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Das páginas da história palestina – Abu Ibrahim al-Kabir

Na história da Palestina existem muitos grandes líderes que sacrificaram tudo para defender sua terra e sua causa. No entanto, sabemos muito pouco sobre eles e sua história quase esquecida. É claro, há muitas razões para isso: ignorância, indiferença e negligência das autoridades responsáveis. Infelizmente, em alguns casos, tamanha negligência é deliberada. Por décadas, a história de sua luta desapareceu das páginas dos livros e não obteve seus direitos de divulgação na imprensa. Portanto, como pesquisadores e profissionais de mídia, temos o dever de estudar e pesquisar a biografia desses heróis para transmitir seu legado às novas gerações e erguer um farol para a libertação da Palestina.

(Episódio 7)

Abu Ibrahim al-Kabir

O nome de Abu Ibrahim al-Kabir está associado na memória nacional à biografia do sheikh Izz al-Din al-Qassam. A luta de al-Kabir trespassou a Grande Revolução Palestina, contra o Mandato Britânico, entre 1936 e 1939, e a resistência armada contra o movimento sionista durante a Nakba – ou “catástrofe”, quando foi criado o Estado de Israel, mediante limpeza étnica, em 1948. Durante este período, al-Kabir trabalhou incansavelmente para organizar as fileiras da resistência nacional.

Khalil Muhammad Issa Ejak – posteriormente conhecido como Abu Ibrahim al-Kabir – nasceu na cidade de Al-Mazra’a ash-Sharqiya, a nordeste de Ramallah, no final do século XIX, em uma família de agricultores. Quando tinha cinco anos, mudou-se com os pais para Haifa e então para Shefa-’Amr. Durante a Primeira Guerra Mundial, sua família sofreu com dificuldades financeiras e de saúde. Aos vinte anos, al-Kabir retornou a Haifa, onde trabalhou nos correios antes de abrir uma loja de lã e grãos.

A influência islâmica de al-Kabir foi fundamental para seu compromisso com a linha revolucionária armada. Em suas memórias, justificou sua filiação às atividades de resistência, ao afirmar: “Eu tinha uma velha ideia de que o dever de todo árabe muçulmano é defender sua terra e sua nação. Então, quando adveio a revolução síria contra os franceses, decidi participar, pois não vejo diferença entre o Líbano e a Síria; são todos países árabes. Na cidade de Haifa, tínhamos um sheikh chamado Ismail al-Naqshbandi, nascido na Síria, com origem curda, que estudou em al-Azhar. Fui até ele e expressei meu desejo de me juntar à revolução em seu país”.

Al-Kabir conheceu o sheikh Izz al-Din al-Qassam em Haifa, em 1927, e se tornou um de seus seguidores. Dentro de um ano, ambos debatiam fervorosamente a necessidade de resistência armada contra a ocupação britânica e as gangues sionistas. Al-Kabir contribuiu para fundar assim a primeira organização revolucionária armada na Palestina ocupada, então denominada Liga Qassam. O caráter pioneiro desta organização deu-se pelo diferencial de sua referência ideológica, sua estrutura organizacional, seu plano de ação e a influência de liderança e seus correligionários – alguns dos quais, com experiência de batalha.

Al-Kabir treinou ao lado de al-Qassam e seus irmãos da resistência; trabalhou para obter armas e planejar operações, incluindo na realização de 25 ataques a posições sionistas e britânicas no período entre 1931 e 1934. Suas ofensivas causaram baixas eminentes nas fileiras do inimigo, mas a ocupação respondeu ao prendê-lo junto de alguns companheiros. Nove meses depois, no entanto, reconquistou sua liberdade.

Al-Kabir foi um dos líderes da Grande Revolução Palestina, entre 1936 e 1939. Comandou a resistência no norte do território, então conhecido como Galileia. Travou diversas batalhas e tornou-se conhecido por manter a disciplina, eficácia e consciência dentre os combatentes revolucionários. Al-Kabir e suas forças foram vitoriosos em diversas batalhas. Em resposta, as autoridades coloniais da Grã-Bretanha impuseram uma recompensa de 500 libras sobre sua captura – na época, uma verdadeira fortuna. Contudo, o líder palestino conseguiu escapar por anos e deixou sua terra somente após o fim da revolução.

Sua experiência de campo não se limitou à Palestina. Al-Kabir também participou da Revolução de Rashid Ali al-Gaylani contra o colonialismo britânico no Iraque, em 1941. Sua filiação à linha de pensamento de Hajj Amin al-Husseini foi possivelmente um fator crucial para adotar uma noção abrangente de resistência árabe-islâmica. Neste entremeio, al-Kabir fez cursos militares na Grécia e na Alemanha e se formou como oficial de duas estrelas.

Retornou à Palestina e se junto ao chamado Exército da Salvação, ao reaver o comando regional da Galileia. Travou diversas batalhas contra as gangues sionistas e não hesitou em prosseguir com sua luta armada após a Nakba. Participou do planejamento e da execução de operações qualitativas no interior do território ocupado. Sua ideologia de batalha era similar a de muitos revolucionários: prosseguir com suas atividades sem interrupção, até que as terras ocupadas fossem libertadas ou até o martírio.

Após a Nakba, não obstante, sob persistente perseguição sionista, exilou-se na capital jordaniana Amã, onde abriu uma pequena loja de couro e lã. Suas memórias foram publicadas em livro (em tradução literal, “As memórias de Abu Ibrahim, o Grande”). Abu Ibrahim al-Kabir faleceu e foi sepultado na diáspora, na cidade de Amã, em 1979.

LEIA: Das páginas da história palestina – Sheikh Yassin al-Bakri

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