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Guarda de fronteira saudita mata centenas de refugiados etíopes, reporta HRW

Refugiados africanos rumo à Arábia Saudita, em uma estrada do Iêmen, em 17 de junho de 2023 [Mohammed Hamoud/Getty Images]

O Human Rights Watch (HRW) denunciou a guarda de fronteira saudita por disparar “armas explosivas” contra refugiados da Etiópia que tentavam atravessar o território do Iêmen rumo ao opulento Estado do Golfo, matando centenas de pessoas entre março de 2022 e junho de 2023.

O relatório foi emitido em inglês nesta segunda-feira (21), de autoria da pesquisadora Nadia Hardman, da Divisão de Direitos dos Migrantes e Refugiados do HRW.

Riad não comentou as acusações até então.

As denúncias, no entanto, indicam escalada das violações na perigosa “Rota do Oriente”, que sai de países do chamado Chifre da África em direção ao reino.

“Nos últimos anos, a Arábia Saudita investiu pesadamente em ações para desviar atenção de seu histórico hediondo de direitos humanos, tanto em casa quanto no exterior, ao distribuir bilhões de dólares a eventos de cultura, entretenimento e esportes”, comentou Hardman.

A organização de direitos humanos documenta assassinato de migrantes na fronteira entre Iêmen e Arábia Saudita desde 2014; porém, “as mortes registradas neste relatório parecem retratar uma escalada deliberada tanto em número quanto em método”.

Segundo o documento, há uma “mudança nos padrões de abuso de prática aparentemente ocasional de ataques a tiros e detenções coletivas a execuções endêmicas e generalizadas”. As violações – como política de Estado contra civis – equivalem a crime de lesa-humanidade, reiterou a denúncia.

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Nos primeiros quatro meses de 2022, especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) registraram “denúncias perturbadoras de disparos de artilharia e armamentos de pequeno porte por agentes de segurança saudita, que deixaram 430 mortos e 650 feridos, dentre os quais refugiados e requerentes de asilo”.

O Human Rights Watch encaminhou cartas aos Ministérios do Interior e da Defesa da Arábia Saudita, além da Comissão de Direitos Humanos da monarquia e do regime houthi no norte do Iêmen; no entanto, não recebeu resposta.

Em 2015, a Arábia Saudita reuniu uma coalizão militar para destituir os houthis e restaurar o governo aliado, após o grupo rebelde – ligado a Teerã – capturar grande parte do território iemenita, incluindo a capital Sanaa, no ano anterior.

A guerra no Iêmen é descrita pela ONU como uma das piores crises humanitárias do mundo.

Não obstante, parte das violações citadas pelo novo relatório podem ter ocorrido durante a trégua, a partir de abril de 2022 – de maneira geral, ainda vigente, mesmo após expirar em outubro passado.

O Human Rights Watch embasou seu documento em entrevistas com 38 refugiados etíopes que tentaram cruzar a fronteira, além de imagens de satélite, fotografias e vídeos postados nas redes sociais ou coletados de outras fontes.

Vinte e oito entrevistados corroboraram relatos de “armas explosivas”, incluindo morteiros. Outros relatos abarcam ataques à queima roupa, incluindo incidentes nos quais agentes do reino perguntaram às vítimas: “Em qual membro prefere que eu atire?”

“São cenas de horror”, reafirmou o texto. “Homens, mulheres e crianças dispersos em uma paisagem montanhosa, gravemente feridos, mutilados ou mortos”.

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Uma mulher de 20 anos da região de Oromia, na Etiópia, reportou que guardas de fronteira abriram fogo contra um grupo de imigrantes recém liberados de custódia.

“Era uma chuva de balas. Só de lembrar eu choro”, relatou a cidadã. “Eu vi um homem pedir socorro, havia perdido as duas pernas. Ele gritava: ‘Vocês vão me deixar aqui? Por favor, não me deixem’. Não podíamos ajudar porque estávamos tentando salvar as nossas vidas”.

O Human Rights Watch instou a Arábia Saudita a “revogar urgentemente qualquer política, seja explícita ou de facto, que alveje refugiados civis com armamentos explosivos ou ataques à queima roupa na fronteira com o Iêmen”.

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