Rússia sugere fim do acordo de grãos do Mar Negro em julho, reforça demandas

A Rússia reiterou nesta quinta-feira (25) que, caso demandas para ampliar exportações de grãos e fertilizantes não sejam cumpridas, não pretende estender o acordo de salvo-conduto a remessas de alimentos e insumos via três portos ucranianos no Mar Negro.

As informações são da agência de notícias Reuters.

O acordo – firmado entre Rússia, Ucrânia e mediado Turquia e Organização das Nações Unidas (ONU), em julho de 2022 – expira em 17 de julho próximo. O objetivo é atenuar a crise alimentar global, agravada pela invasão russa sobre o país vizinho.

A guerra é travada desde fevereiro do ano passado, sem qualquer solução política no horizonte. Ucrânia e Rússia são dois dos maiores exportadores de bens agrícolas do mundo, sobretudo trigo, com destino particular a países carentes no Oriente Médio e na África.

Moscou faz as mesmas ameaças desde março, mas concordou, na semana passada, em renovar o pacto por 60 dias.

Desde então, o Kremlin parece priorizar duas demandas: reiniciar as operações de um gasoduto que exporta amônia via porto ucraniano de Pivdennyi, com destino aos mercados globais; e reconectar seu banco agrícola (Rosselkhozbank) ao sistema internacional Swift.

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“Caso o Rosselkhozbank não seja vinculado ao Swift e não haja progresso na implementação de outros problemas sistêmicos que obstruem nossas exportações, a Iniciativa do Mar Negro também terá de buscar por alternativas”, advertiu a chancelaria russa.

Moscou sugeriu exportações por terra, via Europa, como alternativa, mas reiterou que se trata de um processo muito mais oneroso à Ucrânia.

O Rosselkhozbank foi suspenso do Swift pela União Europeia em junho, como parte das sanções contra a invasão da Rússia ao território ucraniano. Recentemente, um porta-voz da União Europeia admitiu que o bloco não considera reintegrar instituições russas na atual conjuntura.

Gasoduto de amônia

Para tentar persuadir a Rússia a permitir que o mercado ucraniano retomasse suas exportações de grãos no Mar Negro, no mesmo mês de julho, foi firmado um outro acordo de três anos conforme o qual a Organização das Nações Unidas (ONU) prestaria assistência ao Kremlin para realizar suas remessas de insumos alimentares e fertilizantes.

Sob o pacto – como opção ao retorno do Rosselkhozbank ao sistema Swift –, o banco americano JPMorgan Chase & Co, passou a processar os pagamentos pela exportação de grãos. Há promessas de que dezenas de novos empreendimentos entrem nesta estrutura.

O regime russo, no entanto, descarta a medida como ineficaz a longo prazo.

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As Nações Unidas trabalham com o Banco de Importação-exportação da África (Afreximbank) para desenvolver uma plataforma para processar as transações da Rússia sobre grãos e fertilizantes no continente, revelou uma fonte da entidade internacional na quarta-feira (24).

O acordo do Mar Negro também permite exportação segura de amônia. Contudo, o gasoduto usado para transportar 2.5 milhões de toneladas de amônia anualmente, entre o porto ucraniano de Pivdennyi e a cidade russa de Togliatti permanece inoperante.

Uma fonte do governo ucraniano destacou à Reuters, na última sexta-feira (19), que Kiev avalia permitir à Rússia transportar amônia via seu território caso o pacto do Mar Negro seja extendido não somente cronologicamente, mas também a outros portos e commodities.

Segundo o relato, o texto do acordo não prevê o trânsito de amônia russa via Ucrânia. “O envio de amônia, assim como a entrega de novas porções de grãos, embora não esteja escrito literalmente, está pressuposto na lógica do acordo”, contestou Moscou.

“Por que alimentos ucranianos continuam a ser exportados com êxito e a amônia russa permanece impedida de passar pelo porto de Yuzhny [Pivdennyi]?”, questionou.

Moscou também se queixou que não houve progresso em outros tópicos, como fim do embargo a máquinas e componentes agrícolas, suspensão das restrições sobre seguro e acesso de embarcações e cargas e desbloqueio de contas bancárias, sobretudo de empresas exportadoras de fertilizantes.

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