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Gaza: “Sem eletricidade, muitos pacientes morrerão”

Em quatro questões, Guillemette Thomas, coordenadora-médica de MSF na Palestina, explica atual situação do sistema de saúde em Gaza.
Aviões de guerra israelenses atacaram a mesquita Al-Sousi, na cidade de Gaza, em 9 de outubro de 2023. [Mohammed Asad/Monitor do Oriente Médio]

As poucas instalações médicas que ainda funcionam no norte de Gaza estão sob uma pressão inimaginável. Muitos profissionais de saúde foram forçados a fugir para o sul, pois os ataques israelenses são implacáveis. A equipe restante tem que lidar com o acesso restrito à eletricidade e à água, em um contexto de cerco. Guillemette Thomas, coordenadora-médica de Médicos Sem Fronteiras (MSF) para a Palestina, baseada em Jerusalém, faz uma atualização sobre a situação atual.

Qual é a situação dos hospitais de Gaza?

Desde a ordem de evacuação emitida pelas autoridades israelenses, que forçou mais de um milhão de habitantes a se deslocarem para o sul da Faixa de Gaza, as pessoas foram obrigadas a tomar decisões extremamente difíceis entre ficar e sair. Para os profissionais de saúde, isso significou a escolha entre deixar para trás seus pacientes em uma morte quase certa ou ficar e arriscar suas próprias vidas.

Alguns ficaram e continuaram a trabalhar, apesar dos riscos. Estamos em contato com alguns de nossos colegas que estão apoiando as equipes do Ministério da Saúde, especialmente no Hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza, onde MSF prestou atendimento a vítimas de queimaduras durante anos. Hoje, a equipe médica enfrenta a mesma realidade do resto dos habitantes de Gaza: eles têm sido constantemente bombardeados nos últimos 10 dias. Nossos colegas nos dizem quemuitos médicos e outros profissionais de saúde morreram desde o início da ofensiva israelense.

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Eles relatam que entre 800 e 1.000 pessoas são feridas todos os dias na Faixa de Gaza, mas esse número inclui apenas aquelas que conseguem chegar a um hospital. Como o acesso às instalações de saúde é extremamente perigoso e complicado pela falta de combustível, somente os pacientes mais graves procuram atendimento hospitalar. Desde o início do conflito, mais de 9.700 pessoas ficaram feridas. Acredito que essas pessoas correm sério risco de morrer nas próximas horas, porque está se tornando impossível conseguir atendimento médico.

O sistema de saúde ainda está funcionando em Gaza?

Já estamos testemunhando o colapso do atendimento ao paciente. A equipe médica não consegue mais tratar as pessoas ou admitir novos pacientes adequadamente. Tudo está sendo feito em condições extremamente precárias, com falta de pessoal, medicamentos e equipamentos médicos. Há um fluxo constante de pessoas gravemente feridas, com ferimentos traumáticos complexos, queimaduras, fraturas e membros esmagados.

O Hospital Al-Shifa, o principal hospital de Gaza, agora abriga milhares de pessoas que foram para lá em busca de proteção contra os constantes bombardeios. Enquanto Gaza está na escuridão, Al-Shifa é um dos poucos lugares que ainda têm eletricidade, embora o combustível só dure mais 24 horas, no máximo.

Em suma, sem eletricidade, muitos pacientes morrerão, especialmente aqueles em tratamento intensivo, neonatologia e em aparelhos de suporte respiratório. Pacientes com doenças crônicas, como diabetes e câncer, e mulheres grávidas também correm risco, por causa da escassez geral de medicamentos.

Publicado originalmente em MSF

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