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Soldados israelenses vendam, espancam e tentam estuprar palestinos na Cisjordânia

Forças israelenses prendem palestinos durante ataques ao campo de refugiados de al Am’ari, na região de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, em 15 de outubro de 2023 [Issam Rimawi/Agência Anadolu]

Um grupo de colonos e soldados israelenses cometeu uma série de agressões brutais contra três palestinos na Cisjordânia ocupada, confirmaram os jornais Haaretz e Times of Israel. As vítimas foram submetidas a horas de tortura no dia 12 de outubro.

Os agressores espancaram, despiram, algemaram e fotografaram as vítimas. Além disso, urinaram em duas das vítimas e apagaram cigarros em seus corpos. Um agressor tentou sodomizar uma das vítimas.

O exército israelense alegou dar início a um inquérito interno sobre o incidente. Um comandante envolvido foi destituído do cargo.

O abuso ocorreu na aldeia palestina de Wadi al-Seeq, situada a leste de Ramallah, que vive uma violenta escalada nos ataques coloniais contra pastores nativos, levando à expulsão da maioria da população nas últimas semanas.

Segundo o Haaretz, na manhã de 12 de outubro, alguns residentes palestinos, junto de um grupo de ativistas israelenses e dois ativistas de Ramallah, se preparavam para sair da área quando uma caminhonete com 20 a 25 colonos em uniforme militar os abordou.

Muhammad Mattar (46) virou rapidamente seu veículo em busca de uma rota alternativa e contactou o escritório da Autoridade Palestina incumbido de dialogar com a ocupação, com intuito de reportar o ataque.

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Mattar e Muhammad Khaled (27) tiveram o caminho obstruído e foram removidos à força de seus assentos. Os colonos procederam ao pressionar suas cabeças contra a terra, chutá-los e atar suas mãos.

Os ativistas palestinos reconheceram alguns dos agressores como colonos radicados nos postos avançados coloniais próximos à aldeia — ilegais segundo o direito internacional e mesmo sob a lei israelense.

Mattar observou que os colonos, ao revistar sua mochila, plantaram facas para justificar o ataque. Mattar insistiu que não haveria lógica contactar as autoridades caso estivesse em posse de itens que certamente levariam a sua prisão.

Os colonos uniformizados então deram voz de prisão às vítimas, ao alegarem que agentes do Shin Bet — serviço de inteligência doméstica do Estado de  Israel — estariam a caminho para interrogá-los.

Segundo Khaled, uma caminhonete ostentando uma Estrela de Davi trouxe seis a oito soldados supostamente ligados ao Shin Bet.

Mattar e Khaled foram levados a uma estrutura abandonada e vendados. Um soldado rasgou suas roupas com uma faca, deixando-os somente de cuecas, e ordenou que se prostrassem para torturá-los.

Os agressores espancaram ambos com um cano de ferro, com golpes em todo o corpo e na cabeça; queimaram Khaled com cigarros e tentaram extrair suas unhas.

Mattar observou que os soldados insistiam em incriminá-lo com a posse das facas. A tortura seguiu com tentativas de afogamento e mesmo com os soldados urinando sobre ambos. Um agressor tentou investir sexualmente contra as vítimas, mas parou ao encontrar resistência.

Após seis horas de abuso, ambos foram removidos do local e jogados com violência sobre o chão. Um colono os fotografou e compartilhou a imagem em um grupo ultranacionalista do Facebook, com a ameaça: “Um alerta à infiltração de terroristas na fazenda Ben Fazi, perto de Kochav HaShahar. Nossas tropas pegaram os terroristas”.

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A postagem foi apagada mais tarde, após ativistas e jornalistas árabes denunciarem o episódio. Na imagem, outra vítima, desconhecida a Mattar e Khaled, então vendados, também estava presente.

A terceira pessoa, residente de Wadi al-Seeq, preferiu identificar-se apenas como Majed, reportou ao Haaretz ter sido sequestrado em sua própria casa pelos colonos. A agressão tomou também residências vizinhas, forçando as famílias a fugir do local.

Majed sofreu espancamento nas mãos antes e teve seus pertences roubados.

Apesar das alegações de portarem facas, nem Mattar nem as outras duas vítimas foram presas ou interrogadas em caráter oficial.

Ao contrário, a Administração Civil de Israel, na tentativa de encobrir o escândalo, pediu uma ambulância para transferi-los a um hospital. Mattar ficou internado por uma noite; Khaled e Majed passaram duas noites em observação. Neste entremeio, seus celulares, veículos e cartões foram confiscados pelas forças da ocupação.

Cinco ativistas israelenses detidos na área de Qadi al-Seeq, testemunhas do sequestro dos palestinos, foram eventualmente liberados. Os colonos lhes insistiram que tiveram “sorte” em não serem também agredidos.

Uma semana após o trauma, Mattar relatou ao Haaretz que os agressores queriam emitir duas mensagens: “A primeira, que os colonos perderam a cabeça com o que aconteceu na cerca de Gaza; a segunda, que nós, árabes, não devemos ousar mexer com eles”.

“Eu disse a eles que me opunha ao Hamas e à Jihad Islâmica, mas eles não ligaram. Disseram que todos os árabes são lixo e que devemos ser enviados para a Jordânia. Você já ouviu falar da prisão de Abu Ghraib no Iraque? É exatamente igual àquilo”.

O exército israelense divulgou uma nota fria sobre o caso: “Tropas capturaram os suspeitos com uma faca e um machado, após revistá-los. A forma com que a prisão foi conduzida e o uso da força em campo contradiz o que se espera dos soldados e comandantes do exército israelense. O incidente está sob investigação do alto comando, mas discrepâncias surgiram dos relatos”.

“Devido à gravidade das suspeitas, foi aberto um Inquérito Policial Militar”, acrescentou.

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Não há expectativa de qualquer sanção aos agressores, ao contrário da violência política imposta aos palestinos, incluindo crianças condenadas a anos de prisão por atirar pedras contra os tanques de guerra da ocupação.

A Cisjordânia vive uma escalada de agressões coloniais a meses, incluindo pogroms contra aldeias palestinas. A crise se intensificou ainda mais após 7 de outubro, após Israel retaliar com brutalidade a uma ação de resistência do grupo Hamas, que cruzou a fronteira entre Gaza e o território designado Israel — isto é, ocupado mediante limpeza étnica, durante a Nakba ou “catástrofe”, em 1948.

A operação de resistência decorreu de meses de violações em Jerusalém e na Cisjordânia ocupada, além de 17 anos de cerco militar contra a Faixa de Gaza.

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