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Guerra na Síria passa pelo pior momento em quatro anos, afirma relator especial

Moradores passam pelos escombros de edifícios desabados em Harém, na Síria, após o terremoto de fevereiro de 2023 [ PMA ]

A Síria passa pelo maior aumento de violência nos últimos quatro anos. A afirmação é do presidente da Comissão Independente de Inquérito da Síria, Paulo Pinheiro.

Ao apresentar seu informe na Terceira Comissão da Assembleia-Geral da ONU, nesta terça-feira, ele afirmou que a falta de respeito pelo direito humanitário internacional na Síria “corroeu a própria essência do sistema de proteção internacional” e estamos vendo atualmente os resultados disso em outros conflitos.

Conexões com a crise em Israel-Gaza

Em entrevista para a ONU News, Pinheiro comentou as conexões entre o conflito na Síria e a recente escalada da violência entre Israel e Gaza, apesar de não as considerar “automáticas.”

“Há um nexo que Israel bombardeou já duas vezes dois locais essenciais para a chegada da ajuda humanitária que é o aeroporto de Damasco e o aeroporto de Alepo. Isso no contexto direto, sob alegações de que foguetes ou mísseis, tenham sido lançados do território da Síria.”

Além disso, o especialista mencionou também a presença na Síria do grupo Hezbollah, uma “força política e militar no Líbano” que também possui relações de tensão e conflito com Israel.

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De acordo com Pinheiro, a complexidade do conflito sírio e o envolvimento de diversos Estados explica em parte a dificuldade de uma solução diplomática nos últimos 12 anos.

Cinco exércitos atuando na Síria

“Na verdade, é um conflito intensamente internacionalizado. Não só pelo governo e pelos aliados do governo, como a Federação Russa, mas os grupos não-estatais armados, por trás deles ou ao lado deles há Estados-membros apoiando. É preciso levar em conta que na verdade tem cinco exércitos atuando na Síria. Tem o próprio governo sírio, tem os Estados Unidos e a coalizão, mais ativa um pouco antes desses quatro anos. Tem a Federação Russa. Tem milícias do Irã e tem efetivos do Hezbollah. Ou seja, a situação na Síria é complicada não só no teatro de operações, como no envolvimento da comunidade internacional.”

Ele destacou que todos os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas tiveram envolvimento direto no conflito na Síria, com exceção da China.

Sobre a população civil, o presidente da Comissão independente ressaltou que existem 7 milhões de refugiados e 6 milhões de deslocados internos, dentre os quais 90% vivem abaixo da linha da pobreza. Ele afirmou que es necessidades humanitárias estão presentes em todo o país.

Instabilidade na ajuda humanitária

As operações de ajuda são realizadas por meio de passagem na fronteira. Pinheiro afirmou que, no momento, duas estão “funcionando bem, graças ao consentimento da Síria”.

Ele afirmou que a ajuda humanitária para os sírios não pode ficar dependente de resoluções do Conselho de Segurança, marcado por divisões entre seus membros.

Pinheiro destacou que a falta de proteção para a população civil está presente não só na Síria, mas em várias crises internacionais e que o mundo passa por um “momento de retrocesso” neste tema.

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O especialista mencionou ainda os esforços da Comissão para se adaptar à “complexidade crescente da crise”. Segundo ele, esta é a única comissão a permanecer ativa por 12 anos.

Algumas das conquistas apontadas foram a incorporação de temas humanitários na agenda de trabalho e a negociação bem-sucedida para a criação de um mecanismo para responder ao problema de pessoas desaparecidas, que está em vias de implementação.

Publicado originalmente em ONU News

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