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Mortes em Gaza superam genocídio em Srebrenica, alerta Monitor Euromediterrâneo

Palestinos feridos pelos bombardeios israelenses levados ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, em 26 de outubro de 2023 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

O número de mortos ou desaparecidos sob os escombros — provavelmente mortos — na Faixa de Gaza sitiada, sob bombardeios israelenses sem precedentes, excedeu o índice de mortos no genocídio de Srebrenica, reiterou nesta quarta-feira (25) o Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo.

O número de óbitos confirmados pelos ataques aéreos israelenses desde 7 de outubro chegou a 7.028 vítimas — incluindo 2.913 crianças. Estima-se ao menos 1.755 pessoas desaparecidas sob os escombros, observou a ong.

Segundo o fórum, o que acontece hoje em Gaza é uma memória lúgubre do genocídio em Srebrenica, contra bósnios muçulmanos, entre 11 e 22 de julho de 1995, considerado um dos piores massacres do continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

Na ocasião, ataques de forças paramilitares sérvias sobre a cidade de Srebrenica mataram ao menos 8.372 pessoas, incluindo idosos e adolescentes.

As ações de Israel, advertiu o Monitor Euromediterrâneo, sugerem uma campanha de total aniquilação sob o pretexto de retaliação a uma população inteira — isto é, punição coletiva — disparando artilharia pesada sobre áreas densamente povoadas, residências habitadas e aglomerações civis.

O número de baixas entre civis, reiterou o grupo, excedeu todas as ofensivas militares anteriores contra a Faixa de Gaza.

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Os ataques israelenses são acompanhados por um cerco absoluto aos 2.4 milhões de palestinos no território litorâneo, sem energia elétrica, água, comida, combustível ou socorro humanitário.

O Monitor Euromediterrâneo alertou ainda para o risco iminente de uma catástrofe completa.

Ao promover suas ações de punição coletiva, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, recorreu a uma retórica desumanizante, ao descrever os palestinos como “animais”.

Os blecautes e a escassez de combustível para geradores implica no colapso do sistema de saúde, observou o fórum, ao reafirmar que a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) alertou para o fim de suas operações a partir desta quinta-feira (26) caso Israel não permitisse a entrada de insumos às áreas afetadas.

Há também apreensão sobre a possibilidade de epidemias, ao passo que os sobreviventes são forçados a beber água contaminada. Instalações de higiene nos abrigos improvisados são bastante limitadas.

Centros de primeiros-socorros já confirmam dezenas de casos de catapora e outras doenças devido à superlotação dos abrigos, falta de água potável e devastação da estrutura sanitária no território sitiado.

A insegurança alimentar impõe ameaça de desnutrição severa a crianças e mulheres — em particular, grávidas e mães que amamentam —, ao tornar seus sistemas imunológicos mais suscetíveis a doenças relacionadas a anemia e hipertensão, prosseguiu o fórum.

O comunicado se encerra com um apelo à comunidade internacional para agir de maneira eficaz em favor de um cessar-fogo, para interromper a campanha de fome e genocídio em curso na Faixa de Gaza, que levará a uma catástrofe sem precedentes no século XXI.

‘Erro de julgamento’ e justiça internacional

Em abril de 1993, no contexto da guerra dos Balcãs, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou a região de Srebrenica, na atual Bósnia e Herzegovina, como área segura. As tropas de paz, porém, não conseguiram desmilitarizar a área tampouco impedir o massacre.

Em 2004, por unanimidade, a câmara de apelações do Tribunal Penal Internacional, radicado em Haia, composta especificamente para o caso da antiga Iugoslávia, definiu como genocídio o incidente em Srebrenica, como crime sob jurisdição internacional.

Em 2007, o Tribunal Internacional de Justiça corroborou o veredito. A transferência forçada de cerca de 30 mil cidadãos bósnios também foram considerados como parte dos esforços de genocídio — em Gaza, a título de comparação, os índices de deslocados superam a casa do milhão, ao incidir a metade da população.

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Em 2005, após dez anos do genocídio em Srebrenica, o então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, escreveu que “embora a culpa repouse, em primeiro lugar, naqueles que planejaram e realizaram o massacre, e aqueles que auxiliaram os assassinos, a ONU cometeu sérios erros de julgamento enraizados em uma política de imparcialidade”.

Para Annan, o massacre contra a população bósnia seria uma tragédia a assombrar para sempre as Nações Unidas.

Ratko Mladic, chefe do exército sérvio na ocasião do genocídio, ficou 15 anos foragido após Haia emitir um mandado de prisão por seus crimes de guerra e lesa-humanidade. Em 2011, foi finalmente preso na Sérvia. Em 2017, foi condenado à prisão perpétua.

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