Gaza.

O grupo ganhou notoriedade ao mobilizar uma flotilha assistencial a Gaza, em 2010, atacada por comandos israelenses em águas internacionais — isto é, crime de pirataria —, deixando dez mortos entre a tripulação.

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